A UFF, através do Programa de Pós-Graduação em Patologia, avança e reafirma sua inserção no âmbito científico internacional. O aluno de doutorado do programa, Marcos Gabriel Pinheiro, é um dos autores do artigo publicado em um relevante periódico, “Science Translational Medicine”, voltado à área médica e criado em 2009 pela Associação Americana para o Avanço da Ciência. O estudo contou com a orientação do vice-coordenador do curso de Biomedicina, Fábio Alves, e participação da professora do Departamento de Ciências Básicas da Faculdade de Odontologia e Fonoaudiologia, Etyene Dip, ambos do campus Nova Friburgo.
O trabalho intitulado “Investigação de genes de virulência em modelo de pneumonia causada por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina em coelhos” foi desenvolvido durante o treinamento de Marcos com o pesquisador Binh Diep da Universidade da Califórnia de San Francisco (UCSF), onde o aluno teve a oportunidade de trabalhar em um dos laboratórios de referência mundial na pesquisa de doenças infecciosas.
O estudo, publicado em setembro deste ano, visa a utilização de imunoglobulinas por via intravenosa para proteção contra pneumonia necrosante causada por Staphylococcus aureus em um modelo de infecção em coelhos. Este modelo pré-clínico propõe o uso de imunoglobulinas, isoladas ou combinadas com antimicrobianos, para conceder proteção e melhorar o prognóstico da doença causada por diferentes tipos de cepas epidêmicas do vírus resistentes ao antibiótico meticilina.
Segundo o orientador, Fábio Alves, “esta publicação tem grande importância para a UFF e, com certeza, para o Programa de Pós-graduação em Patologia. Uma publicação de alto impacto como esta propicia novas colaborações, possibilidades de conseguir novos projetos de pesquisa e aumenta a qualidade da pesquisa nos setores onde os pesquisadores envolvidos estão inseridos”.
Para a professora Etyene Dip, o trabalho “Investigação de genes de virulência em modelo de pneumonia causada por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina em coelhos”, resultado de seu pós-doutorado na UCSF, possibilitou levar a tecnologia de indução de pneumonia em coelhos para o campus Nova Friburgo, onde coordena o Laboratório do Biofilme do Staphylococcus aureus. “É um passo muito importante da nossa pós-graduação em estudos translacionais e na internacionalização da UFF”, conclui.
Abaixo, o doutorando Marcos Gabriel Pinheiro explica alguns aspectos relevantes da pesquisa.
O que motivou a realização de uma pesquisa sobre a utilização de imunoglobulinas por via intravenosa para proteção contra pneumonia necrosante causada por staphylococcus aureus?
Imunoglobulinas são células de defesa que, dependendo de onde atuam e onde são produzidas, pode ocorrer uma variação de sua estrutura, existindo, assim, várias formas desses anticorpos. Alguns estudos já foram realizados utilizando as imunoglobulinas como tratamento adjuvante em pneumonia causada por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA), porém muitos países ainda não adotaram esta prática clínica. A necessidade de soluções que diminuam a ocorrência da doença ou potencialize seu tratamento nos levou a investir nesta ideia. A imunoglobulina intravenosa (IVIG) contém anticorpos que, agrupados, neutralizam as toxinas e danificam células e tecidos pulmonares produzidos pelas Staphylococcus aureus resistentes à meticilina adquiridas na comunidade (CA-MRSA).
O que é a pneumonia necrosante? Fale-nos um pouco da importância dos resultados obtidos na pesquisa em relação à imunização ativa e passiva em modelo desse tipo de pneumonia.
Pneumonia necrosante é uma complicação associada à desvitalização do tecido pulmonar durante a infecção e aparecimento subsequente de focos de necrose em áreas consolidadas. Os resultados positivos são de grande relevância para o tratamento e profilaxia da pneumonia causada por MRSA, pois, atualmente, não temos estas ferramentas claramente definidas para a prática clínica. O crescimento da resistência bacteriana a diferentes classes de antibióticos faz com que o tratamento desta doença esteja cada vez mais prejudicado.
Há previsão de que esse modelo pré-clínico utilizado em coelhos durante a pesquisa seja testado em humanos?
Não posso afirmar se há uma previsão. Porém, os testes em coelhos mimetizam de forma bem próxima a resposta imunológica dos seres humanos, além dos coelhos também serem sensíveis as duas principais toxinas que são importantes para que ocorra a infecção nos pulmões a PVL e α-hemolisina.
Como surgiu a chance de desenvolver o trabalho durante seu treinamento com o pesquisador Binh Diep da Universidade da Califórnia de San Francisco (UCSF)?
O meu doutorado sanduíche pelo Ciência Sem Fronteiras foi programado na mesma época em que este estudo estava sendo desenvolvido, por isso ganhei espaço no laboratório desse professor. A necessidade do aprendizado das diversas técnicas utilizadas no laboratório para desenvolvimento do doutorado me deu a oportunidade de participar deste trabalho e de mais três, que também serão publicados em breve. Além disso, estou defendendo a tese para voltar à UCSF e fazer o pós-doutorado o quanto antes no laboratório, a convite do meu co-orientador externo, Binh Diep.
O laboratório da UCSF é referência mundial em pesquisas com doenças infecciosas. Como você avalia a experiência adquirida lá?
Trabalhar no laboratório do pesquisador que foi autor do primeiro artigo que eu li na minha iniciação científica foi uma experiência sem igual. Pude aumentar bastante meu conhecimento, tive contatos com pesquisadores renomados na nossa área, além de contar com a enorme estrutura da Universidade da Califórnia, que é referência em diversas áreas de pesquisa. Em sua história acadêmica, a universidade já recebeu quatro prêmios Nobel.
O que o artigo publicado na Science Translational Medicine representa para seu crescimento enquanto pesquisador?
É uma satisfação muito grande participar desta publicação de altíssima qualidade científica. Através dela, pude desfrutar do aprendizado de diversos métodos e novas técnicas que irão me auxiliar no desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vivência acadêmica.
Para ler o artigo, acesse: http://stm.sciencemag.org/content/8/357/357ra124.full.pdf+html