A preparação para a entrada no mercado de trabalho é uma preocupação constante na vida do jovem universitário. Na busca de possibilidades para enriquecer o currículo, muitos recorrem às empresas juniores como melhor opção de uma primeira experiência profissional. Existente no Brasil desde 1988, esse modelo de atividade acadêmica acaba de ser regulamentado através do projeto de lei 13.267, sancionado no dia 6 de abril de 2016.
Ambientadas dentro da universidade, essas empresas têm como principal proposta colocar em prática a teoria aprendida na sala de aula de forma a capacitar seus membros ao meio profissional. Elas devem ser entidades autônomas, sem fins lucrativos e apartidárias.
Segundo a nova lei, podem participar apenas estudantes regularmente matriculados na graduação de instituições de ensino superior. Para o desenvolvimento do projeto, as empresas devem estar vinculadas a um ou mais cursos, que estejam relacionados ao conteúdo programático, focando sempre no aprendizado. Também ficou determinado que o plano acadêmico deve ser aprovado pelo colegiado da unidade de ensino a que as empresas estão ligadas.
A legislação também prevê que elas poderão cobrar pela elaboração de produtos e serviços prestados, independente de autorização do conselho regulamentador de sua área profissional, desde que haja supervisão de professores orientadores ou de profissionais habilitados. A renda obtida deve ser investida na própria empresa e seus associados devem exercer trabalho voluntário.
Todos nossos egressos estão em posições bem interessantes no mercado de trabalho.” – Emmanuel Paiva de Andrade
A repercussão da nova regulamentação tem sido positiva na Universidade Federal Fluminense, que já conta com um grande número de empresas juniores de renome como a Meta Consultoria, existente há mais de 20 anos.
Maria Olivia Fonseca, estudante de Engenharia de Produção e diretora presidente da Meta, acredita que a lei é um grande avanço em visibilidade. “Depois de ser aprovada e regulamentada, foi muito divulgada na internet. As pessoas começaram a comentar, até mesmo as que não sabiam do que se tratava. E a nova legislação é justamente para explicar o que é uma empresa júnior e o que é preciso para criar uma”, explica.
Além de ampliar o conhecimento sobre a questão, existem também outros fatores de ordem prática. Segundo Lucas Guimarães, diretor de marketing da P&Q Engenharia, a atividade passará a contar como projeto de extensão, cortando horas de estágio e orientação, no caso dos docentes. “Isso nos ajuda, pois passa a ser interessante para os professores nos orientar”, ressalta.
Outro ponto importante é a aproximação entre universidade e empresa. “É uma base para criar um relacionamento melhor com a UFF”, explica Affonso Oliveira. O presidente da Opção Consultoria também ressalta que a regulamentação tornou constitucional as práticas que já eram realizadas informalmente, dando maior respaldo às atividades desenvolvidas e proporcionando maior credibilidade no mercado.
Os alunos que estiverem interessados em criar uma empresa júnior devem realizar uma assembleia e posteriormente registrar a organização em cartório. Todas devem ter CNPJ, mas não podem ter um proprietário, sendo todos os alunos signatários. Também será necessário entrar em contato com o colegiado do curso responsável para a devida aprovação do plano acadêmico. A instituição de ensino superior será autorizada a ceder espaço físico de forma gratuita.
Foram ouvidas a Meta Consultoria, P&Q Engenharia, Opção Consultoria, Aghra e Pacto Consultoria. Todas as empresas são federadas e já estão atuando em conformidade com o novo regulamento.
A Confederação Brasileira de Empresas Juniores foi a principal responsável por levar o projeto de lei adiante desde o início de 2012. A Brasil Júnior é associada ao Movimento Empresa Júnior, surgido na França na década de 60 e no Brasil em 1988. Ela atua como instância representante do movimento, assume a função de auxiliar na qualificação e desenvolvimento dessas entidades e é composto por federações estaduais. No Rio de Janeiro, a dirigente é a Rio Júnior.
Experiência com empresa júnior é diferencial no mercado de trabalho
Muitos universitários veem nas empresas juniores uma oportunidade de primeiro contato com o ambiente profissional. A maioria entra ainda nos primeiros períodos, quando muitos cursos nem permitem o estágio. Para Andrew de Jesus, ex-integrante da Meta Consultoria, esse aprendizado foi fundamental para seu aperfeiçoamento. Ele relata também que o envolvimento com a atividade o ajudou em processos seletivos. “Ganhei uma boa visão de trabalho em equipe, adquiri mais responsabilidade e o mercado realmente valoriza a participação nesse tipo de organização”, conta.
Formado em engenharia de produção, Andrew agora está cursando pós-graduação e atribui sua conquista à experiência adquirida com a empresa. “O mais importante, é que eu estou fazendo um mestrado em finanças devido a minha prática na área financeira da Meta. Se não fossem esses dois anos e mais um como conselheiro, eu não teria ganhado uma visão tão boa. Então, ela acabou sendo essencial para definir o que estou fazendo hoje em dia”, explica.
O professor Emmanuel Paiva de Andrade, do núcleo de Engenharia e fundador da Meta, ressalta o caráter inovador dessa modalidade empresarial. “Todos nossos egressos estão em posições bem interessantes no mercado de trabalho. Nas empresas juniores, o aluno adquire uma vivência única, podendo ainda muito jovem ser presidente de uma empresa associada a uma federação mundial.” Para o professor, há uma vantagem também para o pequeno empreendedor que agora pode ter acesso a um serviço de consultoria mais barato e de qualidade.