Sete anos após a implantação do Campus de Nova Friburgo, a Universidade Federal Fluminense “sobe a serra” mais uma vez e dá continuidade à expansão pelo Estado do Rio de Janeiro. A partir de 25 de novembro, a UFF iniciará as atividades do curso de bacharelado em Engenharia de Produção no novo Campus de Petrópolis. É a primeira universidade federal a ser instalada no município. A primeira turma da UFF em Petrópolis tem 50 alunos, selecionados pela nota do Enem, conforme as regras do Edital Suplementar nº 3, que contou com mais de 1,4 mil candidatos.
A infraestrutura do campus foi montada pela Prefeitura de Petrópolis, que firmou um convênio com a UFF para a sua instalação em um antigo Ciep, no bairro Quitandinha. A condição para a criação do curso foi a oferta, pela administração municipal, de toda a estrutura física necessária ao seu funcionamento. “A Prefeitura forneceu mobiliário, equipamentos, acervo de biblioteca, e ainda fez as reformas e adaptações necessárias a um curso de ensino superior”, disse o coordenador do curso, Moacyr Figueiredo.
Com quatro pavimentos e um anexo ao prédio principal, a unidade dispõe de quatro laboratórios pedagógicos (Física I, Física II, Química e Computação) e outros quatro laboratórios temáticos (Engenharia do Produto, Engenharia de Processo, Planejamento e Controle da Produção, e Inovação e Melhoria), auditório, salas de aula, gabinetes, salas administrativas e espaços de convivência, dentre outros. O anexo é adaptado para a instalação de uma incubadora de empresas e uma empresa júnior, destinadas à realização de novos negócios e empreendedorismo. O campus está interligado à rede metropolitana de dados de Petrópolis, possibilitando acesso à internet em alta velocidade.
Novo curso estimula alunos a aprender fazendo
O Projeto Político-Pedagógico do bacharelado em Engenharia de Produção tem como referencial a metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP ou, em inglês, Project-Based Learning – PBL), que é uma abordagem na qual os estudantes lidam com questões interdisciplinares e tomam decisões sozinhos e em equipe. No processo, envolvem-se com tarefas e desafios para resolver problemas que tenham ligação prática com a vida fora da sala de aula. Como resultado, apresentam um produto final ou desenvolvem um projeto. O PBL será aplicado principalmente a partir do quarto período, logo após as disciplinas básicas de Engenharia.
“Para a sua criação, a Reitoria nos pediu que o curso tivesse um caráter inovador, com a proposição de novos paradigmas e práticas de ensino. Isso estimulou o grupo a sugerir um modelo que pudesse ser implementado em outros cursos na universidade. Pesquisamos por aproximadamente um ano sobre o que havia de inovador no mercado e na academia e concluímos que o PBL era o que melhor se adequava”, explicou o coordenador.
Oriundo do Campus de Rio das Ostras, Moacyr Figueiredo compõe, nesse primeiro momento, a equipe de docentes do novo campus com a diretora da nova unidade, Marcelle de Sá Guimarães; o chefe de departamento, Anibal Vilcapoma Ignacio; e o coordenador de estágios, Luiz Heleno Duque. O corpo técnico-administrativo é composto por servidores aprovados no último concurso da UFF, realizado neste ano.
Focar nos problemas da região é uma forma de dar um retorno à sociedade e cumprir nosso papel de prestação de serviços, que é uma missão da universidade”, Moacyr Figueiredo.
A graduação em Engenharia de Produção tem como objetivo formar profissionais capacitados a identificar, formular e solucionar problemas ligados às atividades de projeto, operação e gerenciamento do trabalho e de sistemas de produção de bens e serviços, considerando seus aspectos humanos, econômicos, sociais e ambientais, com visão ética e humanista, em atendimento às demandas da sociedade.
Em Petrópolis, o curso se voltará principalmente para as demandas da Região Serrana, focando em problemas como a gestão de desastres naturais, sob o foco da logística humanitária. “Focar nos problemas da região é uma forma de dar um retorno à sociedade e cumprir nosso papel de prestação de serviços, que é uma missão da universidade”, defendeu o coordenador.
Outro destaque do currículo é a ênfase dada à educação ambiental ao longo da graduação. Além de disciplinas obrigatórias com conteúdo específico sobre desenvolvimento sustentável e gestão ambiental, outras disciplinas terão conteúdos interdisciplinares que contemplem a questão ambiental, sob a ótica da sustentabilidade.
Com carga horária de 3.660 horas, sendo 3.060 para disciplinas obrigatórias, são 420 horas de disciplinas optativas, além de 210 de horas complementares. “O currículo é mais aberto, com menor carga horária de obrigatórias, permitindo ao estudante tornar a formação mais específica, de acordo com o seu perfil e preferências”, acrescentou Figueiredo.
Interiorização da UFF: vocação para o desenvolvimento do estado
Segundo a assessora de Interiorização da UFF, Jandira Motta, o curso foi criado a partir da demanda da Prefeitura aliada à necessidade de ampliar a qualificação profissional na região e ao potencial de desenvolvimento tecnológico local. Petrópolis já conta com unidades do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), da Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (Faeterj) e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As duas últimas instituições ficam a cerca de um quilômetro do campus da UFF, o que, na avaliação de Jandira, facilita em muito a aproximação.
Além disso, a localidade onde a graduação se encontra oferece um crescente campo de estágio e emprego para os alunos e futuros egressos do curso. “A Região Serrana vem se consolidando como um centro regional de desenvolvimento, principalmente na área da indústria de base tecnológica, e bem perto da UFF há a Faeterj, com uma graduação tecnológica em Tecnologia da Informação e da Comunicação, e a LNCC, que oferece cursos de mestrado e doutorado. Faltava um bacharelado da UFF para completar essa tríade. O objetivo é formar um polo tecnológico, estimulando o intercâmbio e, inclusive, permitindo aos alunos frequentar bibliotecas, espaços comuns e participar de eventos acadêmicos das demais instituições”, apontou ela.
Jandira Motta ressalta que a vocação da UFF é atender aos municípios fluminenses em suas necessidades, levando cursos a locais que tenham escassez de ensino superior federal e priorizando atividades que fortaleçam o desenvolvimento do estado. Mas para que isso ocorra, segundo ela, é necessário que a administração municipal tenha recursos financeiros para viabilizar e dar suporte à instalação dos cursos. “Na época do Reuni, vivemos um período diferenciado, em que o MEC colocou todas as suas forças para a ampliação das universidades. Mas tratou-se de uma política pontual, que já não está mais sendo desenvolvida. Por isso, para podermos fazer mais investimentos de criação e expansão em campi do interior, precisamos que o município tenha condições de também participar desse investimento”, esclareceu.
Para apresentar oficialmente o novo campus ao Ministério da Educação, está programada para a primeira quinzena de novembro a visita de uma comitiva da Secretaria de Educação Superior do ministério (Sesu/MEC). Segundo Jandira, o objetivo é que o MEC possa avalizar a expansão e reconhecer, in loco, a necessidade de recursos daquele campus, incluindo a unidade na matriz orçamentária da UFF.