As produções audiovisuais trabalham para recriar a realidade em suas ficções e, hoje, também figuram como ferramenta para expandir as formas de comunicação sobre o mundo em que vivemos. Quando audiovisual e ciência se encontram na intenção de demonstrar novas representações para pesquisas acadêmicas, muitas vezes escritas em linguagens específicas, a comunicação científica ganha novos contornos. Nesse contexto, os conteúdos audiovisuais podem ser aliados no processo de divulgação científica, principalmente em relação a temas que muitas pessoas desconhecem.
Investir no diálogo entre ciência e cinema é uma das prerrogativas do Laboratório de Audiovisual Científico da Universidade Federal Fluminense (LABACIÊNCIAS – UFF), pensado e criado para produzir e socializar filmes e materiais educativos em formato audiovisual e digital, a fim de apoiar docentes e discentes no processo de ensino e aprendizagem de temas científicos. Coordenado pelo professor Luiz Antonio Botelho de Andrade, o projeto recebeu incentivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através de editais de preparação de material didático e socialização do conhecimento científico.
“O Labaciências pode ser definido como um espaço criativo de pesquisa, ensino e de socialização do conhecimento científico através de blogs, filmes educativos e outros materiais no formato audiovisual. Ele vem se especializando, desde a sua criação, na produção de material audiovisual e de realidade virtual”, descreve o coordenador.
De acordo com o docente, o laboratório iniciou suas atividades no ano de 2008, quando houve um primeiro apoio em edital da FAPERJ para o filme “Quem foi que disse: sobre a vida e o viver”, e se consolidou com o apoio em edital do CNPq para a produção de mais uma dezena de filmes. “Com a mudança do Instituto de Biologia do Campus do Valonguinho para o Campus do Gragoatá, o Labaciências ganhou um espaço físico e agora, pela primeira vez, pode produzir com todo seu potencial como Laboratório de Audiovisual Científico, integrado às atividades acadêmicas de pesquisa, ensino e extensão”, relata.
Doutorando em Biologia e membro do Labaciências, Felipe Xavier destaca que foi o trabalho no laboratório que o fez se encantar pela divulgação cientifica. “A variedade de áreas que um pesquisador ou criador de conteúdo pode atravessar trabalhando com divulgação científica é um retrato de sua principal característica: a multidisciplinaridade. Todas as ciências – exatas, biológicas e humanas – podem e devem ser divulgadas para o bem de uma sociedade que se pretenda democrática e inclusiva”, acrescenta.
O conceito de divulgação científica com o qual o Labaciências trabalha envolve a reformulação do discurso científico para torná-lo mais adequado à compreensão, apropriação e uso do conteúdo científico pelo público leigo. O projeto prima pela inclusão do outro em sua legitimidade. “Considerando o avanço sem precedente da ciência e da tecnologia, ambas se retroalimentando, tornou-se evidente que não existe nenhum espaço societário que não seja impactado pelo que se denomina como o binômio Ciência e Tecnologia (C&T)”, explica Luiz.
Segundo o professor, o cinema e a virtualização afetam positivamente a juventude, ajudando a explorar cognitivamente diferentes materiais pedagógicos disponíveis online. Assim, os estudantes podem “caminhar virtualmente” em diferentes espaços para responder perguntas formuladas pelos seus professores, mas também aquelas advindas de suas inquietações e curiosidades. “Com a interatividade e riqueza de múltiplos acessos, o conteúdo produzido pelo laboratório pode ser explorado de vários ângulos e até de forma imersiva. Desse modo, o conhecimento pode ser construído e reconstruído de forma lúdica, como em um jogo de enigmas ou uma caminhada exploratória por um lugar aprazível, repleto de desafios cognitivos”, explica.
O pesquisador pontua que a construção e utilização de ferramentas interativas para serem utilizadas no processo de ensino e aprendizagem, remoto ou presencial, facilitam a construção do conhecimento escolar e o ensino de ciências. “Para além disso, todos os setores sociais, incluindo as populações tradicionais, as pessoas com diversidade funcional e em vulnerabilidade social, precisam ter acesso e se apropriarem do conhecimento científico e tecnológico produzidos e disponibilizados pela sociedade na qual estão inseridos, sem o qual estarão, cada vez mais, excluídos dos bens culturais desta mesma sociedade e de seu tempo”, finaliza.