O Plano Nacional de Energia (PNE 2050) é um instrumento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a partir de diretrizes do Ministério de Minas e Energia (MME), que visa dar suporte às estratégias de longo prazo em relação à expansão do setor de energia no Brasil. O documento apresenta um conjunto de recomendações e diretrizes a serem seguidas até o ano 2050 e uma das etapas mais importantes desse estudo é a delimitação da disponibilidade e do potencial dos recursos energéticos nacionais aproveitáveis.
De acordo com o PNE 2050, a energia solar vem sendo a fonte que apresenta o maior aumento da capacidade de geração de eletricidade no mundo. O Brasil, por sua localização geográfica, recebe elevados índices de incidência da radiação do sol, o que permite desenvolver projetos viáveis em diferentes regiões. Dessa forma, a fonte de energia solar – ou fotovoltaica – se apresenta como alternativa competitiva, podendo, inclusive, contribuir com os compromissos nacionais de redução de gases do efeito estufa.
Na Universidade Federal Fluminense, a pesquisa sobre a geração de energias sustentáveis ganhou um papel de destaque. Através de uma parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (SECTI/RJ), a UFF se prepara para a implantação de um grande parque de energia renovável que abrigará uma usina fotovoltaica, além de um centro de pesquisas sobre o tema. A usina será instalada no Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG/UFF), vinculado à Faculdade de Veterinária da Universidade e situado no município de Iguaba Grande, na Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro.
O projeto intitulado “UFV Iguaba: Laboratório da Universidade Federal Fluminense para inovação aberta na indústria solar fotovoltaica”, coordenado pelo professor Daniel Henrique Nogueira Dias, conta com o apoio de pesquisadores de diferentes áreas de atuação, sendo composto por professores dos departamentos de Engenharia Elétrica, Telecomunicações e Civil da UFF. Paralelamente, a rede de pesquisa tem interação com grupos da PUC-Rio, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Pará (UFPA), além da parceria internacional com a Universidad Politécnica de Madrid (UPM), da Espanha.
O reitor da UFF, professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, destaca que a Usina Fotovoltaica de Iguaba é um projeto de grande impacto científico, tecnológico, econômico, ambiental e social, cujo investimento inicial é de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). “Apresentamos a proposta para o secretário da SECTI/RJ, que aceitou com entusiasmo a parceria, compreendendo a abrangência estratégica do projeto. Nossa gestão tem estreitado a relação institucional com a secretaria articulando cooperações que contribuam para o desenvolvimento social e econômico do estado do Rio de Janeiro através de projetos científicos e tecnológicos ambientalmente responsáveis”, declara.
O professor Fábio Passos, vice-reitor da Universidade, explica que a vantagem da energia solar é ela ser uma fonte renovável, e a sua conversão por meio dos painéis fotovoltaicos possuir baixo impacto ambiental, quando comparada com outras fontes também renováveis, como a eólica e a hidráulica. Além disso, as placas solares podem ser perfeitamente instaladas próximas a centros urbanos, contribuindo para a descentralização da geração de energia elétrica, o que reduz os custos de transmissão e distribuição da mesma.
“O projeto prevê a construção da usina com uma produção inédita de energia renovável na região. Envolve a preparação do terreno e o licenciamento da obra, além da instalação de placas fotovoltaicas correspondentes a uma usina de um e meio megawatts na primeira fase de implantação, e projetadas para até cinco megawatts na segunda fase. Será criado também um laboratório de inovação aberto para estudos e pesquisas relacionadas a este tipo de geração de energia. Dessa forma, a usina contará com diferentes tecnologias de sistemas, permitindo a comparação de cada tipo em relação à eficiência na geração e aos respectivos custos de operação e manutenção. Também serão estudados métodos de detecção de defeitos a partir da análise de dados operacionais e de inspeção térmica aérea”, explica Fábio.
Além disso, o parque será um ambiente de visitação para escolas públicas regionais voltado para o ensino sobre energias sustentáveis. “Desenvolvemos um plano inovador que pretende construir uma cooperativa regional de moradores em vulnerabilidade socioeconômica, para que eles recebam um subsídio na conta de luz em função da energia gerada nessa usina”, complementa o reitor Antonio Claudio.
Atualmente está sendo produzido um descritivo técnico para a realização de uma tomada de preços, de forma a encontrar a empresa que melhor atenda aos requisitos do projeto. Segundo Fábio Passos, a elaboração e divulgação deste documento é fundamental para que o projeto de execução e operação da usina seja realizado em consonância com a concepção original da proposta e levando em consideração o desenvolvimento econômico local. “Após esta etapa, será iniciada a fase de contratação da empresa escolhida, bem como de montagem do laboratório. A última etapa do projeto, já com a usina em operação, contempla o desenvolvimento de um sistema de monitoramento com a integração de dados e gestão de ativos”.
NEIG-UFF: Espaço que abrigará a usina faz parte de área de proteção ambiental
O Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG-UFF) é um campus localizado fora da sede que está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Sapiatiba. Possui parte de sua área no município de Iguaba Grande e parte em São Pedro da Aldeia. Mais um campus pertencente à Faculdade de Veterinária da UFF, com uma área de 1.694.000 m², sendo 1.355.200 m² de mata subtropical. Abriga uma imensa diversidade biológica e muitas espécies ameaçadas de extinção reconhecidas pelo Ministério do Meio Ambiente, além de ser um dos remanescentes mais representativos da natureza da região litorânea do Rio de Janeiro.
A diretora da Faculdade de Veterinária, professora Leila Gatti Sobreiro, relata que, na década de 80, foram realizados no local projetos de zootecnia envolvendo a criação de bovinos, caprinos, abelhas e, posteriormente, de camarões. “Desde a criação da Unidade de Conservação – APA Estadual da Serra de Sapiatiba, foi ampliada a percepção da importância de se conservar as condições naturais locais, sendo extintos os projetos zootécnicos. O Núcleo passou, então, a ser cenário de vários projetos acadêmicos na área ambiental, tendo como exemplo a recente publicação “As restingas fluminenses e seus últimos refúgios: o núcleo experimental de Iguaba Grande da Universidade Federal Fluminense (NEIG-UFF), de autoria professor Sávio Freire Bruno”.
Para Leila, o convênio estabelecido entre a UFF e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado do Rio de Janeiro favorece ações de interesse mútuo, tanto para os projetos acadêmicos da Universidade quanto para a comunidade local. “Este é um projeto sustentável, aprovado pelos devidos órgãos de controle ambiental e coerente com as atividades do NEIG. A iniciativa terá grande contribuição para a diminuição dos custos com energia elétrica para a UFF e também para as famílias de baixa renda da região. Além disso, reforça o objetivo de educação ambiental e desenvolvimento técnico científico do núcleo, sendo um excelente campo para discentes, docentes, técnicos e a sociedade desenvolverem e ampliarem conhecimento. O respeito à vocação do NEIG beneficia todo o estado do Rio de Janeiro, demonstrando a responsabilidade da Universidade Federal Fluminense na preservação e no uso adequado do meio ambiente”, finaliza.