Definida como estado da pessoa cega, a deficiência visual é popularmente reconhecida como uma limitação de um dos sentidos humanos. Em decorrência desse estereótipo de privação, os deficientes encaram inúmeros impasses ao longo da vida, principalmente no que diz respeito à imagem de incapacidade. É esse rótulo que a psicóloga Carolina Manso busca desconstruir no livro “Narrativas do não ver”, lançado pela Editora da Universidade Federal Fluminense (Eduff).
O interesse pelo tema surgiu durante a iniciação científica, quando Carolina foi apresentada à relação entre deficiência visual e percepção. Desde então, a pesquisadora sustenta a ideia de que a deficiência visual não representa um quadro estagnado, mas sim um caminho de conhecimento sobre as diferentes formas de existir. A autora encara o cegar como um processo que “tem a força de um verbo, uma ação que se realiza, que se encarna de modo múltiplo e heterogêneo em certas práticas. Um verbo, uma ação, e não um substantivo, um estado de coisas”.
Outro aspecto apresentado na obra refere-se à exploração de novos sentidos e de novas nuances. Impossibilitados de enxergar, os cegos aprendem a ver. Esse processo é analisado por Carolina Manso como uma colcha de retalhos, cuja composição é resultado de diversas escolhas, o que constrói a cegueira como uma descoberta única e individual, além de empoderar o deficiente como criador de si e do mundo ao seu redor.