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Especialista em Saúde Pública da UFF chama atenção para ações conjuntas no combate ao Aedes

A situação atual do país é muito grave em relação às viroses transmitidas por insetos (arboviroses). O alerta é do professor Flávio Moutinho, do departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Veterinária da UFF.

Com um vasto conhecimento dos problemas relacionados às zoonoses, o especialista utiliza a epidemiologia como ferramenta de investigação imprescindível ao controle da dengue, zika e da febre Chikungunya.

Moutinho participa também das ações de controle do mosquito Aedes aegypti, na campanha que a universidade promove junto à Prefeitura de Niterói. A parceria visa orientar a comunidade acadêmica e transformá-la em multiplicadores das informações que chegarão naturalmente à população, em especial às gestantes, durante a epidemia de dengue e zika que aflige a região metropolitana do Grande Rio.

Segundo o especialista, nesse contexto, as atividades multissetoriais são essenciais, pois somente uma ação conjunta e integrada proporcionará a cooperação necessária para o enfrentamento dessas enfermidades. Assim sendo, “a parceria da UFF com o poder público pode ser de grande valia na sensibilização da população em geral e, em especial, das gestantes”.

A seguir o professor Flávio Moutinho esclarece algumas questões fundamentais sobre as ações de controle ao Aedes aegypti.

Além do “Fumacê” e dos larvicidas, a educação e informação são armas eficazes no combate ao vetor, mas por que não vencemos de uma vez por todas a batalha contra o “Aedes aegypti”?

Flávio Moutinho: A questão do combate ao “Aedes” é muito complexa, e todas as ferramentas devem ser utilizadas para o controle dos mosquitos, cada uma desenvolvendo sua função. Na minha visão, o principal item nesse controle não é o larvicida e nem o “Fumacê”. O principal objetivo deve ser sempre evitar o acúmulo de água que permita que as fêmeas do mosquito coloquem seus ovos e perpetuem o ciclo biológico do inseto. E para isso é fundamental a educação em saúde e a informação adequada.

De que forma a educação da população pode contribuir no combate ao inseto?

Flávio Moutinho: A simples transmissão da informação teórica para a população não resolve o problema. A população tem que, de posse daquela informação, perceber aquilo como prioritário e mudar seus hábitos no intuito de não facilitar a vida do mosquito. Ao mesmo tempo, não podemos culpar somente o paciente, jogando toda a responsabilidade do controle sobre a população.

Qual o papel do Poder Público na guerra contra o mosquito?

Flávio Moutinho: Há necessidade de ações contundentes de saneamento por parte do Poder Público em todas as suas esferas, envolvendo especialmente a questão do fornecimento de água e da coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos (lixo). Ainda que boa parte dos focos seja encontrada no interior das residências, há a questão dos macrofocos, que são capazes de ininterruptamente fornecer condições para que o ciclo do mosquito se complete. O uso de larvicida deve se dar com parcimônia, quando há impossibilidade de eliminar aquele acúmulo de água.

Se voltarmos o foco para a prevenção, a rede de saúde vai ser menos impactada e pressionada.” – Flávio Moutinho

Qualquer pessoa pode usar o carro “Fumacê”?

Flávio Moutinho: Não! O uso do “Fumacê” deve se dar somente com base estritamente técnica e com muita responsabilidade, pois além de atuar somente sobre a fase de vida alada do mosquito (adulto), ainda pode afetar muitas outras espécies de animais onde for utilizado, matando principalmente os predadores naturais do mosquito, como pequenos pássaros, outros insetos e causando danos significativos no meio-ambiente.

As redes pública e privada de saúde estão realmente preparadas para atender essas diferentes doenças?

Flávio Moutinho: Apesar de não ser profundo conhecedor das redes de saúde acredito que, sem dúvida, há deficiências, especialmente pela alta procura em relação à capacidade instalada em tempos de epidemia. Além disso, a zikavirose é um desafio maior e mais recente. Ainda precisamos de muitos estudos para conhecer melhor seus impactos sobre a saúde humana. Mas se voltarmos o foco para a prevenção, a rede de saúde vai ser menos impactada e pressionada, reduzindo esse problema. O objetivo primaz deve ser sempre evitar o adoecimento.

Os alunos da Veterinária da UFF recebem orientações frequentes sobre essas doenças?

Flávio Moutinho: Na Faculdade de Veterinária as arboviroses são abordadas direta ou indiretamente em, pelo menos, três disciplinas ao longo do curso. Além disso, os alunos têm à disposição como disciplina não obrigatória, uma que aborda a questão da educação em saúde e que pode ser muito útil na formação dos futuros veterinários que atuarão no controle dessas e de outras enfermidades.

Que benefícios a campanha trará para a UFF e para a sociedade?

Flávio Moutinho: A campanha poderá sensibilizar a população para a responsabilidade de todos no combate às arboviroses, especialmente municiando a sociedade com informação de qualidade. Deve-se atentar para a necessidade e a importância de divulgação de informações com base técnica, já que com o advento das redes sociais, apesar da facilitação do processo de comunicação entre as pessoas, estreitando tempo e espaço, muita informação de baixa qualidade ou equivocada vem sendo divulgada e compartilhada, o que, na minha visão, é um grande perigo para a saúde coletiva.

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