Com a intenção de se tornar uma universidade cada vez mais inclusiva, após intensas negociações, a UFF receberá um investimento externo de R$ 619.289,00 destinado a obras de ampliação da acessibilidade em seus campi. A verba é proveniente de emenda parlamentar e vai ao encontro das ações de inclusão planejadas e desenvolvidas pela instituição através do Grupo de Trabalho Acessibilidade (GT).
Formado por representantes de diversos setores, o objetivo do grupo é elaborar o programa UFF-Acessível, que fomenta a implantação e consolidação de políticas e ações voltadas para as pessoas com deficiência, garantindo-lhes todas as condições de permanência na universidade. Para dar continuidade às iniciativas do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (Nais), também conhecido como Sensibiliza UFF, o programa insere o tema deficiência/inclusão social em todos os espaços e processos desenvolvidos na instituição.
Para o vice-reitor, Antonio Claudio da Nóbrega, a meta desse movimento institucional de articulação e sinergia é fazer da UFF um exemplo de universidade no estrito sentido da palavra, ou seja, um ambiente onde todo o universo de pessoas é acolhido, circula e pode se desenvolver. “Precisamos quebrar todas as barreiras não somente arquitetônicas, mas também acadêmicas e atitudinais, para avançarmos ainda mais no sentido de sermos a UFF de todos”, ressalta.
Segundo a terapeuta ocupacional da Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe), Mariana Seabra da Silva, presidente do GT, no atual cenário, em que as universidades públicas enfrentam dificuldades financeiras ainda maiores, o GT se empenhou na busca de auxílio externo. Assim, através de negociações com a equipe do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) – que se mostrou bastante sensível à causa – a UFF conseguiu a liberação de recursos para o programa da Progepe voltado ao acompanhamento do servidor com deficiência. “Quando foi sinalizada a aprovação da verba, nosso foco foi aplicá-la na melhoria da qualidade de vida do funcionário com deficiência, mediante todos os levantamentos que já havíamos feito ao longo de cinco anos de trabalho”, explica.
Toda a comunidade será beneficiada com esse investimento, não apenas os servidores. Sem um olhar global, multiprofissional e multissetorial, explica Mariana, não há como atingir uma acessibilidade adequada. Nesse sentido, as obras serão realizadas no campus da Praia Vermelha, que possui alunos, técnicos administrativos e docentes cadeirantes e frequentemente recebe eventos abertos ao público externo. “Atualmente, são 35 servidores técnicos-administrativos, dois professores e em torno de 200 alunos que apresentam alguma deficiência e a tendência é que esse número aumente, com mais pessoas podem ser beneficiadas por essas ações”, acrescenta.
A Progepe, por meio da Seção de Qualidade de Vida e Saúde do Servidor (SQVS), é parceira desde 2012, da Divisão de Acessibilidade e Inclusão, uma iniciativa bem sucedida da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes). Antes, porém, os setores atuavam isoladamente, a SQVS atendendo aos servidores e o Sensibiliza aos alunos com deficiência. Hoje, cada setor mantém sua especificidade, mas sempre que surgem ações que envolvam toda a comunidade acadêmica, ambos planejam atividades conjuntas. “Essa parceria significou um indiscutível salto de qualidade no trabalho de todos”, afirma Mariana.
A coordenadora do Sensibiliza UFF, Lucília Machado atualmente está à frente de um setor que luta incessantemente por verbas para continuar deixando a universidade de portas abertas para a inclusão e mais acessível a todos, em especial às pessoas com deficiência. “Conheço a universidade desde 1978, quando ingressei no curso de Jornalismo. Me formei em 1982 e retornei em 1984 como funcionária. Em 1999, após sofrer um acidente de carro, fiquei tetraplégica e decidi que a solução seria dar a volta por cima e me engajar definitivamente nas questões que envolvem acessibilidade”, relata.
Segundo a jornalista, “a chegada desses recursos é um socorro para a UFF. É a certeza da permanência do aluno com deficiência na instituição. Estamos hoje com cerca de 200 estudantes inscritos em cursos de graduação, pós-graduação e ensino à distância, e o orçamento da universidade não dava conta de atender às demandas de todos eles. Os cortes do Governo Federal foram severos e a vinda desse dinheiro ajuda a diminuir a evasão. Por exemplo, temos alunos cegos que precisam de audiolivros ou impressos em Braile, e para que essas e outras tecnologias assistivas sejam produzidas precisamos de verbas. O número de servidores se ampliou com a inclusão no último concurso de cotas para pessoas com deficiência, o que aumenta ainda mais a demanda”, ressalta.
Com a criação do programa UFF-Acessível, a ideia é transformar o GT em Comitê Permanente de Acessibilidade e Inclusão (Comitê UFF-Acessível). Através do comitê, as ações transversais de acessibilidade serão discutidas e todos os setores envolvidos terão maior respaldo institucional para resolver questões específicas, fortalecendo os setores já existentes. “A UFF desenvolve muitos projetos de extensão, iniciação científica e de pós-graduação voltados para a acessibilidade, mas isolados em seus departamentos. O comitê promoverá o diálogo entre esses diferentes setores e aperfeiçoará as ações e projetos de acessibilidade. Juntos podemos captar mais recursos, criar soluções criativas e melhorar processos”, acrescenta Lucilia.
Acompanhamento e utilização dos recursos
Do total da verba obtida com a emenda, R$ 400.289,00 foram destinados à Seção de Qualidade de Vida e Saúde do Servidor (SQVS) e R$ 200 mil ao Instituto de Artes e Comunicação Social (Iacs), que, segundo o diretor Kleber Santos de Mendonça, serão investidos não apenas na reforma de banheiros e rampas de acesso, mas também na construção de uma nova sala multiuso para professores e alunos, com deficiência ou não, equipada com computadores de última geração. “Negociamos a divisão dos recursos com o deputado e com o vice-reitor, informando que a verba não seria usada integralmente em obras de acessibilidade, visto que o instituto tem essas e outras carências. Concluiremos as obras de acessibilidade com a nova emenda parlamentar que está em fase de negociação”, informou Mendonça.
O acompanhamento do processo se deu por meio do GT-Acessibilidade. “Com o projeto pronto e com a chegada dos recursos, entra em cena a equipe da Superintendência de Arquitetura e Engenharia (Saen), que por sua vez, planeja, supervisiona, administra, projeta e executa as obras de que a universidade necessita”, acrescenta Mariana.
Ainda de acordo com a terapeuta, todos os trâmites burocráticos foram realizados pela Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan), com a colaboração dos membros do GT e apoio irrestrito da reitoria, especialmente através do vice-reitor, Antonio Claudio da Nóbrega, que, em conjunto com outros professores e servidores, está em contato permanente com deputados da Frente Parlamentar do RJ, com o objetivo exclusivo de conseguir verbas para a UFF.
“Temos encontrado uma excelente receptividade dos parlamentares com a questão da inclusão. Temos nos apresentado como uma universidade que propõe e não apenas pede o apoio através da emenda parlamentar. Apresentamos o compromisso de realizar e como fazemos do ponto de vista da gestão dos recursos, pois é uma postura necessária com o dinheiro público e com nossa responsabilidade social. Temos a expectativa de que, para o próximo ano, muitos parlamentares juntarão forças no apoio à UFF para acelerar nosso plano de acessibilidade global”, conclui o vice-reitor.
Dia de luta
A UFF participa das comemorações do Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, nesse dia 21 de setembro. Em breve, será lançado o site UFF Acessível (http://uffacessivel.sites.uff.br/), que trará um histórico do trabalho de acessibilidade desenvolvido na universidade, bem como a política UFF-Acessível para consulta pública, links para setores da instituição que trabalham na área, notícias atualizadas sobre acessibilidade, entre outras informações.
O objetivo é que o site seja um ponto de convergência das ações e informações de acessibilidade na universidade e que nossos servidores técnico-administrativos, professores, alunos e pessoas da comunidade em geral possam acessar tudo o que vem sendo realizado, contribuindo também com críticas e sugestões.