O Projeto Galileu Galilei e o projeto TeCEADI+: Tecnologias Computacionais no ensino e aprendizagem na ótica da Diversidade, Inclusão e Inovação unem tecnologia, acessibilidade e inclusão no processo educacional, com o objetivo de incorporar o pensamento computacional nas atividades cotidianas dos professores. A iniciativa, que também é apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está implementada na Universidade Federal Fluminense (UFF) e realiza a formação de docentes com base nessa habilidade, que ganhou destaque com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Ainda que seja um desafio para os docentes lidar com essa nova demanda, o professor do Departamento de Computação de Rio das Ostras da UFF, Sérgio Crespo Coelho da Silva Pinto, um dos responsáveis pelo projeto juntamente com a professora Ruth Maria Braz, do Programa de Pós-Graduação em Ciências, Tecnologias e Inclusão (PGCTIn-UFF), explica que o curso proporciona uma formação ampla, destinada a educadores de diferentes disciplinas, para que essa lacuna seja preenchida.
“Nossa ideia é trabalhar essa competência com professores que não são apenas da área de exatas, mas também da área de humanas, como história, geografia, filosofia, ou qualquer outra matéria. O intuito é mostrar como o pensamento computacional pode ser integrado no ensino dessas disciplinas de forma mais inclusiva”, destaca o professor.
Pensamento computacional e seus pilares
O pensamento computacional é uma habilidade cujo objetivo é utilizar os conhecimentos a fim de solucionar problemas eficientemente a partir dos fundamentos da computação e da tecnologia. Essa habilidade pode ser definida como o passo anterior à programação, pois sua base é a exploração de forma criativa, crítica e estratégica dos domínios computacionais. Trata-se de uma abordagem fundamental para resolver problemas de forma lógica e sistemática e é composto por quatro pilares principais: decomposição, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos.
Reprodução: Escola Fernão Gaivota
O processo de decomposição envolve dividir um problema complexo em partes menores e mais manejáveis. “Esse processo facilita a compreensão do problema e permite que os alunos se concentrem em resolver cada parte individualmente. Por exemplo, ao desenvolver um projeto de programação, um estudante pode quebrar o projeto em tarefas específicas, como design, codificação e teste”, explica o coordenador.
O próximo pilar é o reconhecimento de padrões, que, por sua vez, permite aos alunos identificar semelhanças e diferenças em dados ou problemas para gerar soluções, pois o aluno reconhece um padrão e, assim, já conhece um novo problema. O professor exemplifica: “É como resolver equações matemáticas, onde o estudante pode notar que certas operações seguem padrões que podem ser utilizados em outros problemas”.
Já a abstração é o processo de simplificar um problema e focar apenas nos aspectos mais relevantes. De acordo com o coordenador, esse ponto ajuda os alunos a criar modelos que representem o problema de forma mais clara. Ou seja, ao abstrair, um aluno pode desenvolver um modelo que ilustra uma situação sem se perder em detalhes complicados.
Por fim, vem a etapa de criação de algoritmos, em que os alunos desenvolvem o passo-a-passo para resolver um problema. “Um algoritmo é uma série de instruções claras e precisas que, quando seguidas, levam à solução desejada. Logo, ensino de algoritmos incentiva os alunos a pensar logicamente e a estruturar seu raciocínio de forma clara e eficaz”, conclui o docente.
O impacto do projeto nas escolas brasileiras
Disponível gratuitamente no portal do Centro de Educação a Distância (CEAD) da UFF, o curso Pensamento Computacional para todos, sob coordenação da professora da Faculdade de Computação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Graziela Guarda, e do professor Sergio Crespo, já formou mais de mil profissionais, entre professores, pesquisadores e doutores. “A gente estruturou o curso pensando em algo que estivesse alinhado com a BNCC e que permitisse que os professores lidassem com o pensamento computacional de uma maneira prática e acessível para todos os alunos”, ressalta Crespo.
“Embora haja muitas escolas no Brasil, há poucos professores licenciados em Ciência da Computação. Na BNCC, o foco costuma ser no ensino médio, mas esse curso – gratuito e certificado pela UFF – oferece recursos e suporte para o ensino fundamental também. O objetivo é que os professores tenham clareza sobre o conteúdo e saibam aplicá-lo de forma prática em sala de aula”, continua o especialista.
Base de inclusão e acessibilidade
Reprodução: Freepik
Um dos pilares do Projeto Galileu Galilei é a inclusão, e o curso de formação online também segue essa linha. Segundo o professor, a proposta do curso é ensinar os professores a adaptarem o pensamento computacional para estudantes com diferentes necessidades, como alunos com deficiência visual, auditiva, autismo, altas habilidades ou transtorno de déficit de atenção.
“É um momento em que a inclusão precisa ser pensada em todos os aspectos, principalmente na educação. O foco é preparar os professores para lidar com a diversidade que eles encontram em sala de aula, além de trazer o conhecimento computacional”, completa Crespo.
Expansão Internacional: O Projeto Além das Fronteiras
Além de alcançar milhares de professores pelas regiões brasileiras, o curso de formação do Projeto Galileu Galilei teve expansão internacional. A iniciativa também é implementada em Angola, por fruto de um convênio entre a UFF e a Universidade de Kairiba.
“O projeto já alcançou países como Angola, Moçambique, Timor Leste, entre outros. Essa expansão é muito significativa, e teve grande impulso com a nossa realização do Simpósio Internacional de pensamento computacional e inclusão. Ademais, há três anos consecutivos, nós emplacamos os workshops de pensamento computacional e inclusão dentro do Congresso Brasileiro de informática na educação” afirma o professor.
Fórum de integração permite compartilhamento de experiências
Outro destaque do curso é o fórum de integração, que permite a troca de experiências e o compartilhamento de soluções entre os participantes, mesmo após o término da formação. “Criamos o fórum para que os professores possam tirar dúvidas, compartilhar ideias e soluções para os desafios do dia a dia. É um espaço de colaboração que tem feito muita diferença para quem está participando,” explica Crespo.
O coordenador reforça que essa troca de experiências é um dos fatores que tem contribuído para o sucesso do curso: “Os professores aprendem muito uns com os outros. Muitas vezes, uma solução encontrada em uma sala de aula pode ser aplicada em outras realidades, e isso enriquece o aprendizado de todos.”
Onde acessar?
O curso é gratuito, feito em formato virtual e conta com certificado emitido pela UFF e pelo CNPq ao final. Os interessados podem acessar o site MOOCS do Centro de Educação à Distância (CEAD) da UFF.
Clique aqui para se inscrever.
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Sérgio Crespo Coelho da Silva Pinto é Professor Adjunto na Universidade Federal Fluminense (UFF) e docente credenciado como membro permanente do Programa de Doutorado em Ciência, Tecnologia e Inclusão da UFF. É líder do grupo de pesquisa CNPq: TeCEADI+: Tecnologias Computacionais no ensino e aprendizagem na ótica da Diversidade, Inclusão e Inovação. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de Software, atuando principalmente nos seguintes temas: Diversidade e Inclusão, Educação a Distância, Informática na Educação e Engenharia de software aplicada à educação.