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Novo livro da Eduff analisa o papel da mulher indígena no Brasil colonial

Novo livro da Eduff analisa o papel da mulher indígena no Brasil colonial

Os povos indígenas representam uma parcela considerável da população brasileira, além de serem parte inegável da nossa história e cultura. Entretanto, nem sempre se reconhece sua complexidade e muitas vezes suas narrativas nem são contadas, principalmente quando se trata do papel desempenhado pela mulher indígena. E é justamente como uma forma de contrariar esse padrão de silenciamento, que Suelen Julio lança o livro “Damiana da Cunha: uma índia entre a ‘sombra da cruz’ e os caiapós do sertão” (Eduff, 2017). Apesar das dificuldades que enfrentam muitas tribos, segundo a autora, “há sinalizações de mudanças, aqui e ali, pontuais” e livros como “Damiana” são um exemplo disso.
Damiana da Cunha foi uma grande liderança indígena no século XVIII. Nascida por volta de 1779, na capitania de Goiás, foi levada ainda nova à cidade, onde foi batizada pelo então governador D. Luís da Cunha Meneses. Índia caiapó, criada com os ensinamentos da Igreja católica e convertida ao cristianismo, era responsável pela mediação entre os indígenas e colonizadores, sendo grande promotora dos aldeiamentos – locais onde os índios deveriam viver para aprender o estilo de vida do colonizador. Apesar de ter se convertido ao catoliscismo, ainda convivia proxima aos índios, além de retomar hábitos dessa cultura, como pinturas e nudez, em seus encontros. Julio insere a personagem em seu contexto específico e ressalta sua importância, ao analisar sua vida por uma perspectiva histórica e de gênero.
O fato de viver entre dois mundos tão diferentes não significa que ela tenha abandonado suas raízes ou que fosse menos indígena. Inclusive, para Julio, esse é um pensamento extremamente nocivo para essa população. A autora explica que, muitas vezes, existe uma ideia equivocada de “cultura fixa”, que afirma que para pertencemos a uma cultura devemos manter todos os hábitos referentes a ela. Entretanto, a cultura é adaptável. Ou seja, um índio pode viver na cidade, com roupas consideradas urbanas e ainda sim ser um membro de sua cultura de origem. Como aponta Suellen, essa adaptação do indígena muitas vezes é forçada e se torna uma questão de sobrevivência.
Apesar de grandes protestos e ações promovidas por liderenças indígenas atuais, muitos de seus relatos e influências da história ainda são silenciados, caindo no esquecimento. Entretanto, é importante reconhecer a luta e resistência desses povos, presentes desde os primeiros anos do Brasil colônia, a fim de dismitificar e apagar preconceitos propagados por séculos. “Damiana” possibilita isso, apresentando uma grande mulher indígena, com suas dicotomias, crenças e vivência.

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