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Descoberta científica brasileira recebe prêmio da Sociedade Americana de Ficologia

Prêmio

Um estudo realizado por professores, pesquisadores e alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Portsmouth University (Inglaterra) recebeu, no dia 28 de julho, o prêmio de melhor artigo científico, o Provasoli Award, concedido pela Sociedade Americana de Ficologia (Phycological Society of America).

A entidade reconheceu o trabalho Mevalonosomes: specific vacuoles containing the mevalonate pathway in Plocamium brasiliense cortical cells (Rhodophyta) como melhor artigo publicado em 2015 na conceituada revista Journal of Phycology. A pesquisa foi liderada pelo professor Renato Crespo Pereira do Departamento de Biologia Marinha da UFF e pelos pesquisadores Gilberto M. Amado Filho e Leonardo T. Salgado, ambos do JBRJ.

A premiação, de reconhecimento mundial, é concedida anualmente desde 1986 e esta é a primeira vez que um grupo de pesquisa brasileiro é agraciado com tal honraria. O primeiro autor do artigo, professor Wladimir Costa Paradas (JBRJ), foi quem recebeu o prêmio na sessão de encerramento do encontro da Sociedade Americana de Ficologia, realizada na John Carroll University, Cleveland, Ohio (EUA).

A pesquisa destaca os aspectos da importância evolutiva da produção e compartimentalização de substâncias que podem auxiliar algas e plantas a armazenar e secretar substâncias que atuam na mediação das interações com competidores, organismos incrustantes e herbívoros. A descoberta principal do trabalho é de que a enzima que catalisa o primeiro passo da via de biossíntese do ácido mevalônico é encontrada em estruturas celulares que ainda não haviam sido descritas e que foram batizadas pelos autores com o nome de mevalonossomos.

Renato Crespo explica que se trata de uma estrutura subcelular inédita na qual encontraram o ácido mevalônico e onde podem existir outras enzimas que participam da síntese de terpenos (substâncias de origem vegetal e animal). “Estas estruturas são locais de armazenamento destas substâncias tóxicas para os próprios organismos que as produzem e em Plocamium (espécie de macroalga marinha) não sabíamos onde elas ficavam. A enzima já era conhecida, o fato novo é a descoberta de onde ela se localiza nessa alga, uma vez que nos demais organismos ela se encontra em outros locais”, conclui.

A linha de pesquisa desenvolvida pelo grupo de pesquisa está focada na caracterização das vias de biossíntese de produtos naturais ou metabólitos secundários, processos de armazenamento celular e fornecem informações acerca da toxicidade, funções ecológicas e aplicabilidade biotecnológica de substâncias naturais na indústria farmacêutica e de anti-incrustantes.

Segundo Crespo, essa capacidade anti-incrustante das substâncias de Plocamium é importante para a indústria naval. Elas seriam menos agressivas para o ambiente, uma vez que já existem vias naturais de degradá-las. “As tintas atuais possuem metais pesados altamente poluentes e as substâncias advindas de organismos marinhos seriam uma alternativa ambientalmente compatível”, explica. O pesquisador ressalta que estas substâncias também impedem que organismos incrustantes cresçam sobre algas que as produzem e assim evitam a redução da fotossíntese devido ao ‘sombreamento’ que causam, aumento de peso, consequente desprendimento do substrato, etc.

Durante a pesquisa, foi observado que, apesar do alto potencial biotecnológico das substâncias desses organismos (como fármacos e anti-incrustantes), são raros os fármacos de origem marinha à venda e também não há anti-incrustantes disponíveis no mercado. De acordo com Renato Crespo, a razão dessa escassez é o fato de serem produzidas em pouca quantidade pelos organismos e obtê-las em larga escala é algo muito difícil. Além disso, explorar populações naturais que as produzem pode levá-las à extinção. “Enfim, o gargalo é justamente a obtenção sustentável destas substâncias sem comprometer as populações naturais. O conhecimento de onde estas substâncias são biossintetizadas na macroalga Plocamium pode auxiliar na otimização da produção destas substâncias por espécies mantidas, por exemplo, em cultivos no mar”, ressalta o professor.

Participaram também, como coautores do artigo, os professores Alphonse Kelecom e Bernardo A P. Gama (UFF), Angélica Ribeiro Soares e Leonardo R. Andrade (UFRJ), Claire Hellio (Portsmouth University, Inglaterra) e os alunos de graduação e pós-graduação Ricardo R. Paranhos (UFF), Geysa M. Soares, Lilian J. Hill (JBRJ) e Thalita M. Crespo (JBRJ). O CNPq, a Faperj e a Capes apoiaram financeiramente a pesquisa até 2015.

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