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Empreendedorismo: alunos da UFF criam aplicativo de viagem para mochileiros

Imagine poder viajar com uma plataforma mostrando o seu perfil de viagem em função de seus gostos e interesses, com informações sobre os principais pontos turísticos, hotéis e bares da cidade, sempre com dicas que cabem no seu bolso? Essa é a proposta do Local Cave, um planejador de viagens desenvolvido pelos alunos de Engenharia de Produção da UFF, Pedro Franklin, Rodrigo Tagliari e Vinicius Cezar Souza. No aplicativo, o usuário participa de um quiz inicial para descobrir o seu perfil de viajante, para, em seguida, poder montar o seu próprio roteiro de viagem. O app, ainda em fase inicial, abrange por enquanto apenas a cidade do Rio, mas, segundo um de seus idealizadores, Pedro Franklin, o próximo passo é expandir o serviço para cidades adjacentes que estejam na rota dos mochileiros, como Ilha Grande, Arraial do Cabo, Búzios, Petrópolis e Paraty. “Temos o objetivo de até o fim do ano chegar a essas outras cidades e a partir disso fechar toda a principal rota mochileira do país”, afirma Franklin.

Pedro também conta que a inspiração para o projeto surgiu da própria experiência dos três sócios em viagens como mochileiros. “Tivemos a oportunidade de viajar pela América Latina, Europa, Oceania e Ásia, sempre estando em contato com gente de todo o mundo, e onde quer que fôssemos sentíamos falta de informação certa do que fazer”, revela. No início, os alunos criaram um blog para disseminar a cultura mochileira, mas conforme o tempo passou e a possibilidade de aprimorar a ideia surgiu, eles resolveram criar o planejador de viagens. No site, o usuário não precisa se cadastrar para ter acesso ao seu roteiro temático, basta seguir 4 passos: fazer o quiz do viajante; escolher o destino de viagem; montar a sua própria viagem e gerar o roteiro personalizado.

Para o docente da Engenharia de Produção da UFF, Fernando Araujo, orientador do Rodrigo Tagliari, a universidade é um lugar privilegiado para o desenvolvimento de ideias capazes de suportar as demandas sociais por meio dos negócios, com ou sem finalidade lucrativa. “A atividade empreendedora é fundamental aos alunos, na medida em que eles passam a refletir soluções interdisciplinares para a resolução de questões reais, não previamente modeladas pelo ambiente acadêmico”, explica. Além disso, o professor conta que tem ajudado os alunos no projeto. “Com muita alegria, fui convidado pelos alunos-empreendedores para uma mentoria da iniciativa. Tenho tentado apoiá-los na reflexão estratégica, na ampliação da qualidade e diversidade da rede, participação em editais de fomento, além de tentar refletir conjuntamente ações orientadas ao empoderamento do negócio”, explica.

Atualmente, o Local Cave participa de eventos da Startup Rio, uma iniciativa público-privada que visa fomentar a cultura de empreendedorismo no Rio, em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado e de órgãos como a Faperj. Em abril deste ano, eles se classificaram para um período de 3 meses de convivência no programa ao ficarem em segundo lugar no prêmio Hackatour, uma maratona de programação focada em desenvolver soluções para o turismo do Estado, promovida pelo Sebrae. “Na Startup, trabalhamos compartilhando o espaço com outros projetos da cidade que foram selecionados pelo governo para desenvolverem seus planos. Estamos usufruindo do espaço e construindo uma rede de contatos com outras startups”, contam os alunos.

Sonhamos em tornar digital a maneira analógica como se viaja hoje na América Latina”, Pedro Franklin.

O professor de MBA da UFF em Gestão e Serviços e diretor-executivo da Startup Rio, Leonardo Campos, afirma que ações empreendedoras podem gerar um turismo mais rentável e dinâmico, mas, para isso, elas precisam estar alinhadas com a inovação e tecnologia, a fim de promover um turismo inteligente e sustentável. “O programa começou em 2014 e já está na sua terceira turma, pré-acelerando 27 empresas atualmente. Mais de 90 empresas que passaram pelo programa já receberam ou estão recebendo investimentos para desenvolver seus próprios modelos de negócio”, revela o diretor.

Leonardo ainda ressalta a importância de se estimular a mentalidade empreendedora, colaborativa e gestora, através de um conhecimento multidisciplinar. Nesse sentido, ele cita as práticas existentes na UFF de estímulo a essas ações. “Uma iniciativa muito interessante é o Seminário Internacional de Tecnologia e Turismo (TecTur) realizado pelo núcleo de projetos da Faculdade de Turismo. Pode-se mencionar também as iniciativas de Deep Learning e Realidade Virtual do Instituto de Computação, a Incubadora da UFF e empresas juniores da universidade”, afirma o professor.

TecTur: unindo turismo e tecnologia

O TecTur é um evento criado em 2014 pelo professor da Faculdade de Turismo e Hotelaria (FTH), Eduardo Vilela, que ocorre anualmente com uma edição temática, tendo sempre como eixo principal a relação entre turismo e tecnologia. O atual coordenador do projeto e também docente da FTH, Carlos Alberto Lidizia, conta um pouco mais sobre os objetivos dessa iniciativa. “Tivemos a ideia de resgatar a temática para a academia, discutindo e fornecendo aos alunos novas técnicas e metodologias relacionadas ao Turismo, através de redes sociais, aplicativos, inteligência de negócios, big data, marketing, drones, etc”. Este ano, o TecTur terá como temática central “A Viagem do Futuro” e a expectativa é que ocorra no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro”, explica.

Carlos Alberto revela também que o evento tem sido importante por incluir tecnologia de ponta na formação dos alunos. “Participam pesquisadores da Inglaterra, Espanha e Portugal, promovendo essa interação acadêmica internacional a partir de palestras, workshops e oficinas”. Segundo ele, o projeto também contribui para a integração dos graduandos com o mercado de trabalho e entre os diferentes cursos da UFF. “Firmamos parcerias com docentes do Instituto da Computação e com o curso de Sistemas de Informação. Isso possibilitou uma alavancagem muito grande dos estudantes na perspectiva empreendedora, com o desenvolvimento de aplicativos, sites e blogs”, destaca. Já sobre o Local Cave, Carlos destaca: “O aplicativo dos estudantes da engenharia funciona bem, fornecendo informações básicas. Está impecável do ponto de vista tecnológico e a navegabilidade está boa. Em termos de base de conteúdo, eles ainda podem desenvolver um pouco mais e profissionais do turismo podem ajudar muito”, conclui o professor.

O país precisa muito desses projetos”, Eduardo Vilela.

Para Eduardo Vilela, o Rio de Janeiro é carente de projetos empreendedores desse tipo e, por isso, eles devem ser estimulados. “Na Faculdade de Turismo puxamos essa discussão a partir do lançamento do Seminário TecTur, entendendo que a tecnologia é uma questão fundamental para a área turística e no receptivo das cidades. Os visitantes precisam ter um referencial tecnológico em mãos”. Além disso, ele também avalia o aplicativo Local Cave. “Pelo que observei, é um software que busca nichos de mercado e objetiva estabelecer atrativos relacionados a uma visão demográfica da população, idade, sexo e nível cultural. Tudo isso o algoritmo rapidamente pode fornecer e a partir da análise de dados identificar o perfil dos atrativos que possam melhor se adequar à possibilidade de sua utilização”. Ele conclui reafirmando o caráter indispensável desse tipo de iniciativa empreendedora. “Eu diria que esse não é nem o futuro, é o presente, e o país precisa muito desses projetos”.

O Local Cave

O nome “Local Cave” vem do Mito da Caverna de Platão, promovendo a alusão à saída das cavernas a partir de uma experiência genuína de viagens. O “Local”, de acordo com eles, tem o propósito de fazer com que as pessoas se sintam em casa em qualquer lugar do mundo utilizando o serviço da plataforma. “Partimos da ideia de que as viagens fazem as pessoas saírem de suas próprias “cavernas”, expandindo as suas noções de possibilidades e sonhos através da troca cultural, por isso o nome traz a analogia da saída das cavernas a partir de uma experiência genuína de viagens”, explica Pedro.

Assim, o aplicativo enfrenta o desafio de transformar o modo analógico de como se viaja para a América Latina em digital. Para Rodrigo Tagliari, isso se deve em função da ampliação das informações propiciadas pela internet. “Agora, com cada vez mais dados sendo criados e armazenados, as empresas podem melhorar a experiência dos turistas. Através da análise de dados, é possível identificar o comportamento dos viajantes e suas preferências, de modo que seja possível traçar o seu perfil e oferecer serviços personalizados”.

Além disso, o aluno conta que da mesma maneira que o Youtube recomenda vídeos para os usuários, de acordo com seus interesses, as empresas poderão utilizar esses conhecimentos de algoritmos em viagens. “O que nos propomos a fazer é criar um sistema de recomendação tanto para a hospedagem quanto para as atividades a partir da coleta de dados do check-in do hóspede. Ou seja, o viajante não vai precisar gastar horas procurando algo do seu gosto, essa é a forma analógica de viagem”, ressalta. Seu parceiro no projeto, Pedro Franklin ainda completa: “Hoje o planejamento de viagens é totalmente analógico. Sonhamos em tornar digital o modo de como se viaja para toda a América Latina”.

A alma mochileira já foi tema de muitos filmes e obras literárias, mas segue a inspirar novos viajantes pelo mundo. Isso, para os alunos do projeto, também serve de motivação para seguir investindo esforços no planejador de viagem. “O mochileiro é um cara que não se importa com luxo, com o conforto de um hotel cinco estrelas. O coração mochileiro é o que quer ter experiência cultural, viajar para entrar em contato com outras culturas, conhecer pessoas, fazer amizades, se divertir e ao mesmo tempo descobrir o mundo. Pensando em proporcionar a esses viajantes a melhor experiência possível, surgiu a ideia do Local Cave”, conclui Pedro.

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