Notícia

5ª Olimpíada Brasileira de Cartografia estimula a apropriação do conhecimento dos mapas através do território amazônico

A OBRAC 2023 iniciou suas atividades em julho e conta com uma exposição virtual dos mapas desenvolvidos

A Amazônia Legal é uma área que corresponde a mais da metade do território brasileiro e engloba a totalidade de oito estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Estado do Maranhão. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), nela residem mais de 50% da população indígena brasileira. Voltando o olhar para essa região, a 5ª edição da Olimpíada Brasileira de Cartografia (OBRAC) promovida pela Universidade Federal Fluminense (UFF) traz o tema ‘Amazônia no Mapa’ e trabalha com o mapeamento participativo e colaborativo do território amazônico. A olimpíada é realizada a cada dois anos e participam professores e alunos do nono ano (do ensino fundamental) ao último ano (do ensino médio) da rede pública do Rio de Janeiro, além de professores de diversas Universidades do Brasil como avaliadores.

As provas teóricas e práticas das etapas da OBRAC 2023 foram realizadas entre julho e outubro deste ano. O momento atual da olimpíada é de preparação para o desenvolvimento de atividades presenciais, que ocorrerão no Rio de Janeiro entre 7 e 10 de novembro, e incluem visitas técnicas, minicursos, prova de corrida de orientação, premiação e encerramento. Os mapas confeccionados pelas equipes participantes nas primeiras fases, contemplam os aspectos relacionados às potencialidades e aos desafios encontrados na região da Amazônia Legal brasileira, e fazem parte da exposição homônima, hospedada no portal IVIDES.org. O conteúdo da exposição foi organizado pela doutora Raquel Dezidério Souto, integrante da equipe técnica da olimpíada e pós-doutoranda junto ao Laboratório de Cartografia (GeoCart) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Este ano o objetivo foi trazer os estudantes para perto das grandes questões da Amazônia, sua rica biodiversidade, povos indígenas e seus grandes desafios. “Na 5ª edição da OBRAC a proposta foi trazer atividades inovadoras relativas ao mapeamento de recursos naturais e povos indígenas, com uso de geotecnologias. Também promovemos discussões sobre a importância da Amazônia, uma das maiores riquezas do povo brasileiro, as capacidades espaciais e cartográficas das imagens, além das questões relacionadas à biodiversidade, à floresta e ao desmatamento, à bacia hidrográfica e as questões sociais associadas”, conta a idealizadora e coordenadora da iniciativa, professora Angelica Di Maio, do Instituto de Geociências da UFF.

Para a professora, a cartografia permite a capacidade de refletir os acontecimentos em diferentes áreas do conhecimento e nos leva a prática da cidadania, fundamental para a transformação da realidade. “No âmbito do ensino, a cartografia é uma ciência com muitas possibilidades e permite descrever, explicar e até prever a ocorrência de fenômenos no espaço, graças ao seu caráter multi e interdisciplinar, que pode ser exercitado desde a escola. A OBRAC propicia novos aprendizados ao aproximar os alunos e professores de novas tecnologias ligadas à representação geoespacial. Poder participar de uma olimpíada de conhecimento, que trata temas tão relacionados com a nossa realidade no Brasil e no mundo, tendo os alunos e professores como protagonistas, também é um grande estímulo à produção de conhecimento na área”.

Mapa produzido pela equipe do professor Fausto Arbidia do Colégio Tiradentes da Polícia Militar / Fonte: Exposição OBRAC 2023

A OBRAC é realizada em equipes, composta por alunos e professores, que são os chefes das equipes, e juntos todos fazem muitas descobertas. Na edição de 2017, elaboraram mapas que mostram as Palmeiras no Brasil, algumas em risco de extinção . Em 2019, o foco foi na inclusão com 2 abordagens: mapas para deficientes visuais e mapas com as histórias de refugiados. A questão dos refugiados foi abordada, em parte, com base nas experiências do fotógrafo Sebastião Salgado e do cineasta Ai Weiwei sobre o tema, como uma forma de agregar arte e ciência ao evento. No ano de 2021, os alunos tiveram a experiência com a cartografia cinematográfica. Criaram roteiros e produziram curtas-metragens com a cartografia no centro da história.

“A maior satisfação é ver alunos, alunas e professores envolvidos com a construção coletiva do conhecimento. A OBRAC é ao mesmo tempo uma olimpíada científica e uma estratégia de ensino e aprendizagem. Incentiva novas formas de buscar soluções para problemas da sociedade e permite um mergulho nas questões ambientais, culturais e sociais. As equipes já construíram instrumentos cartográficos (teodolito, bússola, pantógrafo, odômetro, astrolábio, nível, etc.), elaboraram mapas sobre questões ambientais ou aspectos históricos e culturais do país, bem como já construíram maquetes e mapas táteis”, acrescenta Angelica.

A docente ressalta ainda que a olimpíada proporciona um desafio do conhecimento estimulante no ambiente escolar, mas o trabalho em equipe promove outros aprendizados, exige o convívio e a prática de compartilhar e de saber respeitar a opinião do outro. “As experiências vividas pelas equipes vão além do conteúdo cartográfico. Elas contribuem também no desenvolvimento da capacidade de debater e tomar decisões em prol de um objetivo comum. Há envolvimento de todos!”, conclui.

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Angelica Carvalho Di Maio é graduada em Engenharia Cartográfica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e doutora em Geografia (Análise da Informação Espacial) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professora associada e Diretora do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense. Atua em projetos de pesquisa e extensão no campo da educação, em especial com foco na informação geoespacial, junto a docentes e discentes do ensino básico. Desenvolve pesquisa e extensão na área de geociências e meio ambiente, com ênfase em cartografia, sistema de informações geográficas e sensoriamento remoto na educação. É Coordenadora da olimpíada científica nacional OBRAC – Olimpíada Brasileira de Cartografia. É membro da Comissão Permanente de Equidade de Gênero da Universidade Federal Fluminense (CPEG).

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