Com foco na acessibilidade e inclusão, uma parceria entre a UFF e a Prefeitura Municipal de Niterói, através da Fundação Municipal de Saúde (FMS), possibilitará a inovação na criação e confecção dos produtos de divulgação do órgão. Desde 25 de julho, boa parte dos cartazes, folhetos, banners e cartilhas produzidos pelo setor de artes gráficas da FMS passaram a receber um QR Code, que ao ser carregado no smartphone de um usuário com deficiência auditiva, possibilitará a obtenção de outras informações sobre o assunto, além das inseridas no material gráfico.
O projeto é coordenado pela professora de Libras do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFF, Gildete da Silva Amorim Mendes Francisco. Ela leciona a língua brasileira de sinais para 27 cursos da instituição, bem como para o Instituto de Saúde Coletiva, situado no Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), além da disciplina de Libras em Saúde para os estudantes da Faculdade de Medicina.
Torço para que ações como essa possam se multiplicar e que de fato o deficiente auditivo tenha mais visibilidade dentro dos espaços públicos de saúde”, Gildete Francisco.
De acordo com Gildete, a ideia surgiu após ouvir o depoimento de uma usuária com surdez, que reclamava de não obter outras informações na língua de sinais. “Eu fiquei com aquela fala na cabeça e questionei como poderia propiciar acessibilidade para ela e outros surdos de forma clara e objetiva”, comentou a professora, ressaltando que pensou muito em aliar a sua prática à questão tecnológica. “Eu passei a gravar vídeos utilizando a libras. Foi assim que nasceu a proposta”, informou. Hoje, de acordo com a especialista, a maioria dos deficientes auditivos usa celular e acessa os conteúdos impressos e visuais em português, ampliando as informações em libras recebidas por meio do aparelho.
Com a utilização de um QR Code impresso no produto, o número de informações passadas à população com deficiência auditiva vem sendo ampliado. Sendo assim, a FMS está proporcionando aos usuários uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a da equidade, que garante a todas as pessoas atendimento e informações confiáveis. Ainda segundo Gildete, a iniciativa vai ao encontro do que está estabelecido pela Lei de Libras.
“A iniciativa é inédita não só em Niterói como em todo o estado do Rio de Janeiro. Aliás, acredito que não exista no Brasil nenhum material deste porte. Torço para que ações como essa possam se multiplicar e que de fato o deficiente auditivo tenha mais visibilidade dentro dos espaços públicos de saúde”, afirma a professora. Além disso, o projeto vai ao encontro do que está estabelecido no Direito Linguístico, conforme o Decreto 5.626 de 2005, que a motivou na criação dos vídeos.
Os deficientes auditivos, relembra Gildete, encontram-se entre os grupos vulneráveis e desfavorecidos, que sofrem com o que chamamos de “uma barreira linguística”, onde se sentem impedidos de ter uma comunicação ágil e eficaz que permita a eles acessarem os serviços básicos fornecidos pela sociedade. A professora acredita que o material beneficiará não apenas surdos, mas também os profissionais que atuam direta e indiretamente com eles, uma vez que o material é bilíngue, em português e libras.
Desde 2017, acrescenta a professora, existe na UFF o projeto de extensão intitulado “Libras em Saúde: um estudo de sinonímia”, realizado por meio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), em parceria com um grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos em Diversidade e Inclusão de Surdos (Nuedis). O objetivo é despertar o interesse dos profissionais da saúde para a melhoria no atendimento clínico e hospitalar das pessoas com deficiência auditiva e surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e seus familiares, possibilitando a inclusão social. “O desenvolvimento do projeto prevê também o oferecimento de palestras, cursos e oficinas com foco na acessibilidade dos surdos à saúde, assim como a promoção de campanhas de conscientização destinadas aos surdos no local de trabalho”, conclui.