No último dia do 1º Seminário Internacional de Gestão em Segurança Pública no Campus do Gragoatá, em Niterói, foram discutidos os problemas do uso de drogas e suas conseqüências para a sociedade. Pesquisadores do Brasil e França debateram sobre questões como drogas “versus” criminalidade, políticas de redução de danos aos usuários de drogas e o envolvimento dos meninos de rua no mundo do crime.
O professor Dominique Duprez, da Université de Lille, na França, afirmou que, segundo os trabalhos realizados no seu laboratório de pesquisas econômicas e sociais, na França as drogas mais consumidas são a maconha e a heroína. De acordo com Duprez, o consumo de álcool entre os jovens é alarmante. Ele disse que a depressão é um dos fatores que levam a essa estatística e coloca o país na posição de maior consumidor de remédios para a doença na Europa.
O professor de Antropologia da UFF Antonio Barbosa acredita que a aplicação de uma política de redução de riscos e danos seria um caminho para a diminuição do mercado do tráfico de drogas, que lucra mais de US$ 400 milhões por ano. Segundo ele, no Estado do Rio de Janeiro, a população carcerária, tanto nos presídios femininos e masculinos, é composta por presos envolvidos com o tráfico.
Antonio Barbosa concluiu que o mais viável para o Brasil seria a adoção da não-punição, que tira a definição de traficante de drogas para aqueles que são apenas usuários. Estes prestariam serviços comunitários e participariam de programas sócio-educativos. Com isso, o programa de redução de danos adota estratégia de repressão do consumo para reduzir os efeitos nocivos tanto no corpo quanto na vida social do usuário. O programa visa, principalmente, resgatar a cidadania e auto-estima do dependente.
O professor da Psiquiatria da Infância e Adolescência da Faculdade de Medicina e da Coordenadoria de Justiça Terapêutica do Ministério Público Estadual, Jairo Werner, chamou a atenção para o fato de que “meninos de rua” consomem solventes a partir de 6 anos de idade. De acordo com Werner, os jovens, que são “soldados do tráfico”, perdem a sua importância quando têm transtornos psicológicos por causa do uso excessivo de drogas.
Jairo Werner apontou que 53% da população carcerária é de jovens entre 18 e 24 anos e pelo menos um terço deles já tiveram passagem pela Febem. O professor enfatizou que o trabalho deve ser feito em conjunto com o dependente para que ele saia do mundo das drogas.
A coordenadora-executiva do curso de Gestão em Segurança Pública e Justiça Criminal, Gláucia Mouzinho, avaliou o seminário como ponto primordial para trocar experiências relativas à segurança pública entre alunos, pesquisadores europeus e agentes da segurança pública. Os participantes do seminário produziram relatórios que serão enviados à Secretaria Especial de Direitos Humanos, órgão intermediador entre a UFF e a União Européia.