Qual a importância da representatividade negra nas universidades públicas? Você já parou para refletir sobre essa pergunta e se questionar sobre as desigualdades raciais que se apresentam em diferentes esferas do nosso país, para além do ambiente universitário? Dados recentes apontam que mais de 50% da população brasileira se autodeclara preta e parda. Mas quantos desse vasto grupo possuem ensino superior completo, ocupam cargos de chefia, seja em instituições públicas e privadas, e têm o mesmo acesso a direitos trabalhistas no mercado de trabalho quando comparado à população branca? No mês da consciência negra, convidamos quatro servidores da Universidade para contribuir com os seus olhares quanto a esse tema e ainda abrir novos horizontes para repensarmos sobre privilégios, racismo estrutural, opressão racial. Confira abaixo os depoimentos.
“O Brasil é marcado pela discriminação, exploração e opressão racial. Sem dúvida, são as populações negra e indígena que mais intensamente sofrem com os problemas sociais brasileiros. As universidades públicas são instituições fundamentais para propor saídas dessa condição. Na verdade, o enfrentamento ao racismo passa mesmo por repensar e reestruturar o ensino superior. Olhar para a representatividade negra e indígena nas universidades, tanto nos quadros discentes quanto nos docentes e técnicos, fornece-nos um indício importante do quanto ainda é necessário avançar. A representatividade nos importa, conquanto não seja apenas simbólica e condescendente. É dever da universidade pensar em problemas tais como o racismo antinegro em todas as suas esferas, porém ela não está autorizada a fazê-lo sem a presença efetiva de homens e mulheres negras em todas as suas esferas.” Fernando de Sá Moreira – Professor de Filosofia da Educação.
“É muito importante que a população negra se veja e se reconheça como ocupante dos espaços de destaque na universidade pública. Não é muito comum ver um negro(a) na liderança, numa posição de destaque, já que na sociedade é pré-definido que o negro(a) sempre ocupe cargos inferiores. As pessoas negros(as) devem ocupar lugar(es) de destaques na gestão universitária para que sirvam de estímulo e inspiração, e assim outros negros se reconheçam nos cargos hierarquicamente superiores e almeje o mesmo. A representatividade negra(o) pode promover debates visando reduzir as desigualdade oportunizada pelo racismo estrutural.” Danúzia de Paula – Bibliotecária da Faculdade de Medicina.
“A construção das universidades na história eurocidental teve como alvo as elites. Esta realidade transposta ao Brasil criou a condição do privilégio ao acesso universitário, nos tendo privado de representatividade em três condições interseccionais: de classe – pobres, gênero – mulheres e, etnicorracial – negra/povos originários, nesta ordem. Neste sentido, portas fechadas há séculos têm sido a recepção aos corpos negros nas universidades brasileiras, onde o estranhamento quanto aos nossos corpos, estética, cultura, religiosidade e saberes negros criam barreiras simbólicas robustas e dolorosas à nossa permanência no espaço universitário: negação da nossa humanidade e competências. A representatividade negra nos quadros acadêmicos, da docência à gestão, assinalam possibilidades de realização, valoração, competências e, sobretudo de acesso para essa grande maioria demográfica e negra, ainda alijada de direitos por normas e por atos.” Rita Montezuma – Professora do Departamento Geografia.
“O papel da universidade pública não se resume a ser formadora, geradora e distribuidora de conhecimento. É um espaço para formação de sujeitos, porém os sujeitos se constituem no processo de interação no cotidiano com outros sujeitos. Como formar esse sujeito num lugar naturalizado como sendo um espaço de não-negros. As cotas representam um avanço significativo de letramento racial, mas o racismo estrutural ainda se mantém. Onde estão os professores negros? Onde estão os gerentes, diretores, as “chefes” negras? Há falta de representatividade da população negra nesses espaços, essa invisibilidade ainda precisa ser quebrada, precisamos avançar nessa direção. Ver uma mulher negra ocupando um espaço como o acadêmico gera representação para outras mulheres negras, simples assim. Não há magia nesta formula.” Marcelino Conti – Diretor da unidade de Oriximiná/Pará.