Faculdade de Nutrição cria tecnologia inovadora para armazenar leite humano

Promoção, proteção e apoio à amamentação

O leite materno é um alimento essencial para os recém-nascidos. É importante tanto para a sua sobrevivência quanto para a qualidade de vida. Rico em nutrientes, ajuda na prevenção da enterocolite necrotizante, doença que causa lesões e inflamações na superfície interna do intestino, e de infecções em geral. Considerando isso, a Faculdade de Nutrição da UFF desenvolveu embalagens de polietileno para o armazenamento desse leite, visando ajudar os bebês que nascem com menos de oito meses de gestação e ainda não possuem a capacidade de sugar, deglutir e respirar coordenadamente.

A adoção dessas embalagens, livre de plastificantes e Bisfenol-A (substância química que pode causar malefícios para a saúde, como mudanças de comportamento e alteração no crescimento infantil), traz uma nova tecnologia, que otimizará a rotina dos Bancos de Leite Humano - BLH. Antes, a única opção para o armazenamento era usar recipientes de vidro com tampas de plástico, cada vez mais difíceis de serem encontrados. Essa restrição limitava as doações e impossibilitava também seu empréstimo às nutrizes – mulheres doadoras de leite.

A coordenadora do projeto e diretora da Faculdade de Nutrição da UFF, Alexandra Anastacio Monteiro, explica como a pesquisa teve início: “A proposta foi avaliar uma nova metodologia de armazenamento segura que não alterasse as características nutricionais do leite. Assim, iniciaram-se os testes para verificar a viabilidade do uso destas embalagens plásticas em bancos de leite humano”.

A idealização dos novos frascos começou em 2012, com pesquisas no Hospital Maternidade Herculano Pinheiro, em Madureira, município do Rio de Janeiro. Lá foram coletadas 55 amostras de leite humano, no período de agosto de 2013 a dezembro de 2014, para teste das embalagens a partir das condições higiênico-sanitárias adequadas. Foram avaliados os níveis de acidez, valor energético, gordura, lactose e proteínas presente no leite que acabou de ser ordenhado e no pasteurizado – congelado por um período de 15 dias e descongelado para servir de alimento aos recém-nascidos.

Estas atividades fazem parte de uma política nacional que tem como diretrizes proteger, promover e apoiar o aleitamento materno”, afirma Alexandra Anastacio.

As pesquisas mostraram que os frascos, estéreis e transparentes, proporcionam vedação perfeita para que a integridade do leite seja mantida após o período de descongelamento. As embalagens seguem a norma da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº. 171 da Anvisa, que determina que elas devem ser constituídas de material inerte (que não sofra reação química quando em contato com outros materiais) e inócuo (que não cause danos nem benefícios a outras substâncias), em temperaturas na faixa de -25°C a 128°C, e com valor biológico preservado.

O Banco de Leite Humano, além de receber e armazenar as doações de nutrizes saudáveis, também orienta e presta assistência às mulheres quanto ao aleitamento materno. No local, são realizadas as atividades de pasteurização, controle de qualidade e distribuição do leite doado para recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais. “Todas estas atividades fazem parte de uma política nacional de incentivo à amamentação que tem como diretrizes proteger, promover e apoiar o aleitamento materno”, afirma Alexandra.

O abastecimento do Banco é feito a partir de doações internas e externas do BLH. As nutrizes doadoras são mulheres que apresentam produção e secreção lácteas superiores às demandas de seu filho e disponibilizam, por livre e espontânea vontade, o excedente. Também podem ser doadoras as mulheres impedidas de amamentar por motivos associados à saúde do recém-nascido e as mães cujos bebês estão internados em unidades hospitalares e que ordenham o próprio leite, para manter a produção ou para alimentar exclusivamente o próprio filho.

As perspectivas do projeto para o futuro estão no desenvolvimento e na diversificação dos frascos, como explica à coordenadora. “Mayara Silmas, nossa doutoranda na FIOCRUZ, está elaborando o projeto de teste de outras embalagens plásticas, de modelos diferentes, para o armazenamento. O intuito é o aperfeiçoamento destes frascos, para que possam inclusive ser aquecidos, mantendo as características e nutrientes inicialmente presentes no leite humano”.

Para contribuir, as interessadas na doação de leite devem acessar o site da Rede Brasileira de Bancos de Leite. Nele estão os endereços e telefones dos bancos presentes no país e as informações detalhadas de como fazer para acessá-los. “Ao chegar nos BLHs elas são entrevistadas e têm seus exames de saúde avaliados para verificar sua aptidão para a doação”, esclarece a coordenadora Alexandra Anastácio.

Durante a pesquisa, as análises realizadas para se chegar ao produto final contaram com parcerias do Banco de Leite do Hospital Antônio Pedro (Huap), Instituto Nacional de Saúde da Mulher e da Criança Fernandes Figueira, Instituto Nacional de Saúde de Controle de Qualidade em Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde do RJ.

O projeto tem a participação dos alunos de Nutrição da UFF Ana Paula de Souza Rocha, Samily Viégas e Bruna Rafaela Acioli Lins, da doutoranda da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) Mayara de Silmas Mesquita, além do pesquisador Antonio Eugenio Castro Cardoso de Almeida. O projeto de Inovação Tecnológica em Bancos de Leite Humano conta com o financiamento da universidade através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ.

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