O grupo Ginga-UFF acaba de receber o Prêmio ANPOCS de Divulgação Científica em Ciências Sociais, na categoria Jornalismo, com um projeto que aborda o uso das redes sociais como estratégia para combater o racismo religioso e que já havia sido premiado pela Associação Brasileira de Antropologia. A premiação, que está em sua quarta edição, é realizada pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e tem como objetivo dar visibilidade e fomentar iniciativas práticas de divulgação científica desenvolvidas por meio do diálogo entre cientistas sociais e a sociedade.
O Ginga-UFF é um grupo de pesquisa com foco nos conflitos de natureza étnico-racial-religiosa, nas mobilizações das comunidades e povos tradicionais de terreiro, bem como nas reações dos poderes públicos às reivindicações por reconhecimento de direitos desses grupos. Segundo a professora Ana Paula Mendes, que coordena o grupo, “a ideia de criar o Ginga-UFF surgiu como uma forma de pensar e produzir intervenções voltadas à produção de políticas públicas para o enfrentamento ao racismo religioso”.
Para Ana Paula, esse reconhecimento do mundo acadêmico através das premiações é muito importante. “Desde 2021, estamos desenvolvendo esse trabalho sobre o reconhecimento social dos terreiros com os quais trabalhamos. Ficamos muito felizes com esse prêmio e com as consequências e desdobramentos desse trabalho”, celebra.
A professora, que pesquisa o tema da violência dirigida aos terreiros desde 2008, explica ainda que o projeto surgiu a partir de uma interação com os movimentos dos terreiros. “A ideia das redes sociais não é só enfrentar o racismo religioso, mas principalmente difundir e divulgar estratégias de mobilização e luta por direitos desses grupos. Vale dizer que a pesquisa começou no Rio de Janeiro, mas hoje acontece em todo o território nacional. Nossa ideia é conseguir fazer todas as capitais do Brasil”.
Sobre o uso das redes sociais, ela afirma que tem sido uma estratégia muito importante para enaltecer a imagem dos terreiros. “Tudo hoje acontece nas redes sociais, mas há uma reclamação dos terreiros sobre a qualidade da informação sobre seus povos e comunidades tradicionais. Muitas vezes, as redes sociais são usadas para reproduzir preconceitos e discriminações. Então, temos a preocupação de fazer um trabalho que valorize a estética e a beleza. Uma das imagens difundidas do terreiro é quando ele é atacado, destruído e incendiado. Queremos chamar a atenção para a beleza, para a festa, o vestuário, dando uma outra dimensão estética à temática através das redes sociais”, explica.
O Ginga-UFF, segundo a professora, também possibilita a amplificação de uma rede de pesquisadores de todo o Brasil. “Temos muitos casos de religiosos que são mestres, doutores, pesquisadores em outros lugares do país. O projeto é também uma forma de colocarmos as pessoas em contato. O grupo conta com financiamentos tradicionais e com o apoio de verbas de emendas parlamentares. Para 2025, a coordenadora ressalta que o objetivo é concluir a visita aos terreiros de todas as capitais brasileiras e finalizar a elaboração de um site que torne os resultados das pesquisas mais acessíveis a todos.