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UFF tem 14 projetos contemplados em edital de apoio às mães cientistas

Pesquisadoras serão apoiadas pela iniciativa da FAPERJ, Serrapilheira e Parent in Science, que aprova o total de 98 projetos com valor recorde para fomento pós-maternidade

Quase 100 cientistas brasileiras que são mães acabaram de ganhar um financiamento de R$6,2 milhões para apoiar suas pesquisas. A iniciativa da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), do Instituto Serrapilheira e do movimento Parent In Science (PiS) busca apoiar a continuidade da carreira acadêmica de mulheres no período pós-maternidade. A seleção previa, inicialmente, apoio a cerca de 21 pesquisadoras, mas por conta da alta demanda de inscrições e da qualidade dos currículos, o programa foi ampliado, contemplando 98 cientistas. Este é o primeiro edital de apoio a mães cientistas organizado por uma agência de fomento à pesquisa no Brasil.

A UFF se destacou com 14 projetos de pesquisa contemplados, abrangendo áreas variadas. Entre os destaques, estão iniciativas voltadas para a saúde mental e bem-estar, incluindo a melhoria do sono, as respostas emocionais a alimentos ultraprocessados e o desenvolvimento de novos tratamentos para a doença de Parkinson. Outros projetos investigam a atividade antiviral de compostos naturais contra os vírus da Dengue, Zika e Mayaro, o tratamento de feridas crônicas com terapia fotodinâmica e os aspectos genéticos do transtorno obsessivo-compulsivo. A diversidade temática se amplia com estudos que exploram desde abordagens geométricas em sistemas dinâmicos até a caracterização geoquímica do pré-sal. Projetos focados em sustentabilidade buscam a conversão de gás carbônico em combustíveis e produtos químicos. Na área cultural, destacam-se pesquisas sobre a atuação de mulheres musicistas no Rio de Janeiro, a redescoberta da escritora Júlia Lopes de Almeida e a organização de mulheres quilombolas, cimarrones, raizales, garifunas e palenqueras na América Latina e Caribe. Clique aqui para ver a lista completa de selecionadas.

Para o reitor da UFF, professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, a iniciativa reforça uma necessidade latente na nossa sociedade, que é a de fortalecer a carreira de mulheres que também são mães, especialmente no ambiente acadêmico. 

“A aprovação dos projetos de nossas pesquisadoras mães é um reflexo direto do compromisso da UFF em promover uma ciência mais inclusiva e em valorizar o papel das mulheres na academia, somada, claro, com a competência das pesquisadoras. A criação da Comissão Permanente de Equidade de Gênero (CPEG) e a nova coordenação na Proaes voltada para questões de equidade de gênero são ações concretas da nossa gestão, que visam garantir que iniciativas como essa tenham o sucesso necessário. Seguiremos trabalhando para que essas profissionais tenham as melhores condições para conciliar a maternidade e a carreira acadêmica, e que possam continuar contribuindo para o desenvolvimento científico do país”, comenta o reitor.

De acordo com o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, o edital fortalece a pesquisa científica no estado e promove políticas que incentivam a diversidade na ciência. “A demanda qualificada que recebemos para este edital mostra a necessidade deste tipo de iniciativa”, afirma Lima, que é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O investimento previsto inicialmente em R$ 2,3 milhões subiu para R$ 6,2 milhões (aumento de 170%). Além do acréscimo no aporte de recursos pela FAPERJ, o Instituto Serrapilheira também contribuiu para a ampliação do edital, oferecendo valor extra de R$ 210 mil, que foram distribuídos para 21 dos 98 projetos aprovados.

“Pelo número de propostas recebidas, ficou claro que é enorme a demanda de mães cientistas buscando apoio para esse momento de suas carreiras em que precisam se dedicar também aos filhos”, afirma Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira. “Precisamos de mais editais que reconheçam que a maternidade causa um impacto importante na carreira, e que os mecanismos de fomento poderiam ajudar a superar os efeitos negativos dessas interrupções”, complementa.

A inspiração para o edital exclusivo veio do Parent In Science (PIS). Em 2021, o movimento brasileiro, que tem como objetivo levantar a discussão sobre a parentalidade dentro do universo acadêmico e científico, ganhou o Prêmio Mulheres Inspiradoras na Ciência, da revista Nature, pela divulgação de dados relevantes para estudos de desigualdade de gênero.

Uma pesquisa de autoria do movimento, publicada na revista Frontiers in Psychology em 2021, mostrou que, durante a pandemia, apenas 47% das cientistas que são mães tiveram êxito para terminar artigos científicos. Já 76% dos pesquisadores homens com filhos conseguiram submeter seus artigos conforme o planejado.

Impactos semelhantes têm sido apontados em relação à obtenção de bolsas de produtividade em pesquisa, por exemplo. Apesar de as mulheres representarem 55% dos bolsistas de iniciação científica no Brasil, elas são apenas 36% dos que recebem as bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq, o mais alto grau acadêmico no país.

“O resultado deste edital reafirma a urgência de iniciativas como essa. O elevado número de inscritas demonstra não apenas a demanda reprimida por suporte, mas também a relevância de se investir em ações que garantam a continuidade das carreiras de mães cientistas. Este é um passo importante para promover uma ciência mais inclusiva e fortalecer o papel das mulheres no cenário científico nacional”, diz Fernanda Staniscuaski, fundadora do Parent In Science.

A chamada pública, lançada em maio deste ano, foi aberta para cientistas que se tornaram mães nos últimos 12 anos. As mães de crianças com deficiência puderam concorrer independentemente da idade dos filhos.

O processo seletivo foi implementado e coordenado pela Comissão Permanente de Equidade, Diversidade e Inclusão criada em fevereiro de 2023 pela FAPERJ. O objetivo é desenvolver ações “para apoiar grupos sub-representados e aumentar a diversidade na ciência”, afirma Letícia de Oliveira, coordenadora e professora na Universidade Federal Fluminense.

Os resultados do edital serão discutidos no IV Simpósio Brasileiro Maternidade & Ciência, em  17 e 18 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O evento é promovido pelo Parent in Science, com patrocínio do Instituto Serrapilheira e da Faperj. No encontro, palestrantes vão abordar os desafios enfrentados por cientistas que são mães. Confira a programação e mais informações neste link.

LISTA DE CONTEMPLADAS DA UFF:

  • Resultado Preliminar de propostas financiadas FAPERJ e Serrapilheira, Edital Nº 10/2024 – Programa Apoio às Cientistas Mães com Vínculos em ICTs do Estado do RJ:

Anna Faedrich Martins Lopez (UFF): Redescobrindo a escritora carioca Júlia Lopes de Almeida (1862-1934): análise de sua atuação literária, recepção crítica e o perfil “D. Júlia” de mãe e esposa exemplar

Isabel de Paula Antunes David (UFF): Respostas emocionais a alimentos ultraprocessados e in natura/ minimamente processados segundo índices de saudabilidade e sustentabilidade.

Istefani Luciene Dayse da Silva (UFF): Investigação do papel de NT-3/TrkC na formação de nicho metastático cerebral e avaliação de sua inibição em modelos de melanoma

Maria Raimunda Penha Soares (UFF): Práticas Insurgentes coletivas: lutas, resistências e organização de mulheres quilombolas, cimarrones, raizales, garifunas e palenqueras na América Latina e Caribe

  • Resultado Preliminar de propostas financiadas FAPERJ, Edital Nº 10/2024 – Programa Apoio às Cientistas Mães com Vínculos em ICTs do Estado do RJ:

Aline Silva de Aguiar (UFF): Nutrição e Saúde Mental: proposta de orientação híbrida para uso de susbtâncias psicoativas e melhora do sono de universitários

Ana Lúcia Tavares Gomes (UFF): Potencial terapêutico do butirato de sódio na doença de Parkinson: investigação da rede neuro-glial e da resposta inflamatória ao longo do eixo intestino-cérebro

Bruna Maiara Ferreira Barreto Pires (UFF): Avaliação da microbiologia e do Potencial Hidrogeniônico em feridas crônicas de membros inferiores em uso de terapia fotodinâmica com Diodo Emissor de Luz azul e curcumina

Caroline de Souza Barros (UFF): Estudo da atividade antiviral e imunomoduladora de produtos naturais e sintéticos contra os arbovírus Dengue, Zika e Mayaro

Fabiana Barzotto Kohlrausch (UFF): Aspectos genéticos do Transtorno Obsessivo Compulsivo: um estudo de associação e de análise do comprimento de telômeros.

Fernanda Signorelli Calazans (UFF): Comparação de restaurações em resinas compostas indiretas confeccionadas pela técnica semi direta em modelo digital e resinas impressas em 3D: um estudo clínico, duplo-cego e randomizado

Luciana Pires de Sá Requião (UFF): Mulheres Musicistas do Estado do Rio de Janeiro: um estudo a partir das fichas de filiação ao Centro Musical do Rio de Janeiro (1907- 1941) e ao Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (1941-1999)

Paula Balseiro (UFF): Uma abordagem geométrica aos sistemas não holônomos (o problema de hamiltonização).

Rut Amelia Díaz Ramos (UFF): Paleoambiente do Pré-sal: Caracterização geoquímica inorgânica, orgânica e isotópica do enxofre.

Sara Silveira Vieira (UFF): Zeólitas Embrionárias na Catálise Heterogênea: Abordagens Avançadas para a Conversão de CO2 em Combustíveis e Produtos Químicos

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