Evento
Por todos os cantos do globo, a violência e o crime aparecem como preocupação central dos cidadãos, da mídia, dos políticos, e mesmo do entretenimento, manifestada tanto nas páginas impressas – no dia-a-dia dos jornais ou nos livros de ficção – quanto nas telas de todos os tamanhos – através de filmes, séries de TV ou mesmo games. Ainda que nunca antes tenha havido tanta tecnologia de controle social e vigilância, o que a globalização tem revelado, e a narrativa criminal não tem deixado escapar, é a presença do crime como tema central na sociedade contemporânea.
Desde o início da Modernidade, o crime foi capaz de definir um gênero literário que tem mostrado enorme fôlego por mais de 150 anos, e que se expande por todo o mundo, assumindo novas formas por onde passa. Um gênero cujas obras e autores têm reconhecida relevância cultural e influência, não só por seu sucesso, mas também pelas questões sociais, políticas, econômicas e culturais que aborda.
O imediatismo que caracteriza o gênero, tantas vezes criticado, permite que suas obras respondam rapidamente às mudanças das sociedades, e incorporem a seus textos as ansiedades, a moral e os valores cambiantes. Discussões de classe, gênero ou raça, centrais na pauta contemporânea, tornam-se presentes. Temas tão variados como assassinato; terrorismo; tráfico de pessoas, de drogas e de armamento; corrupção e crimes de colarinho branco; assim como violências do Estado e do capital estruturam seus enredos. Aspectos psicológicos densos e sombrios sustentam seus personagens. E a estrutura textual que rege essas narrativas determina que tudo aquilo que está oculto, aquilo que não vemos, não ouvimos, e até o que não ousamos dizer, deve ser revelado.
Ao investigar todo e qualquer crime, e ao abordar os criminosos e a criminalidade como evidência do desvio das normas sociais, a ficção criminal oferece poderosa ferramenta de leitura que permite a seus leitores se debruçarem, muitas vezes com uma lupa, sobre as mudanças que atingem diferentes culturas no tempo e no espaço.
Trata-se de ESCRITOS SUSPEITOS, capazes de revelar o que há de mais assustador à nossa volta, assim como o que há de mais inconfessável em nós. Suspeitos quando trabalham no reforço da norma e suspeitos quando trabalham no questionamento dos desacertos dos grupos sociais. Suspeitos por suas vendas vultosas e pelo silêncio eloquente de grande parte da crítica.
Aqui o silêncio se quebra. Abrem-se as portas para a investigação das origens e do desenvolvimento da ficção criminal, assim como das transformações que permitiram a longevidade e o alcance geográfico que fazem do gênero um fenômeno cultural de extrema relevância no mundo contemporâneo.