Há um tema que precisa ficar muito claro: o papel da Universidade, em particular da Universidade Pública no Brasil. As IFES têm um papel estratégico na construção de uma sociedade soberana, capaz de valorizar suas bases culturais e promover um desenvolvimento social inclusivo, sustentável e inovador na perspectiva do bem-estar da população do País e da Humanidade.
Não é por outra razão que as IFES, ao mesmo tempo que promovem formação qualificada e produção do conhecimento, também atuam na vanguarda do conhecimento, em defesa de valores sociais e éticos essenciais para uma sociedade mais justa.
Em que pese, muitas vezes, à convergência da atuação das IFES com a de outras organizações ou segmentos da sociedade organizada, não se pode confundir seus papéis e princípios com os de empresas públicas ou privadas, partidos políticos e, sobretudo, sindicatos. É evidente que cada qual tem os seus valores, mas somente as Universidades nutrem as raízes no mérito do conhecimento, na diversidade das ideias e no compromisso com saber universal nas humanidades e na tecnologia, dentro de uma ordem acadêmica, de respeito e civilidade no âmbito da riqueza da diversidade de pensamentos.
Lamentável, no entanto, que há aqueles que desejam subverter e confundir, muitas vezes de forma truculenta e autoritária, o papel histórico das Universidades, em especial das Universidades Federais Brasileiras, dos seus Conselhos Superiores e de seus dirigentes. Por se tratar de um espaço aberto ao debate, usam dessa prerrogativa para tentar, sistematicamente, derrubar o mérito acadêmico, como valor inequívoco e indissociável das Universidades; buscam tornar as IFES campos de batalha governista ou antigovernista a partir de uma massa de jovens ávidos por transformações sociais e por realizações profissionais; intentam o fortalecimento de um aparelhamento sindical nos campi com base em jargões dissonantes e descompassados com a vida universitária.
Estudantes, professores e servidores técnico-administrativos desejam ver nas Universidades um espaço de livre expressão de ideias com respeito, crescimento profissional e dignificação do seu trabalho e empenho. Constroem uma Universidade aberta, que seja reconhecida pela sociedade por sua produção acadêmica e por valores socialmente referenciados. Esperam ordem e respeito no espaço público como um valor ético fundamental, o mesmo que recebem em família e almejam na sociedade.
A comunidade universitária não tolera xingamentos, gritos e berros com palavras de ordem sem substância qualificada ou responsabilidade institucional. Afinal, a responsabilidade legal, financeira e social recai principalmente sobre dirigentes, gestores eleitos e nomeados, que exercem um papel representativo digno e legítimo de uma comunidade acadêmica. O respeito aos gestores e aos cargos exercidos, bem como ao Conselho Universitário, é o comportamento que se espera de cidadãos responsáveis e que valorizam a Universidade, pois são pilares da essência institucional.
Não se permite a um dirigente a irracionalidade, o populismo, o clientelismo ou o conformismo. Ao contrário, exige-se o empenho para promover uma gestão eficiente, no caso brasileiro, em meio a um Estado nacional ainda arcaico e burocrático. Cabe a estes gestores, em particular, empregar com responsabilidade e transparência os recursos repassados pelo Estado com o melhor uso para a sociedade. Cabe ainda, com prioridade, promover a ciência e o ensino em alto nível, zelando pelo uso do espaço público nos campi.
A Universidade não é local de uma pseudoliberdade gratuita e irresponsável para pichações, desordem e falta de respeito. Muito menos para abrigar gratuitamente sede de sindicatos, pois estes devem operar, segundo suas próprias regras, em espaços privados pagando tributos como toda a sociedade. A comunidade universitária da UFF exige seus espaços para salas de aula, laboratórios e gabinetes para docentes, servidores técnico-administrativos e discentes.
Com certeza, todas as IFES do País têm como modelo grandes Universidades do mundo. Desta forma, demandam organização, profissionalização e consolidação de uma expansão ainda lenta em função de cortes no orçamento e profunda crise política no Brasil. Não há mais espaço para improvisos e falsas conquistas; todos exigem uma Universidade moderna com plena regularização de processos, inclusive da jornada de trabalho de seus servidores.
Todos honramos o trabalho na Universidade e desejamos provar à sociedade cada parcela do nosso esforço social com recursos públicos. Prestar contas à sociedade sobre o que e como fazemos na Universidade é obrigação de cada um. Exercemos com orgulho talvez uma das atividades mais nobres e comprometidas com o desenvolvimento e a igualdade social no País.
Na Universidade sempre haverá espaço para quem pensa diferente, mas jamais para aqueles que não respeitam este ambiente.
Sidney Mello
Reitor