A acumulação de resíduos sólidos em aterros sanitários é um agravante para a crise climática vivenciada atualmente. Apesar de muitos compostos possuírem potencial de reaproveitamento, ainda há pouca conscientização sobre essa prática na sociedade. Com o intuito de intervir nessa realidade, a Universidade Federal Fluminense (UFF) de Volta Redonda e a Fundação Euclides da Cunha (FEC) assinaram um convênio para criar o Centro de Educação Ambiental nas Escolas (CESCOLA). A iniciativa visa realizar o tratamento de resíduos orgânicos e expandir a consciência ambiental nas escolas e nas comunidades do entorno.
Em 2019, a UFF assinou acordo de cooperação técnica e convênio de estágio com a Dr. Catador, empresa de compostagem de Roberto Guião, possibilitando a atuação de alunos e o desenvolvimento de trabalhos de pós-graduação no Centro de Educação Ambiental de Volta Redonda (CEA V.R). O sucesso desse projeto, com aproximadamente quatro toneladas de resíduos orgânicos coletados mensalmente, deu origem ao Centro de Educação Ambiental nas Escolas (CESCOLA). “A visão negativa do resíduo afasta as pessoas. Quando elas começam a tratar o resíduo, percebem a sua responsabilidade e a participação nessa cadeia produtiva. Por isso, a importância das unidades escolares como disseminadoras dessa consciência. Nós chegaremos ao problema em larga escala partindo do problema micro”, comenta Roberto Guião, professor colaborador da proposta.
Iniciado neste ano, o projeto é coordenado pelo docente Afonso Aurélio, diretor da Escola de Engenharia da UFF de Volta Redonda. A ação possui apoio de emenda parlamentar do deputado Glauber Braga (PSOL) e acordos de cooperação técnica com os municípios interessados. A iniciativa conta com uma equipe multidisciplinar composta por alunos de graduação, pós-graduação, professores e servidores técnico-administrativos. Atualmente, o CESCOLA está presente em unidades escolares de Paraty, Porto Real e na UFF de Volta Redonda. O projeto permanece na unidade escolar pelo período de um ano e meio. Posteriormente, empresas interessadas podem adotar o espaço e dar continuidade ao empreendimento, financiando os custos de manutenção.
A ideia central da proposta é tratar o resíduo orgânico produzido na merenda escolar e nos lanches dos alunos. Esses resíduos são tratados na própria unidade, através do método da compostagem, para a produção de adubo orgânico. O adubo é destinado à horta da escola para a produção de alimentos, que serão utilizados na merenda e pela comunidade local. Nesse processo, é realizada a “economia circular” através da reutilização de resíduos que seriam descartados como lixo.
Além da reutilização de resíduos orgânicos, os alunos produzem os equipamentos da coleta seletiva e há o aproveitamento de resíduos secos (papelão, papel, pet, vidro, material escolar, etc.) por meio da reciclagem, que são separados e destinados à cooperativa de catadores. Todo esse processo envolve o trabalho de educação ambiental, ou seja, a conscientização dos alunos sobre a importância do reaproveitamento de resíduos orgânicos e secos através da compostagem e da reciclagem. Nas palavras do líder do projeto: “assim, é possível reciclar até 90% dos resíduos gerados em uma casa, estabelecimento comercial e somente 10% são destinados ao aterro sanitário, pois são classificados como rejeitos e não têm tratamento.”
O professor Afonso Aurélio destaca a relevância desse empreendimento tanto para as escolas quanto para os municípios: “o resíduo orgânico é tratado, transformado em adubo e gera novos alimentos no local. Com isso, reduzimos o volume de resíduos que vão para o aterro sanitário, diminuímos o frete da Prefeitura e o gasto com o pagamento do aterro para deposição deste resíduo. Nós transformamos o chamado ‘lixo em luxo’, ou seja, em alimento”.