Evento
Vozes da Alma: Tradição e Vida em Harmonia
Neste concerto, observa-se um fascinante paralelo entre as fases de vida de três compositores. Villa-Lobos, aos 28 anos, estava no início de sua jornada criativa com o primeiro de seus muitos quartetos, explorando sua identidade musical em diálogo com as tradições brasileiras. Haydn, em contraste, já havia alcançado a maturidade plena aos 65 anos, compondo o Quarteto Op. 76 n° 6 com a maestria de um veterano que, após décadas de inovação, consolidava seu legado no gênero. Por fim, encontramos Smetana, aos 52 anos, compondo o Quarteto “Da Minha Vida” num momento de profunda crise pessoal devido à surdez. Enquanto Villa-Lobos buscava moldar seu futuro e Haydn celebrava o domínio de seu ofício, Smetana refletia sobre a vida passada, transformando a dor em música de notável intensidade emocional. Esses três momentos distintos oferecem uma rica tapeçaria de experiências de vida, que se entrelaçam neste programa como um testemunho da força criativa em diferentes estágios da existência.
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – O Quarteto de Cordas n°1 (1915) foi o primeiro quarteto de uma série de 17 e nele Villa-Lobos e já revela a genialidade e originalidade do compositor. A obra mescla elementos da música tradicional brasileira com a forma clássica do quarteto de cordas, criando um diálogo entre o popular e o erudito. Com ritmos e melodias que evocam paisagens e sentimentos profundamente enraizados na cultura nacional, a peça transborda vitalidade. refletindo a alma vibrante do Brasil.
Joseph Haydn (1732-1809) – Reconhecido como o “pai do quarteto de cordas”, Haydn foi um dos mais importantes inovadores do gênero. O Quarteto Op. 76 n° 6 (1797), o último de uma série de seis, é uma obra que reflete a maturidade criativa de Haydn, composta aos 65 anos. Com um equilíbrio perfeito entre técnica e emoção, este quarteto apresenta riqueza melódica e uma estrutura que exemplifica sua maestria formal. Embora fiel à tradição clássica, Haydn insere humor, frescor e sensibilidade, mostrando como a música pode se renovar e permanecer viva através dos séculos.
Bedřich Smetana (1824-1884) – O Quarteto “Da Minha Vida” (1876) é uma obra profundamente pessoal, composta como uma autobiografia musical. Em 1874, Smetana começou a sofrer os primeiros sintomas de surdez, e dois anos depois, já completamente surdo, compôs esta obra que narra os momentos mais marcantes de sua vida. Através de suas quatro partes, o compositor tcheco expressa tanto a alegria quanto a dor, a esperança e a tragédia de sua trajetória. O poderoso final retrata sua condição física e emocional, refletindo o impacto devastador da perda auditiva. Este quarteto é um exemplo claro de como a música pode servir como uma janela para a alma do compositor, permitindo ao ouvinte sentir o que ele viveu.
Ubiratã Rodrigues, novembro, 2024
Programa
Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
Quarteto de Cordas n°1 (1915)
III. Canto lírico (Moderato)
Joseph Haydn (1732-1809)
Quarteto em Mi bemol maior, Op.76, n°6 “Fantasie” (1797)
III. Menuet: Presto
Bedřich Smetana (1824-1884)
Quarteto de Cordas n°1, Mi menor, “Da Minha Vida” (Z mého života-1876)
III. Largo sostenuto
Quarteto de Cordas da UFF
Tomaz Soares, 1º violino
Ubiratã Rodrigues, 2º violino
Clara Santos, viola
Glenda Carvalho – violoncelo (licenciada)
Kayami Satomi – violoncelo (substituto convidado)
24 de Novembro de 2024
Domingo | 10h30
Cine Arte UFF
Rua Miguel de Frias, 9 – Icaraí – Niterói
Ingressos: R$30 (inteira) – R$ 15 (meia)
Canais de venda: Guichê Web e Bilheteria