Pesquisadores da UFF descobriram um novo método de utilização para a substância conhecida como álcool perílico (AP), um lipídio que pode ser extraído de óleos essenciais de várias plantas como frutas cítricas e vegetais. Utilizado em pacientes com câncer – terceira causa de morte no mundo -, o AP – em ação “in vitro” – inibe em menos de meia hora a proliferação de células cancerosas por um processo chamado apoptose, tipo de morte celular que não causa necrose. A terapia já está sendo aplicada em pacientes do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), e os resultados têm sido animadores, aumentando a sobrevida e até fazendo regredir tumores.
O câncer atualmente é a terceira causa de morte no mundo. Mas uma nova esperança surge no combate à doença. Pesquisadores da UFF descobriram esse novo método de utilização para a substância conhecida como álcool perílico (AP), um lipídio que pode ser extraído de óleos essenciais de várias plantas como frutas cítricas e vegetais. O trabalho está sendo desenvolvido por Thereza Quírico-Santos (coordenadora-geral do projeto), Regina Caetano (ambas do Instituto de Biologia), Débora Futuro (farmacêutica da Farmácia Universitária responsável pela parte aplicada), e Clóvis Orlando da Fonseca (coordenador da parte clínica dos pacientes e neurocirurgião do Huap).
Em sua dissertação de mestrado, Fonseca comprova a ação “in vitro” do álcool perílico em células de tumor no cérebro. O AP inibe em menos de meia hora a proliferação destas células por um processo chamado apoptose, tipo de morte celular que não causa necrose. Ela ocorre pela fragmentação do DNA e, desta forma, as células cancerosas perdem a capacidade de se multiplicar. Quando a morte celular ocorre por necrose, há a liberação de radicais livres que estimulam o crescimento das células cancerosas.
“O processo de apoptose seria uma morte limpa da célula”, explica a professora Thereza. Em outro trabalho, “in vivo”, células tumorais foram tratadas com álcool perílico e colocadas num ovo com embrião. Nesse caso, elas perderam a capacidade de migrar. Esse foi um ensaio que demonstrou que as células tumorais tratadas com álcool perílico perdem a capacidade de formar metástase porque não migram (isto é, o câncer não se aloja em outros pontos).
O tratamento convencional dos pacientes com câncer envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia, procedimentos que também atingem as células saudáveis e provocam diversos efeitos colaterais. Segundo o professor Fonseca, a nova proposta tem como estratégia agir no tumor de forma não-invasiva, sem afetar as células normais. Assim, os pesquisadores decidiram adotar a inalação como forma de administração do álcool perílico. Ao ser inalado, o AP ele age diretamente no sistema nervoso central e no tecido pulmonar.
O professor Clóvis Fonseca foi autorizado a fazer esse trabalho por meio da utilização do AP em pessoas com tumor cerebral “recidiva” (pacientes que passaram por todos os tratamentos convencionais, tinham sido operados e voltaram a apresentar a doença). O trabalho está sendo feito na UFF com pacientes encaminhados ao Huap, onde foi criado em 2005 um ambulatório de neurooncologia. O tratamento é totalmente gratuito e os pacientes tratados com álcool perílico, até o momento, não apresentaram qualquer efeito colateral indesejável.
No momento, estão sendo tratados com o AP quatro pacientes com tumor cerebral. Um deles é N.L.S., que apresenta glioblastoma multiforme, um tipo de tumor bastante agressivo em que a sobrevida é muito pequena. O paciente começou a ser tratado no dia 4 de novembro de 2004 e, segundo o médico, seu estado era terminal. Apresentava dificuldades respiratórias e para engolir e estava paralisado em todo o lado esquerdo. Também não falava e estava em estado de torpor. Depois de começar o tratamento diário com o AP, o paciente se alimenta, conversa e está desperto, mas ainda continua paralisado. Os demais pacientes estão sendo monitorados e neles o tumor não aumentou.
A equipe, atualmente, atende somente pacientes com tumor cerebral encaminhados para este tratamento.