A sociedade cafeeira da Fazenda São Fernando em Massambará, em Vassouras (RJ), foi escolhida por Fábio Pereira como ponto de partida no livro “Vassouras: comunidade escravo, conflitos e sociabilidade” (Eduff, 2017). Dessa particularidade, o autor desenvolve a relação da comunidade escrava no Brasil, sobretudo de 1850 em diante. A questão-chave da obra é a discussão do conceito de comunidade e o seu uso, na busca de evidenciar as heterogeneidades por trás da história.
“Vassouras” se desenrola a partir do conjunto de 17 documentos criminais envolvendo escravos como réus e/ou vítimas, para dar vida às relações de interesse, oportunidades e medos. Pereira demonstra, portanto, a dificuldade de reunir documentações que exponham os aspectos cotidianos do universo escravista, ao passo que tenta examinar a sociedade com um olhar de dentro, e não de fora.
O livro narra, ainda, as características marcantes dessa comunidade específica e imperfeita: a segurança e autonomia; quanto mais buscam segurança, menos autônomos se tornam. O autor defende a luta do universo escravo contra as injustiças e a dominação senhorial, que não se restringe a ela, todavia mostra-se mais aparente.
Em uma leitura esclarecedora e estimulante, “Vassouras” preserva a memória das mãos que não só plantavam, limpavam, colhiam os cafés, mas também secavam lágrimas, apertavam o abraço e se tocavam em cumprimentos.