Viver uma internação hospitalar pode ser um dos momentos mais difíceis e angustiantes na vida de alguém. Para tornar a rotina dos pacientes menos solitária, um grupo de estudantes e professores do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), criou o projeto “Boa noite, bom dia, Huap” (BNBD), que atua nas enfermarias do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap/UFF), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), levando um pouco de carinho e esperança por meio da música, da arte e do acolhimento aos acamados.
O projeto, que vai completar 15 anos de existência, foi idealizado por um aluno de Medicina da UFF que estava desestimulado e pensava em largar o curso. “Ele estava nos primeiros semestres e achava que não tinha entendido o que era ser médico. Vindo de uma família de músicos, ele fez o projeto com a ideia de se aproximar dos pacientes”, conta a professora Célia Sequeiros, do Departamento de Saúde e Sociedade do Instituto de Saúde Coletiva da UFF (ICS/UFF), que coordena o projeto junto com a docente do ICS/UFF, Lenita Lorena.
Hoje, o projeto é um programa de extensão da Universidade, que conta com um bolsista e mais de 30 alunos voluntários. A maioria dos cursos de Medicina e Enfermagem, mas, também, de outras especialidades da saúde como Biomedicina, Farmácia, Odontologia, Nutrição, Psicologia e até alunos de outras áreas, como da Matemática e Ciência da Computação.
A atividade principal do projeto é realizar visitas nas enfermarias nas noites de quarta-feira, indo, a cada semana, em uma enfermaria diferente, incluindo Centro de Terapia Intensiva (CTI) e emergência. “Vamos cantar e tocar. O nosso bolsista precisa saber tocar. Já fizemos outras atividades, como oficina de origami, mas como são visitas pontuais, não se pode demorar muito. Também já tivemos instrumentos como violão, flauta, pandeiro, cavaquinho, fizemos atividades com palhaços, mágicos, contação de histórias, dependendo das habilidades dos alunos voluntários a cada semestre”, explica a professora.
Aproximação com os pacientes
Durante as visitas, os alunos iniciam a abordagem aos pacientes perguntando como estão se sentido e quais músicas eles gostariam de ouvir. Existe, inclusive, um caderno com as cifras das músicas mais pedidas, com o acervo construído ao longo dos 15 anos de atividade. Essa abordagem, conforme explica a professora Célia Sequeiros, auxilia na formação de quem cursa os primeiros semestres da faculdade. “Facilita a aproximação do estudante com os pacientes, sem precisar do jaleco e da prancheta. Então eles entram aqui bem coloridos, com adereços, para aproximar e ter sensibilidade de chegar e perguntar ‘como você está? Quer escutar uma música?’”, comenta a professora.
Pedro Henrique Brandão da Silva é estudante do quarto período da Faculdade de Medicina da UFF e bolsista do BNBD, e destaca os ganhos que a participação traz aos estudantes que participam. “Se eu tivesse que destacar o nosso maior mérito e vitória nesse projeto é o aprimoramento da comunicação que o aluno tem desde o início do curso, pois nas visitas o aluno conhece as enfermarias, aprende a falar com o paciente. Vejo isso em mim também, pois, hoje, eu tenho muito mais facilidade de falar com o paciente, de perguntar, não tenho inibição de estar ali, e isso é por conta do projeto”, relata.
Conforme os semestres vão passando, os alunos deixam o projeto para lidar com a rotina extenuante dos cursos da área da saúde. No entanto, a estudante de medicina Geórgia Fagundes, que já está no décimo primeiro período, continua a participação no projeto de extensão. “Acho que todo mundo que está na área da saúde é porque gosta de cuidar do outro, gosta de doar um pouco de si, então o projeto traz uma humanização, pelo menos para mim, eu vejo o paciente de outra forma. Todo dia a gente chega cansado, mas saímos daqui eu saio com as energias renovadas”
Durante a pandemia, o BNBD precisou suspender as visitas, e mesmo assim as atividades não pararam. A voluntária Mariana de Castro, residente de Farmácia e ex-aluna da UFF, participou do projeto durante a graduação, mas não quis sair após de formar, e realizou um trabalho fundamental durante o período de suspensão das atividades presenciais. Cada aluno fazia um vídeo cantando e/ou tocando a sua parte da música, e Mariana realizava a edição dos vídeos que eram publicados na internet para que os pacientes pudessem ter acesso por meio do celular.
A residente Mariana de Castro, ingressou no projeto quando cursava o segundo período e permanece até hoje, destaca que se sente bem e que está ajudando outras pessoas. “Durante o curso, a vivência é mais teórica, não temos contato com o paciente. Já na residência em farmácia clínica, o contato com o paciente é direto, então se eu não tivesse esse contato prévio ia ser muito mais difícil, pois sou muito tímida”, comenta.
A professora Célia Sequeiros ressalta, ainda, que o projeto não é só sobre música, mas um importante instrumento que auxilia na carreira do profissional de saúde, pois ele aprende a lidar com o temor das situações de gravidade de alguns pacientes. “Há pessoas em situações muito graves, algumas enfermarias têm o ambiente mais pesado, são situações de doença, morte, então o profissional de saúde precisa lidar com o improviso, seja lá onde estiver. Então é improviso, criatividade, esse é o grande barato do projeto, que os alunos podem lidar com essas situações diversas desde o início do curso”, conclui.
Os estudantes que tiverem interesse em participar do projeto ou saber mais sobre as visitas podem entrar em contato com a equipe, acessando o perfil do “Boa noite, bom dia” no Instagram: @projetobnbd.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh
Por Paola Caracciolo, com revisão de Andreia Pires
Fotos: Carla Araújo, Unidade de Comunicação Regional 20