Em entrevista à equipe da Eduff, a professora Walcéa Alves explica o processo de investigação etnográfica que deu origem ao livro “A escola no espelho: as representações do aluno” (Eduff) bem como seus desdobramentos. Produzida em coautoria com Mary Rangel, a obra analisa como o aluno é imaginado e se imagina nos espaços, tempos e contextos da escola.
Se para alguns estudantes, a vivência escolar é bem sucedida, para outros pode ser proporcionalmente desastrosa. Em ambos os casos, os processos de interação e representação social podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da aprendizagem. A partir da interface entre educação e psicologia, as autoras se propõem a compreender como as representações que permeiam a construção da imagem da escola interferem na construção subjetiva da identidade do estudante.
“A escola no espelho” será lançado no próximo domingo, 8 de novembro, durante o XX Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, que será realizado on line, a partir das 11h. Clique aqui e saiba como participar do evento virtual.
Confira, a seguir, a entrevista completa com Walcéa Alves:
Eduff – Como surgiu o interesse por analisar a representação dos estudantes no meio escolar?
Walcéa Alves – O interesse por essa temática surgiu a partir de estudos desenvolvidos no mestrado sobre o tema da reflexividade na pesquisa etnográfica em educação. A partir do interesse em aprofundar o conceito de reflexividade, entendendo-a como espelhamento, encontrei no estudo da Teoria das Representações Sociais um caminho para compreender, via pesquisa, como os processos educacionais na escola são vivenciados e significados a partir da perspectiva do aluno, buscando suas representações.
Eduff – E quais foram os objetivos principais da sua pesquisa?
Walcéa Alves – No contexto da trajetória escolar, pesquisas revelam que há alunos que passam pelo processo de escolarização de uma forma positiva, enquanto outros atravessam inúmeras dificuldades, acabando, por vezes, enfrentando o fracasso escolar. Entendendo que esses processos estão compostos pelas relações e significações que se constroem no meio social, o objetivo principal da pesquisa foi compreender de que forma as representações sociais da escola interferiam na autorrepresentação do aluno e, consequentemente, no processo de ensino-aprendizagem.
Eduff – Como foi desenvolvida a pesquisa no ambiente escolar? Foram realizadas entrevistas, conversas em grupo?
Walcéa Alves – Foi realizada uma pesquisa multimétodos, sendo a etnografia o eixo teórico-metodológico principal articulada a metodologias do campo da Teoria das Representações Sociais. Foi realizada observação participante, com descrição densa dos eventos ocorridos na sala de aula, sala de professores, conselhos de classe, pátio da escola e eventos internos. Foi realizado, ainda, grupo focal e aplicado questionário de evocação livre.
Eduff – O que mais chamou a sua atenção durante o processo de investigação junto às escolas escolhidas e aos estudantes entrevistados?
Walcéa Alves – O que mais chamou a atenção foi a influência das interações e significações sociais no comportamento e no processo de reflexividade dos estudantes sobre a escola e sobre si mesmos enquanto alunos.
Eduff – Qual a importância de aliar as pesquisas em psicologia social às de educação?
Walcéa Alves – Pesquisas e temáticas em psicologia social integram-se e contribuem para as pesquisas em educação à medida em que apresentam questões e elementos fundantes para compreensão dos aspectos psicossociais das relações entre indivíduo e sociedade. No caso específico desse estudo, a interface entre psicologia social e educação se deu a partir do estudo das representações sociais e sua interface com a escola, contribuindo com elementos teóricos e metodológicos para a investigação, tendo em vista os aspectos de prática social interseccionados pelas significações produzidas pelos grupos sociais.
Eduff – É possível estabelecer uma relação entre o desempenho escolar do estudante e a imagem que ele faz de si mesmo e do ambiente escolar no qual está inserido?
Walcéa Alves – A partir das falas dos estudantes e dos eventos de interação observados em todo o percurso da pesquisa, é possível afirmar que sim, visto que a escola tem seu lugar na representação social do aluno e que esse lugar, em ressonância, demarca também o lugar que o próprio aluno ocupa nessa realidade. Mais que isso, demarca os princípios que o conduzirão ao sucesso ou ao fracasso escolar.
Eduff – De que forma compreender a representação social da escola e a “autorrepresentação” do aluno pode auxiliar na elaboração de políticas educacionais?
Walcéa Alves – A compreensão sobre as questões que emergem da escola a partir dos sujeitos que a compõem deve ser a base para a elaboração de políticas educacionais. No caso desse estudo, a representação social da escola e a autorrepresentação refletem questões que entremeiam o sucesso e o fracasso escolar via aspectos ligados à avaliação interna e externa, aos conteúdos curriculares, à (des)valorização do trabalho docente, a elaboração de metas e recompensas (ou perdas) pelo desempenho das escolas, entre outros. Tais representações desvelam caminhos para a construção de políticas educacionais que promovam condições efetivas de superação das desigualdades e da exclusão sócio-educacional.
Eduff – A que público a senhora acredita que pode interessar a leitura de “A escola no espelho”?
Walcéa Alves – Esse livro se destina a docentes e pesquisadores/as da educação básica e do ensino superior, estudantes da graduação e da pós-graduação, outros/as profissionais da área da educação, da psicologia social e educacional e a estudiosos/as da Etnografia e da Teoria das Representações Sociais.
Sobre as autoras:
Walcéa Barreto Alves – Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFF, docente no Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC/UFF). Líder do Núcleo de Estudos Contemporâneos em Educação, Etnografia e Representações Sociais (Neceers/UFF/CNPq), é editora da Revista Aleph Online (UFF). Graduada em Psicologia (UERJ). Mestre em Educação (Uerj), doutora em Educação (UFF), com pós-doutorado em Educação (Uerj).
Mary Rangel – Professora titular de Didática (UFF). Docente nos programa de pós-graduação em Educação da UFF e em Ciências Médicas (Uerj). Professora titular da área de Ensino-Aprendizagem (Uerj). Líder dos grupos de pesquisa Ação Docente Continuada (UFF/Uerj/CNPq) e Saúde Social: Diversidade, Inclusão, Resiliência (Uerj/CNPq). Doutora em Educação (UFRJ), com pós-doutorado em Psicologia Social (PUC-SP).
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