UFF atua com jovens do Preventório na prevenção ao uso de drogas

UFF focada na prevenção

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE (https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97870.pdf) de 2016, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumentou o número de estudantes do ensino fundamental, entre 13 e 15 anos, que já usaram algum tipo de droga. O consumo de drogas lícitas, como álcool e cigarro, subiu de 50,3%, em 2012, para 55,5% em 2015. Já o consumo de drogas ilícitas, como maconha, crack, cocaína, cola, loló, lança-perfume, ecstasy, etc., aumentou de 7,3% para 9% no mesmo período. 

A iniciativa, que teve início no segundo semestre de 2017, conta com a participação de alunos do quarto período de Medicina, que promovem atividades de conscientização e prevenção ao uso de drogas entre os estudantes do sexto, sétimo e nono anos do segundo segmento do ensino fundamental - entre 11 e 16 anos de idade - no Colégio Estadual Maria Pereira das Neves, localizado na comunidade do Preventório, em Niterói,

Agir na prevenção da doença, e não apenas no combate, é inteligente, funcional e mais econômico", Thiago Gomes, estudante de Medicina.

Segundo o professor do departamento de Planejamento em Saúde, Carlos Dimas, a atividade é feita dentro de uma disciplina, chamada “Trabalho de Campo Supervisionado II”, ministrada no segundo ano do curso de Medicina. O objetivo é inserir os alunos nas unidades básicas de saúde (UBS), de modo que possam vivenciar e refletir sobre esse segmento do sistema de saúde. Assim sendo, eles acompanham os profissionais da área no seu processo de trabalho, conhecem a comunidade onde a unidade se situa e desenvolvem atividades assistenciais. “As turmas são divididas em pequenos grupos, que são inseridos em várias unidades de Niterói, entre elas, o Preventório”, relata.

O professor explica que existe formalmente um projeto de extensão há mais de dez anos chamado “Diversificação de Cenário de Aprendizagem - a integração ensino-serviço e sociedade”, em que várias disciplinas estão inseridas, mas a atividade de prevenção ao uso de drogas no Preventório foi realizada pela primeira vez neste semestre. “É como se fosse um guarda-chuva, e em cada ponta dele está um tipo de trabalho e atividade que varia de acordo com a necessidade do público atendido. A demanda veio através da diretora de um colégio que estava dentro da comunidade e precisava de orientação nessa área, então aceitamos”, justifica.

Para a aluna Uinalaiã Latessa, o intuito da atividade é integrar a unidade de saúde, a escola, a comunidade e a universidade. “Todo trabalho acontece dentro do colégio. Os profissionais das UBS vão até o local para dar assistência aos adolescentes no horário escolar, evitando assim a evasão. Se o adolescente tivesse que ir até a unidade de saúde, o projeto não teria a adesão que tem hoje”, ressalta.

A atividade no Preventório é realizada por sete alunos do curso de Medicina, que atualmente atendem quase 100 alunos da rede pública. “São seis turmas, cada uma com em torno de 25 jovens. Cada roda de conversa conta com cerca de 15 estudantes do sexto, sétimo e nono ano”, destaca o professor.

Carlos Dimas explica que ao todo, o projeto de extensão conta com aproximadamente 90 alunos de Medicina do 3º e 4º período. Esses alunos são divididos em pequenas equipes de, no máximo, dez alunos para cada professor. A atividade de prevenção às drogas é um subgrupo e cada um desses grupos está em uma unidade de Niterói realizando atividades distintas.

O aluno de Medicina Paulo Postigo relata que na metodologia utilizada com os estudantes da comunidade, as atividades são desenvolvidas em dois encontros. Na primeira reunião, o grupo aborda os conceitos básicos e estabelecem uma aproximação com os adolescentes. “Nós nos apresentamos, perguntamos o que era droga, pedimos para darem exemplos, questionamos os conceitos de lícito e ilícito, etc. Queríamos investigar o que eles sabiam sobre o assunto, para planejar nossa ação no segundo encontro”, descreve.

A aluna Camila Martins explica que o grupo queria que os participantes atuassem ativamente, trocando informações e construindo o conhecimento. “Antes mesmo do primeiro encontro, deixamos uma caixinha na secretaria, como se fosse um cofre, onde eles podiam depositar perguntas sobre o assunto sem se identificar. Além disso, distribuímos cartazes pela escola para chamar a atenção dos adolescentes, com memes e alguns fatos relacionados ao uso de drogas. Isso serviu como convite para que eles participassem das atividades”, relata.

Em relação às drogas lícitas, o grupo tratou de álcool e cigarro, já nas ilícitas, focou em maconha, crack e cocaína. “Os próprios agentes comunitários sugeriram essas três, por serem mais comuns na comunidade. Além disso, apareceram com frequência nas perguntas deixadas na caixinha”, relata o aluno Thiago Gomes.

Já no segundo encontro, Paulo conta que a equipe conversou sobre prevenção e questionou os estudantes sobre as atitudes que tomariam caso alguém lhes oferecesse algum tipo de entorpecente. “Os jovens montaram uma cena de teatro para simular a reação que teriam numa situação dessas e todos eles ficaram muito empolgados com a atividade”, ilustra.

Os alunos de Medicina reafirmam a importância desse tipo de trabalho para sua formação acadêmica. Para Uinalaiã, as drogas são tratadas como assunto de polícia, quando deveriam ser de saúde pública. “Em questão de prevenção e conscientização, o fundamental é passar informação e é isso que nós, como futuros profissionais da saúde, devemos fazer. O médico deve atuar como educador e não apenas como alguém que detecta doenças. Isso faz com que a relação seja mais humanizada, pois ouve, conhece e interage com seu paciente”, afirma.

Já para Thiago, “agir na prevenção da doença, e não apenas no combate, é inteligente, funcional e mais econômico”. O futuro médico Tássio Abreu concorda e acrescenta que a relação com o paciente consiste basicamente em lidar com uma realidade diferente. “Para a formação profissional do médico, essa relação humanizada é muito importante. Ser médico não é só ficar no consultório, é tratar a pessoa, considerar seus diferentes aspectos, não apenas doenças”, conclui.

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