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Espetáculo Teatral | Eu sou um Hamlet

Espetáculo Teatral | Eu sou um Hamlet

Pouco tempo após receber a indicação ao Prêmio Shell na categoria Música, assinada na peça por Dani Nega, o monólogo “Eu sou um Hamlet” volta à cena dia 12 de outubro, às 20h, no Teatro da UFF, sob direção de Fernando Philbert. A peça marca o retorno do ator Rodrigo França ao teatro cinco anos após ter interpretado Martin Luther King Jr. nos palcos, agora na pele do clássico personagem conflituoso de William Shakespeare. Se valendo da tradução realizada por Aderbal Freire-Filho, Wagner Moura e Barbara Harrington para o texto do bardo, a adaptação foi escrita por Jonathan Raymundo, Philbert e França – os dois últimos retomando a parceria iniciada no espetáculo “Contos Negreiros”.

Utilizando as falas de Hamlet, a montagem coloca um espelho diante do mundo e reflete este tempo violento e pleno de segregações. Assim, nos evoca questionamentos acerca da sociedade de hoje, das relações humanas e da sua própria condição de humanidade enquanto homem negro no Brasil em sua jornada de autoconhecimento. Uma das primeiras dramaturgias do ocidente que busca refletir a humanidade, a peça amplia os seus dilemas a partir de um ator negro em sua encenação. A proposta é trazer essa consciência da realidade ao personagem. Ser ou não ser? Estar consciente ou não?

Lançando luz ao mito da democracia racial no Brasil – ou no reino da Dinamarca – esse Hamlet negro está diante no dilema de encontrar um discurso capaz de fazer repensar o hoje. Dilema este que levou o próprio Rodrigo França a se questionar se deveria ser ou não ser o emblemático personagem nesta montagem. Reforça perceber como essa tragédia colonial gerou uma espécie de homem negro esvaziado de si mesmo e tendo que piratear uma humanidade falsa, capenga, sempre sob suspeita, sempre no limite.

O que se passa no negro quando ele se torna consciente da sua condição? Da vulnerabilidade da sua segurança, nos jogos e sistemas que o coloca nas posições sociais mais degradantes, na justiça que, ao invés de cega, o enxerga sempre e mais. Como não surtar? Como não querer se matar ou matar? Como suportar a vida neste mundo? É preciso que os ancestrais voltem para iluminar um coração à beira do abismo, em meio a batalha com esta cultura de monstros.

“Shakespeare foi popular em sua época, o século XVI, ao encenar peças que se comunicavam com os mais diferentes tipos de pessoas, de nobres a populares. Não será diferente em nossa montagem. Não gosto da arte para poucos, com muros. Quero que a tia do Complexo do Alemão saia do teatro contemplada, assim como a madame do Leblon”, profere Rodrigo França. Junto de Fernando, tiveram a ideia da montagem durante um papo no bar que levava o nome do pai de França, na Lapa.

“Pensamos em fazer um Hamlet com um recorte sobre o racismo e o pensamento sobre o homem comum diante desta sociedade que ameaça os direitos e liberdades. Apresentamos um Hamlet que observa a tensão do mundo e quer entender como se chegou a isto. ‘Hamlet’ é a peça que lança o ser humano como objeto de pensamento ao refletir sobre o que pode aguentar diante do mundo e suas engrenagens que esmagam uma pessoa negra, LGBT, pobre, que luta por justiça que deseja ir de encontro às regras sociais que privilegiam o poder. Em nossa montagem Rodrigo pensa e busca entender o que está em sua volta e, nesta batalha solitária, as vozes dos ancestrais lhe traz coragem para seguir e desafiar os augúrios”, antecipa Philbert.

Para Rodrigo, estar à frente desta montagem é importante, sobretudo, para poder mostrar que os artistas negros podem fazer qualquer personagem. “E é incrível pegar este texto, que reflete o ser humano, e colocar no corpo e na voz de um ator negro. A peça respeita a obra de Shakespeare e, mesmo assim, sugere outros lugares que ainda não foram mostrados. Porque amor, ódio, fúria e vingança são pautas universais, mas que diferem pela subjetividade que cada grupo propicia. Tais sensações são naturais, mas como se sente é construído socialmente. Este homem negro buscando descobrir quem matou seu amado pai vai para outro contexto”, reflete França.

Para o ator, que divide seu tempo ainda como diretor, debatedor, filósofo, autor e escritor, a população negra ainda está em busca de ser humanizada no Brasil. “Só é tratado como humano aqueles que tem dignidade em suas estruturas. Estamos longe de uma equidade para existir uma reparação de nossas mazelas causadas pela escravização. Contextualizando ‘Hamlet’, os nossos fantasmas (ancestrais) ainda clamam. O Hamlet de Shakespeare quer vingança; no Brasil, os diversos ‘Hamlets’ só querem justiça. Imagina se quisessem vingança? Não posso dispersar, pois os meninos estão morrendo lá fora. E temos muito o que fazer”, finaliza Rodrigo França.

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: William Shakespeare

Tradução: Aderbal Freire-Filho, Barbara Harrington e Wagner Moura

Adaptação: Fernando Philbert, Jonathan Raymundo e Rodrigo França

Direção: Fernando Philbert

Elenco: Rodrigo França

Assistente de direção: Jonathan Raymundo

Dramaturgia sonora e trilha original: Dani Nega

Cenografia: Natália Lana

Assistente de cenografia: Alessandra Rodrigues

Montagem de cenografia: Marcinho Domingues Leandro Brander

Cenotécnico: André Salles

Iluminação: Pedro Carneiro

Operação de Luz: Lucas da Silva

Assistente de iluminação :Thayssa Carvalho e Jessica Barros

Figurino: Rodrigo Barros

Assistente de Figurino: Layza Dias

Preparação de elenco: Kennedy Lima

Coreografia: Valéria Monã

Pesquisa Yorubá: Gui Leal

Preparação física: Bia Black

Camareira: Cacierly Tiego

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação – Gisele Machado e Bruno Morais

RP: Anderson Oliveira

Formação de plateia e promoter: Naira Fernandes

Fotos: Márcio Farias

Fotos de cena: Nil Caniné

Videomaker: Felipe Franquim

Designer: Andreas Sartori

Direção de Produção: Rodrigo França e Deborah Oliveira

Produção executiva: Mery Delmond

Produtores Associados: Fernando Philbert e Rodrigo França

Realização: Diverso Cultura e Desenvolvimento, Mar Aberto Produções Artísticas e Orí Conhecimentos


12 e 13 de outubro de 2024
Sábado 20h | Domingo 19h
Teatro da UFF Rua Miguel de Frias, 9 – Icaraí – Niterói
Ingressos: R$ 40 (inteira) – R$ 20 (meia)
Canais de venda:
Guichê Web e Bilheteria
Classificação Indicativa: 12 anos

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