No aniversário dos 60 anos do final da Segunda Guerra Mundial (2005), um grupo de 10 pesquisadores brasileiros dedicou-se a resgatar, por meio de documentos, depoimentos e diversos tipos de registros, a importância e as estratégias da mídia radiofônica durante o conflito armado.
O resultado do projeto, empreendido a partir da Rede Alfredo de Carvalho para o Resgate da Memória da Imprensa, foi o livro “Batalha sonora – o rádio e a Segunda Guerra Mundial”, que será lançado nesta quinta-feira, dia 31, às 18h30min, no 5º Congresso de História da Mídia, na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e na próxima segunda-feira, dia 4 de junho, às 19h, no Bar Belmonte, na Rua do Lavradio, na Lapa, centro do Rio.
O livro, organizado pelos professores Cida Golin, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e João Batista de Abreu, da Universidade Federal Fluminense, reúne 10 artigos de pesquisadores vinculados ao Núcleo de Pesquisa em Rádio e Mídia Sonora da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação).
Os textos mostram as estratégias dos Aliados no combate ao nazi-fascismo, por meio dos noticiários da BBC e seu suposto compromisso com a veracidade dos fatos. Registra-se também a campanha norte-americana pela Voz da América, assim como a credibilidade do famoso Repórter Esso, informativo obrigatório para o acompanhamento cotidiano da guerra pelos civis. Do lado do Eixo, o volume focaliza como o ministro da Propaganda do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, usou o veículo como arma na “luta do espírito”, as emissões em português da Rádio Berlim alardeando a superioridade da raça ariana.
A coletânea mostra o quanto a radiodramaturgia refletiu as estratégias de luta e de sedução dentro do conceito de guerra psicológica. Séries dramatizadas, produzidas em Nova Iorque, fizeram parte do esforço bélico, assim como as radionovelas envolvidas nas temáticas da guerra e do nazi-fascismo.
Ao reconhecer a importância do rádio como catalisador de comportamentos, a polícia brasileira determinou o confisco de aparelhos em posse de imigrantes alemães e italianos, no sul do país. Naquela época, informações aparentemente ingênuas em tempos de paz, como a previsão da meteorologia, eram evitadas para neutralizar a aviação inimiga ou as tentativas de espionagem.
O cinema está presente por meio da análise da comédia O jovem tataravô (1936), dirigido por Luiz de Barros, que satirizava o rádio como inovação tecnológica e demonstrava preocupação com o conflito, que irromperia três anos depois com a invasão da Polônia pelas tropas de Hitler. A edição traz um testemunho especial: o professor Luiz Maranhão registra suas lembranças de infância, de menino que acompanhou a guerra pelas emissoras de Recife junto ao velho rádio do “olho mágico”.
Os autores
“Brazilian Section – As transmissões em português da BBC durante a Segunda Guerra Mundial”
Irineu Guerrini Jr. (Faculdades Cásper Líbero)
“A Voz da América no front: o serviço de radiodifusão oficial dos Estados Unidos”
Sônia Virgínia Moreira (Uerj)
“O noticiário radiofônico como política de guerra e a edição brasileira do Repórter Esso”
Luciano Klöckner (PUCRS)
“Goebbels e as potencialidades do rádio na Alemanha nazista”
Sandra de Deus (UFRGS)
“Porto Alegre: a Segunda Guerra é aqui (não só) pelas ondas do rádio”
Luiz Artur Ferraretto (Ulbra)
“Ouvir é obedecer: o confisco dos aparelhos de rádio na zona de colonização italiana da Serra Gaúcha”
Cida Golin (UFRGS)
“Encontro entre o real e o ficcional: o conflito e o nazi-fascismo nas novelas da Rádio Nacional”
Lia Calabre (Fundação Casa de Rui Barbosa)
” Estética do imaginário – o drama radiofônico e a frente do espírito”
João Batista de Abreu (UFF)
” O jovem tataravô – humor, imaginário e rádio no cinema”
Dóris Fagundes Haussen (PUCRS)