A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou o resultado do Prêmio Capes de Teses 2017 concedido às melhores teses de doutorado defendidas em 2016. A premiação consiste em diploma, medalha e bolsa de pós-doutorado nacional de até doze meses para os pesquisadores premiados. A cerimônia de entrega dos prêmios acontece no dia 07 de dezembro de 2017, em Brasília. Na edição deste ano, três alunos da UFF foram premiados e receberam menções honrosas, que são Allan Sandes, da Geociências; Flavia Medeiros, da Antropologia; e Ludmila Gama, da História.
O vice-reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, enfatiza que a conquista destes prêmios pelos alunos da UFF representa não somente o mérito intrínseco dos trabalhos, mas também um universo crescente em toda a universidade de pesquisas de alto nível científico e com impacto social. Essa qualificação da pesquisa e da pós-graduação da UFF é resultado do talento e dedicação da comunidade acadêmica aliada a uma política institucional de apoio e incentivo ao trabalho qualificado.”
Segundo o pró-reitor de pesquisa, Vitor Francisco Ferreira, ao longo dos últimos anos, o prêmio se tornou um importante reconhecimento aos trabalhos produzidos nos programas de pós-graduação. Além da medalha, valorização dos currículos do discente e do docente, do apoio financeiro dado ao aluno sob a forma de bolsa e o auxílio concedido ao orientador, há reconhecimento pelos Comitês de Área durante a avaliação quadrienal, pois receber uma deferência desta é uma honraria. “As universidades também são reconhecidas com esse prêmio, pois demonstra a qualidade do ensino e da pesquisa na instituição. A Proppi tem incentivado que todos os nossos Programas de Pós-Graduação façam as suas seleções internas e submetam suas melhores teses à CAPES, como forma de prestigiar essa nobre iniciativa”, ressalta.
O aluno do Programa de Pós-graduação em Dinâmicas dos Oceanos e da Terra (PGDOT), Allan Sandes recebeu o Prêmio Capes Teses na área de geociências pelo trabalho “Paleoclimate/paleoceanographic reconstructions of the Tropical South America”, em que ele analisa a reconstrução climática da região equatorial da América do Sul, feita a partir de registros sedimentares marinhos retirados na Margem Equatorial Brasileira.
Para Allan, que atualmente é aluno de pós-doutorado, o prêmio funciona como um elemento motivador, sobretudo neste período de cortes significativos no investimento em ciência e tecnologia, abrindo uma perspectiva pessoal interessante no meio acadêmico, pelo reconhecimento nacional de seu trabalho. “É um retorno extremamente positivo, não apenas pelos quatro anos investidos em um projeto de pesquisa científica, culminando com a tese de doutorado, mas, principalmente, por toda a minha trajetória acadêmica”, afirma.
O estudante ressalta que a possibilidade de parceria com a universidade americana Duke (EUA), através do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, foi de extrema importância para elaboração da tese, tanto no aspecto intelectual quanto prático. “Além de todo o esforço pessoal, o prêmio é resultado de políticas institucionais, através da universidade e dos órgãos de fomento à pesquisa, que permitiram o avanço da pós-graduação, projetando a ciência brasileira no cenário internacional”, declara Allan.
Para o professor do PGDOT que orientou a tese, Cleverson Silva, este prêmio demonstra que o programa desenvolve pesquisas de alto nível. “Esta pesquisa resulta do intercâmbio entre pesquisadores da UFF e da Universidade de Duke (EUA), que foi iniciado com a vinda do navio americano de pesquisas Knorr ao Brasil, em 2008, para coleta de amostras do fundo submarino na região da margem continental do Amazonas. Esperamos que o prêmio ajude a divulgar ainda mais nosso Programa de Pós-Graduação e que seja um elemento positivo para nossa avaliação junto à Capes”, explica.
A tese da aluna Flavia Medeiros, intitulada “‘Linhas de investigação’: uma etnografia das técnicas e moralidades sobre homicídios na Polícia Civil da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, recebeu a Menção Honrosa na área de Antropologia. O trabalho faz uma descrição etnográfica densa dos diferentes fluxos pelos quais sujeitos e coisas – documentos, armas, viaturas, objetos, etc. – que circulavam nos processos de gestão e administração institucional de mortes cometidas intencionalmente. “Minha questão inicial era compreender, desde a rotina de uma instituição policial dedicada exclusivamente para a investigação de mortes intencionalmente cometidas, como era a gestão pelo Estado, considerando o contexto brasileiro, onde há o maior número absoluto de mortes no mundo, cerca de 60 mil por ano.”, disserta.
Segundo Flavia, a tese tem um tema cada vez mais relevante socialmente, considerando os homicídios como um problema social, e que merece ser discutido, especialmente pelas vítimas primordiais desses crimes: jovens, negros, moradores de favelas e periferias. O assunto, porém, é complexo e de difícil abordagem. “A menção honrosa demonstra que o investimento que temos realizado deu retorno, desde o trabalho em instituições de segurança pública e justiça criminal e até as interlocuções através das pesquisas, cursos ou em outras atividades acadêmicas. A abordagem da antropologia contribui por se preocupar com as especificidades locais e com a diversidade, na compreensão e reflexão de temas variados”, justifica.
Para o coordenador do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (Ineac) e orientador, Roberto Kant, a tese de Flávia tem vários méritos. “É uma excelente etnografia, uma descrição de práticas e representações dos atores que entraram em interlocução com a pesquisadora e que tiveram seus pontos de vista incorporados ao da observadora, enfrenta preconceitos que existem, reciprocamente, entre o mundo acadêmico e o mundo policial e amplia o conhecimento e a reflexão necessários sobre esse campo da administração de conflitos e da segurança pública”, ressalta.
Já a tese “Nenhuma ilha da liberdade: Vigilância, Controle e Repressão na Universidade Federal Fluminense (1964-1985)”, defendida pela aluna Ludmila Gama, tem o objetivo de demonstrar como se deu o processo de investigação, controle, repressão e censura na universidade durante a ditadura empresarial militar no Brasil. A estudante trabalhou principalmente com o acervo do arquivo permanente da instituição, que, além de conter documentações acerca da Comissão Sumária criada na universidade para julgar opositores ao golpe de 1964, também guardou as fontes relativas à Assessoria de Segurança e Informações da UFF (ASI/UFF), órgão criado em 1971 como parte do Serviço Nacional de Informações.
A estudante acredita que a menção honrosa mostra a relevância social da pesquisa e também remete à importância das questões que envolvem acesso à informação de órgãos e instituições públicas no Brasil na época da ditadura e na contemporaneidade. “Para mim, o trabalho tem valor por ter lidado com um conjunto de documentos extenso e por apontar as graves práticas realizadas no ambiente universitário durante a ditadura empresarial-militar. A tese trouxe uma lista preliminar de perseguidos políticos na universidade e acho que ela é um pontapé inicial para pesquisas futuras sobre o tema”, destaca Ludmila.
Para o professor do Programa de Pós-graduação em História (PPGH) e orientador de Ludmila Gama, Marcelo Badaró, a tese de sua orientanda foi premiada porque combina de maneira exemplar uma extensa pesquisa empírica em fontes documentais, na sua maioria inéditas, com o rigor no debate da bibliografia acadêmica especializada e o uso adequado de um referencial teórico-metodológico pertinente. “Trata-se de um esforço fundamental para resgatar a história de práticas deletérias de perseguição política – às vezes com consequências fatais – no interior dessas instituições; práticas essas muitas vezes negadas ou silenciadas pela memória oficial das universidades e do país. Acima de tudo, porém, acredito que a atribuição dessa menção honrosa deva-se à relevância social do objeto do trabalho”, conclui.