UFF Responde: Coqueluche

O RJ registrou um aumento de mais de 300% de casos da doença até julho de 2024, comparado ao ano de 2023 inteiro.

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Baixa cobertura vacinal favorece o avanço da doença no Brasil e no mundo

O Boletim Epidemiológico do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) apresentou que, entre janeiro e março de deste ano, mais de  32 mil casos de coqueluche foram registrados na região em pelo menos 17 países da União Europeia. A situação gerou um alerta mundial e preocupa devido ao início dos Jogos Olímpicos de Paris.

Em nota técnica publicada em junho, o Ministério da Saúde recomendou que estados e municípios intensifiquem a vacinação contra a doença e fortaleçam as ações de vigilância epidemiológica. No Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde também emitiu um aviso após o estado registrar um aumento de mais de 300% de casos da doença até julho de 2024, comparado ao ano de 2023 inteiro.

Entrevistamos o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da Federação Internacional de Controle de Infecção (IFIC), André Ricardo Araujo da Silva, para explicar as causas do surto de coqueluche no mundo, como diagnosticar a doença e os meios de prevenção.

Pode explicar mais sobre o que é coqueluche?

A coqueluche, também chamada de pertússis, é uma doença infecciosa cujo único reservatório é o ser humano. É causada pela bactéria Bordetella pertussis, e é uma doença transmitida pelo ar que se espalha facilmente através da tosse e os espirros de uma pessoa infectada.

Como é transmitida a coqueluche, quais os sintomas da doença e como é possível diagnosticá-la?

A coqueluche é transmitida por meio de gotículas respiratórias expelidas quando uma pessoa infectada tem tosse ou espirra e o contato próximo facilita a transmissão da bactéria. Os sintomas começam como um resfriado comum, com coriza e mal-estar. Progressivamente, surge uma tosse intensa em paroxismos, que são crises de tosse seguidas de um som agudo de inspiração profunda, conhecido como guincho. Em crianças pequenas, isso pode ser seguido de vômitos. A febre é geralmente ausente ou de baixo grau. Esses sintomas podem durar de 6 a 10 semanas, diminuindo gradualmente em intensidade. O diagnóstico da doença é feito através de exames laboratoriais específicos para identificar a presença da bactéria Bordetella pertussis.

Como tratar e prevenir a coqueluche?

O tratamento da coqueluche envolve o uso de antibióticos para eliminar a bactéria e medidas de suporte para aliviar os sintomas. É importante o tratamento precoce para reduzir a transmissão e a gravidade da doença.
Quanto à prevenção, a melhor delas é a vacinação. A vacina é oferecida gratuitamente pelo Ministério da Saúde e é administrada em várias etapas: aos 2, 4 e 6 meses de idade, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos. A vacinação é altamente eficaz e essencial para proteger as crianças.

Quais são os principais grupos de risco da doença?

Os grupos de risco incluem crianças menores que não completaram o esquema vacinal, idosos e pessoas que não receberam os reforços adequados da vacina. Esses grupos estão mais suscetíveis à infecção e podem atuar como reservatórios, perpetuando a transmissão da doença.

O que explica o aumento de casos da doença em países da União Europeia e mais recentemente no Brasil?

O aumento de casos é resultado de uma combinação de fatores. Um deles é o movimento antivacina, que tem sido um problema desde o lançamento das vacinas. Com o avanço da internet nos últimos 10 a 15 anos, a disseminação de informações falsas aumentou, levando muitos pais a não vacinarem seus filhos. Além disso, a proteção da vacina diminui com o tempo, geralmente entre 6 a 12 anos, necessitando de reforços. Sem esses reforços, a proteção da população diminui, resultando em um aumento de casos, como observado na Europa.

Qual a situação epidemiológica no Estado do RJ?

No Rio de Janeiro, assim como em outras regiões, alguns casos de coqueluche têm sido registrados. É necessário monitorar se essa tendência é temporária ou persistente. O diagnóstico da bactéria requer exames específicos, pois só os sintomas clínicos não são suficientes para identificar a coqueluche. O aumento de suspeitas e pedidos de exames pode levar à detecção de casos.

Diante da queda da taxa de vacinação, quais alternativas para a saúde pública enfrentar a coqueluche?

A saúde pública deve investir em campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação e disponibilizar ferramentas, como os cartões de vacina, gratuitamente. É crucial educar as famílias sobre a importância de manter o esquema vacinal atualizado e estimular a vacinação não apenas contra a coqueluche, mas contra todas as doenças preveníveis por vacina, garantindo uma cobertura vacinal ampla para proteger a população.

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André Ricardo Araujo da Silva é membro permanente do corpo docente do Mestrado Profissional em Saúde Materno-Infantil da UFF. Membro da Federação Internacional de Controle de Infecção (IFIC).Membro colaborador da OMS para a atualização das diretrizes de manejo clínico e tratamento da COVID, da INFLUENZA e manejo da MIS-C pediátrica. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Medicina, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão de antimicrobianos, prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde em neonatologia e pediatria, ensino médico, multirresistência antimicrobiana, COVID-19, vírus respiratórios. É membro da Comissão Permanente de Vigilância de Agravos à Saúde Humana e Animal.

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