Pesquisa desenvolvida na UFF aponta riscos ambientais gerados por instalação de zona portuária em Maricá

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Unsplash

No ano de 2021, foi concedida uma licença ambiental pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para a implementação do projeto do Terminal Ponta Negra (TPN), localizado em Maricá, Rio de Janeiro. Trata-se do maior empreendimento portuário do país, que deverá abranger uma área de cinco e meio milhões de metros quadrados. O projeto, no entanto, passou por longos anos de embargo, que impediam na justiça o prosseguimento da liberação para a construção.

Em meio a esse contexto, ganhou destaque a tese da pós-graduanda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense, Marina Aires. Intitulada “Vulnerabilidade da Zona Costeira de Maricá: Estudo de caso de Derramamento de Óleo no Empreendimento dos Terminais Ponta Negra (TPN) utilizando Modelagem Computacional, e com orientação do professor do Departamento Jorge Luiz Fernandes de Oliveira, a tese serviu de base para o MPRJ embargar as obras do terminal.

O trabalho possui como objetivo identificar as áreas de risco sob ameaça de derrame de óleo no TPN por meio da utilização de técnicas de modelagem hidrodinâmica na área adjacente ao empreendimento, observando-se as condições de sazonalidade de correntes marinhas e ventos. Para analisar os impactos de um possível derrame de óleo na área do TPN simulando cenários com vários volumes de óleo derramado, utilizou-se o Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental (SisBaHiA®).

Segundo Marina Aires, o derrame de oito m³ apontou que o tempo de resposta para conter o óleo no TPN é de uma hora após o acidente. “Esse cenário crítico, que levou em consideração as condições meteorológicas, oceânicas e o comportamento do transporte de óleo no mar, mostrou a importância da determinação do tempo de resposta para essa área. Além desse tempo, sérios prejuízos econômicos seriam gerados para o TPN”, enfatiza.

De acordo com o orientador Jorge de Oliveira, “o estudo mostra a vulnerabilidade do litoral de Maricá e Saquarema ao derrame de petróleo e o tempo para as equipes de proteção evitarem impactos nas praias da Região dos Lagos”, enfatiza. Essa percepção é corroborada por Marina, que destaca o fato de a tese contestar a informação de que o litoral da região não seria sensível ao derramamento de óleo. Nesse sentido, o estudo aponta para a necessidade de uma revisão nos documentos referentes ao TPN, principalmente no Estudo do Impacto Ambiental (EIA) e no Relatório de Meio Ambiente (RIMA). 

Além de chamar a atenção para essa situação, outra contribuição inovadora do trabalho é a utilização de técnicas computacionais para determinar o tempo que um possível acidente levaria para impactar a área, e que oscila de acordo com condições meteorológicas e oceanográficas, independentemente da ação humana. “Ultrapassando-se esse tempo, os prejuízos passam a ser grandes para a economia, o meio ambiente e a sociedade dos municípios citados”, ressalta a doutoranda.

Marina Aires aponta que são muitos os desafios nessa direção, mas o maior deles é a luta contra o poder econômico, que estaria tentando desqualificar as pesquisas desenvolvidas na universidade em defesa do meio ambiente. “Estamos atentos e, ao contrário do que muitas vezes é dito, geramos muito conhecimento de qualidade e também de baixo custo”. Marina complementa dizendo que “as práticas sustentáveis devem ser entendidas como atitudes positivas que preservam os recursos naturais e mantêm o equilíbrio ecológico no planeta, e vão desde a diminuição da poluição ambiental, o incentivo à reciclagem de resíduos sólidos e a eliminação de desperdícios. Trata-se de um tema muito atual e relevante, que serve para preservar o planeta para as futuras gerações”, finaliza.

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