Pesquisa da UFF aponta os impactos do turismo e mapeia pousadas do Centro Histórico de Paraty

Crédito da fotografia: 
Arquivo Pessoal de Wilson Martins Lopes Júnior
De acordo com o estudo, 60% dos representantes de pousadas concordam que os meios de hospedagem são danosos ao meio ambiente

Atualmente, o turismo é uma atividade socioeconômica que ocorre mundialmente, engloba aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Segundo o Banco Central (Bacen), os visitantes internacionais contribuíram com cerca de 28 bilhões de reais para a economia brasileira em 2023. Diante da relevância do setor, a pesquisa “Estudo sobre o posicionamento ambiental dos equipamentos de hospedagem do Centro Histórico de Paraty - RJ” da Universidade Federal Fluminense (UFF) investiga a relação entre turismo, urbanização e sustentabilidade. A finalidade é discutir os impactos socioambientais decorrentes do turismo no município de Paraty. 

O docente do Departamento de Geografia da UFF, Wilson Martins Lopes Júnior, atua no âmbito da Geografia do Turismo e explica a relação entre os campos de estudo: “diversos fatores atuam sobre o turismo e isso faz com que outras áreas o pesquisem. No caso da Geografia, ela estuda a organização do espaço geográfico. Ou seja, os fixos, os fluxos, as dinâmicas econômicas, sociais e ambientais que dão vida ao espaço. Para o turismo acontecer, é necessário que ele utilize a infraestrutura instalada no território, assim como exige outros equipamentos específicos para sua prática. A Geografia estuda o território, a organização espacial. Isso justifica que a Geografia estude o Turismo, o qual provoca transformações no espaço”.  

A entrada de turistas nas cidades exige a instalação de novos estabelecimentos de hospedagem, alimentação e atrativos turísticos. Além disso, a infraestrutura do local, como saneamento básico e coleta de lixo, tem que atender a um número maior de pessoas. Essas questões provocam a reorganização do espaço urbano em diferentes localidades. De acordo com o geógrafo, diferentes autores, nacionais e internacionais, apontam o meio ambiente como o maior atrativo turístico. “Se você questionar aos turistas sobre o que eles querem ver quando viajam, as respostas serão sempre elementos da natureza: praias, rios, montanhas, etc. Porém, a busca por esses elementos naturais resulta em alterações e impactos no território”. 

Por esse motivo, o turismo resulta em implicações positivas e negativas. Apesar do fenômeno impactar positivamente a economia e a sociedade (através do desenvolvimento, geração de emprego e renda), as consequências negativas incluem o estímulo às desigualdades, a privação de espaços naturais e urbanos, além do aumento da poluição atmosférica, aquática e do solo. Os efeitos negativos também são decorrentes da utilização dos meios de hospedagem, que degradam o meio ambiente através do consumo de recursos naturais, produção de lixo, despejo de dejetos em ambientes aquáticos e emissão de gases. Por esse motivo, a existência de certificações ambientais para os meios de hospedagem é importante. Um exemplo é a NBR 15401:2006, que define medidas referentes à sustentabilidade de hotéis e pousadas.

Nesse contexto, a sustentabilidade nos estabelecimentos de hospedagem é um diferencial. O estudo da universidade, com co-autoria de Lopes Júnior, verificou o posicionamento ambiental de pousadas do Centro Histórico de Paraty. Os resultados evidenciam que o turismo é imprescindível para a economia local, como também prejudicial ao meio ambiente. Dentre as dez pousadas investigadas, oito possuem práticas sustentáveis com a intenção de reduzir os impactos ambientais. As ações incluem a utilização de luz de led (mais econômica), reutilização de água da chuva, compostagem (realizada por quatro pousadas), fossas (apenas uma pousada possui) e disponibilização de carregador para carros elétricos (somente em uma pousada). No entanto, duas pousadas não possuem nenhuma iniciativa para a preservação ambiental, e para além, essas ações se restringem a determinadas práticas visando a suavização dos impactos, porém como são feitas de maneira isolada e em pequena escala, não têm o alcance necessário para benefício no aspecto ambiental.

Outro tópico que deve ser notado é o papel do poder público, no sentido de dar suporte aos empreendimentos, principalmente no campo ambiental das pousadas, através da realização da coleta seletiva, ou seja, o recolhimento do lixo e resíduos separados por estes estabelecimentos de hospedagem. Além disso, o Centro Histórico de Paraty é tombado como patrimônio histórico da humanidade, fator que desafia a instalação de painéis solares pelo risco de descaracterização das fachadas.

A pesquisa destaca que o turismo é a atividade econômica de maior relevância para o município de Paraty, incluindo o Centro Histórico. No entanto, é necessário diminuir os efeitos negativos através de um planejamento, visando tornar o turismo uma prática sustentável. “Eu quero mostrar que os impactos ambientais do turismo são amplos. Nos próximos anos, pretendo produzir um material que sintetize a percepção de como os meios de hospedagem atuam diante dos problemas ambientais em Paraty. Os empreendedores adotam práticas ambientais pensando na economia. Eles não percebem que essas ações pertencem ao desenvolvimento sustentável. Além disso, também falta a orientação de um profissional para indicar medidas para um pequeno empreendedor. Não só em relação à economia e ao meio ambiente, mas também aos turistas”, finaliza. 

Os resultados apresentados na matéria são específicos do “Estudo sobre o posicionamento ambiental dos equipamentos de hospedagem do Centro Histórico de Paraty - RJ”, coordenado pelo docente Wilson Martins Lopes Júnior e com participação do discente Vinicius Rocha Campitelli. A pesquisa contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Ela integra um estudo maior, chamado "Percepção do estudo da sustentabilidade do turismo em equipamentos de hospedagem nos municípios de Paraty e Angra dos Reis, RJ".
 
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Wilson Martins Lopes Júnior é Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995), Bacharel em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996), Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2000) e Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (2007). Atualmente é professor associado II da Universidade Federal Fluminense (UFF). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Humana, Turismo e Meio Ambiente.

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