No mês do Orgulho LGBTQIA+, o professor da UFF Bruno Lopes Vieira cedeu uma entrevista para o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, de sigla IEEE (pronuncia-se I-3-É), é a maior organização profissional do mundo. Leia na íntegra:
A Força Tarefa de Diversidade e Inclusão apresenta Orgulho em STEM, com Dr. Bruno Lopes Vieira, Professor da Universidade Federal Fluminense (IC/UFF) e pesquisador do FR∀M∃ Lab.
Nesta entrevista, o Dr. Lopes Vieira afirma que o respeito é inegociável. No início de sua carreira, os comentários foram passados como piadas. São experiências como essa que destacam a necessidade de mais líderes LGBTQ+ se abrirem, para que estudantes e profissionais em início de carreira saibam que não estão sozinhos.
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Por que você escolheu seu campo técnico atual?
Dr. Lopes Vieira A informática sempre me fascinou. Quando estava no ensino médio, comecei a aprender a programar e decidi seguir a carreira de Cientista da Computação. Logo no início da minha carreira de pesquisa, falhas de software chamaram minha atenção e foi bastante natural tentar entender como evitá-las. Decidi estudar sistemas baseados em lógica, e rapidamente fui absorvido pelas possibilidades ilimitadas: formalizar especificações, demonstrar propriedades, entender a complexidade dos problemas, projetar sistemas e ferramentas mais adequados… Sempre há algo novo para aprender e descobrir!
Como é um dia ou semana típico para você como professor?
Dr. Lopes Vieira Minhas semanas são principalmente divididas em aulas e pesquisas. A pesquisa leva à possibilidade de fingir que não existe rotina! Apesar de estar na universidade de segunda a sexta, sempre tenho algo novo para aprender e várias ideias para experimentar. Estar em contato com os alunos é uma grande parte da minha semana: as aulas são um bom lugar para voltar ao básico, e envolver os alunos em atividades de pesquisa permite que novas ideias surjam (é sempre bom ver os alunos se tornando independentes e desenvolvendo suas próprias carreiras ).
Qual foi o seu maior desafio profissional como membro da comunidade LGBTQ+ e como você o superou?
Dr. Lopes Vieira Garantir o respeito foi um desafio em algum momento. O mundo está cheio de preconceitos e não podemos fingir que isso acabou (não está nem perto de ser). Não é incomum (principalmente no início da carreira) ser desrespeitado em alguns comentários disfarçados de “brincadeiras”. Por isso a representatividade é tão importante. Estudantes e pesquisadores em início de carreira devem saber que não estão sozinhos e que não são obrigados a ouvir esses comentários. Isso é absolutamente desafiador, entender que você deve exigir ser respeitado.
Qual é um conselho que você pode dar a estudantes LGBTQ+ e profissionais em início de carreira?
Dr. Lopes Vieira Entenda que você não está sozinho. Entenda que você deve ser respeitado. Às vezes sabemos tudo isso, mas mesmo assim deixamos o preconceito nos enganar. Representação importa, procure grandes nomes LGBTQ+ em sua área e use-os como inspiração. Não tenha vergonha de quem você é, todo mundo é diferente, e a diferença é algo que torna o mundo um lugar bem interessante.
Quem é um modelo que você admira pessoalmente e por quê?
Dr. Lopes Vieira Meus orientadores: Edward Hermann Haeusler e Gilles Dowek (D.Sc.), Alejandro C. Frery (M.Sc.) e Eliana Silva de Almeida (B.Sc.). São profissionais brilhantes que me orientaram em pontos centrais do início da minha carreira. Aprendi rigor em ciência e ética com eles. Eles sempre me incentivaram e me apoiaram, e tento fazer o mesmo pelos meus alunos. Um conselheiro de apoio torna as coisas mais fáceis.
Há algum problema na indústria que a comunidade de computação precisa estar ciente?
Dr. Lopes Vieira Empregar pessoas sub-representadas não significa que você seja uma empresa inclusiva. A inclusão também requer tornar as pessoas confortáveis, seguras (ser e sentir) e respeitadas. As pessoas precisam que suas vozes e ideias sejam ouvidas e consideradas. Eles devem estar envolvidos na liderança, não apenas em posições de base.
Com base em suas experiências pessoais, qual é um passo que as empresas/universidades podem tomar para tornar o Stem mais acolhedor e inclusivo para os membros da comunidade LGBT+?
Dr. Lopes Vieira Dar visibilidade e representatividade (na verdade não só para a comunidade LGBTQ+ mas para todos os grupos sub-representados). É importante ver que existem mais pessoas como você e que algumas delas são grandes nomes em seu campo. Mas a tarefa mais difícil é garantir um processo de inclusão real e não apenas dar visibilidade a um grupo sub-representado, mas sem uma inclusão real no campo. Cada empresa/universidade deve entender seu cenário local, quais são os problemas e necessidades e só então planejar cada passo (não acredito em soluções gerais). Compreender a sua realidade local é o primeiro passo para a inclusão real.
Qual é uma coisa em seu campo ou dentro da computação que você está mais animado?
Dr. Lopes Vieira As possibilidades ilimitadas: tratamos as provas como objectos. A lógica formal lida com processos rigorosos de raciocínio, mas sempre há novos cenários e novas demandas em que os sistemas e ferramentas de prova podem ser inadequados. Temos que lidar com a expressividade e a complexidade e verificar se elas são adequadas para cada problema. Sempre temos algo novo para desenvolver e novas propriedades para investigar.
Sobre o Dr. Bruno Lopes Vieira:
Bruno Lopes HeadshotDr. Lopes é um homem gay, cis, que se assumiu como professor da Universidade Federal Fluminense em Niterói, Brasil. Seu marido pode ser visto acompanhando-o em eventos sociais.
Sua pesquisa é em lógica, mas também trabalha em campos aplicados. Seus interesses incluem prova de teoremas automatizada e interativa, linguagens de coordenação, lógica dinâmica, métodos formais, lógica modal, redes de Petri e teoria da prova.
Dr. Lopes também é coordenador do grupo de Interesse em Lógica da Sociedade Brasileira de Computação e fez parte do Comitê Diretivo da Sociedade Brasileira de Lógica.
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