Odontologia inclusiva: conheça o laboratório que atende pessoas com deficiência em Nova Friburgo

Crédito da fotografia: 
Acervo pessoal
Laboratório de Fluxo Digital para Pessoa com Deficiência da UFF estuda formas de inovar e promover um atendimento melhor adaptado para a população

Na odontologia, existe uma especialidade chamada “odontologia para pacientes com necessidades especiais”, área que pesquisa a importância de novas formas de atendimento para esse grupo. A esse campo de estudo se dedica o Laboratório de Fluxo Digital para Pessoa com Deficiência (PcD) do Instituto de Saúde de Nova Friburgo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O laboratório é fruto de um projeto multidisciplinar, financiado pela FAPERJ, que envolve os cursos de Fonoaudiologia e Biomedicina, formando a Liga Acadêmica Multidisciplinar. Pesquisadores das três graduações colaboram para proporcionar um melhor atendimento às pessoas com deficiência, estudando, por exemplo, como coletar o sangue com mais facilidade de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou realizar audiometria, escaneamento e confecção de aparelhos odontológicos para bebês e crianças com síndrome de down.

Ao longo de pouco mais de um ano, foram realizados 428 atendimentos pela equipe, sendo pacientes não apenas de Nova Friburgo, mas também de cidades próximas e de outras regiões mais distantes. A princípio, o laboratório surgiu para dar suporte ao Serviço de Ortopedia Funcional dos Maxilares e Ortodontia para PcD, onde é realizado o escaneamento das pessoas com síndrome de Down para impressão de modelos e confecção de aparelhos no laboratório. Não sendo mais preciso realizar a moldagem da arcada dos pacientes, obtendo imagens mais fidedignas. O objetivo é gerar um arquivo digital da arcada do paciente que será usado para a impressão dos modelos, depois aproveitado para a confecção dos aparelhos, e futuramente, de próteses dentárias. “Modelos antes criados com gesso agora são confeccionados em uma impressora com resina líquida. Com a imagem da arcada dentária do paciente através do scanner, temos um tipo de arquivo que depois serve para conferir o modelo do aparelho”, explica Flávio Warol, supervisor do projeto e professor da Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo da UFF.

A professora Bruna Lavinas Sayed Picciani, coordenadora do serviço e laboratório , aponta que esse foi o público escolhido porque, desde bebê, a criança com Down precisa de tratamento ortopédico e odontológico. “Uma característica comum de pessoas com trissomia do cromossomo 21 é a hipotonia (menor resistência) muscular generalizada na parte crânio-facial. Então, desde cedo, a criança precisa usar aparelhos ortopédicos para auxiliar no fortalecimento do tônus muscular da língua e do lábio para redução das dificuldades de respirar, mastigar, deglutir e falar. Se a criança não consegue falar direito, não consegue respirar, não consegue se alimentar, é uma criança que não vai se desenvolver bem. Sabemos das necessidades desse público e, por isso, nosso foco foi nele; hoje, ampliamos o projeto, e estamos tratando todas as pessoas com deficiência”.

É preferível o uso de um scanner ao uso de materiais de moldagem normalmente utilizados para a obtenção dos modelos da arcada dentária, por ser um método com maior precisão e sem risco de broncoaspiração do material. Durante o escaneamento, é possível atender bebês a partir de dois meses de vida, porque não há o risco de engolir o material de moldagem  ou se sufocar. Além da segurança, muitas vezes a criança não precisa estar deitada para ser atendida e pode ser escaneada sentada no colo dos pais. Outro aspecto interessante é que a criança, ou o próprio adulto com necessidades específicas, ao terminar o atendimento visualiza no computador a imagem obtida.

Para os profissionais, o trabalho também é facilitado com a tecnologia. Os modelos odontológicos em gesso que poderiam mofar e quebrar foram substituídos pelos modelos elaborados com resina. “Às vezes o próprio profissional danificava o modelo enquanto realizava a confecção dos aparelhos. Agora, se algo acontecer, não preciso chamar o paciente de novo, porque temos o arquivo guardado e conseguimos imprimir outros modelos”, explica Picciani.


Modelos impressos a partir de arquivo digital gerado pelo scanner / Acervo Pessoal

Para receber atendimento, é necessário entrar em contato por telefone e apresentar o laudo médico para marcar a consulta conforme a disponibilidade de vagas. O laboratório, segundo a professora Bruna Picciani, serve à universidade, mas também presta serviços laboratoriais para todo o Brasil com preço acessível, de acordo com o convênio FEC. “Todos os atendimentos são gratuitos aos participantes das pesquisas. Mas quando um consultório precisa de um escaneamento, aparelho ou de um modelo, podemos oferecer a um preço acessível”.

O projeto é formado por uma clínica onde os atendimentos são realizados e pelo laboratório no qual são feitas as impressões e os aparelhos. A equipe inclui sete docentes, 21 alunos de graduação, sendo dois bolsistas de Iniciação Científica com fomento da FAPERJ, um bolsista de extensão, uma estudante de mestrado e um estudante de pós-doutorado. Para Pedro Fernandes de Souza Lima, bolsista de extensão e estudante de Odontologia, “é enriquecedor ter isso em uma faculdade federal. Com o fluxo de conhecimento que estou tendo, sinto que estou preparado para o mercado. É uma odontologia inovadora”, conclui.

Bruna Lavinas Sayed Picciani é jovem Cientista do Nosso Estado e Jovem Pesquisadora Fluminense do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ. Professora Adjunta da Faculdade de Odontologia e da Pós-graduação em Odontologia de Nova Friburgo (Vice coordenadora) da Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em Odontologia pela Universidade do Grande Rio, especialista em Estomatologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais pela ABORJ, Mestre e Doutora em Patologia pela Universidade Federal Fluminense. Realizando Pós-doutorado no Programa em Ciências, Tecnologias e Inclusão, em autismo, na UFF.

Flávio Warol é professor da Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduado em Odontologia e mestre em Clínica Odontológica pelo Instituto de Saúde de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (UFF), é também Doutor em Odontologia Clínica e Experimental (Unigranrio), com curso técnico em Prótese Dentária (UFRJ), especialista em Odontologia do Trabalho (SL Mandic), Implantodontia e Prótese Dentária (Fac. Redentor).

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