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Pesquisa na UFF inova ao estudar canabinoides no tratamento de doença rara que pode levar à cegueira

A retinose pigmentar é a forma mais comum de cegueira hereditária na população, afetando uma a cada 4000 pessoas. A doença se inicia com uma dificuldade de enxergar no escuro; porém, com o avanço da idade, a perda se estabelece de forma mais intensa, com o desaparecimento da visão periférica. Em estágios mais avançados, pode ocorrer, inclusive, a perda total da visão, o que gera um grande impacto na qualidade de vida das pessoas afetadas por essa condição.

Atenta às opções limitadas de tratamento dessa patologia rara, a professora de Neurobiologia da UFF Lucianne Fragel Madeira desenvolveu o projeto “Caracterização e modulação do sistema endocanabinóide em modelo murino de retinose pigmentar”, que possui financiamento da FAPERJ e do CNPq. O projeto busca avaliar se é possível, através do uso desse sistema, impedir a perda da função visual, ou ao menos amenizar a progressão da doença, de forma a possibilitar uma melhor qualidade de vida para os indivíduos afetados.

De acordo com a idealizadora e coordenadora, o projeto se destaca por possuir alguns elementos inovadores. “Devido a motivos históricos e ao preconceito, houve um grande vácuo no nosso conhecimento sobre os efeitos medicinais da Cannabis e dos produtos canabinoides, apesar de os primeiros relatos conhecidos de seu uso medicinal datarem de 2700 A.C. na China. Nas últimas décadas, vem ocorrendo uma redescoberta do potencial medicinal dos canabinoides, com uso em uma diversidade de doenças, como dor crônica, epilepsias refratárias, depressão, entre outras. Portanto, é de fundamental importância e de caráter inovador pesquisar esse sistema com grande potencial terapêutico”, enfatiza. Lucianne destaca ainda que a pesquisa está sendo ramificada com endocanabinoides em associação com o uso de terapia gênica, que pode ajudar a expandir o potencial de tratamento modulando esse sistema.

Os resultados do estudo já podem ser observados e são bastante promissores. “Nosso dado mais marcante é o efeito protetor robusto que observamos após aumentar a disponibilidade de anandamida na retina, um canabinoide produzido naturalmente pelo organismo. Além disso, nosso grupo já observou que vários componentes desse sistema estão alterados nos animais que possuem essa degeneração da retina, mostrando que os canabinoides estão agindo ativamente no curso da retinose”. Atualmente, o grupo está trabalhando para destrinchar os mecanismos por trás do efeito protetor do tratamento, para melhor entender o potencial terapêutico dos endocanabinoides e seguir melhorando sua eficácia.

Lucianne finaliza destacando o papel fundamental das universidades públicas no desenvolvimento de novas pesquisas e terapias para essa doença, já que haveria um baixo retorno financeiro por parte dos estudos realizados pelo setor privado no tratamento de doenças negligenciadas. “É essencial que a universidade pública continue recebendo fomentos, para que possa trazer uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos afetados por doenças como a retinose pigmentar. Além da pesquisa, a universidade também tem um papel de grande importância em disseminar conhecimento sobre essas doenças pouco conhecidas, tanto em seus espaços quanto na sociedade como um todo, para que se conscientize a população”.

Para conhecer mais sobre retinose pigmentar, veja o vídeo com a pesquisadora: https://www.youtube.com/watch?v=tMBAqoEeUac

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