Um mapa afetivo das regiões do Brasil, constituído a partir de perspectivas locais. A descrição do projeto Territórios da Arte, resultado de parceria entre a Universidade Federal Fluminense e a Fundação Nacional de Artes (Funarte), resume a riqueza cultural que chega a Niterói, Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes, a partir do dia 02 de outubro.
A iniciativa tem como objetivo compreender as dimensões artísticas e culturais do país por meio de um mapeamento cartográfico da arte e da cultura popular brasileiras. Desde maio, o projeto percorreu os territórios de Cuiabá (MT – Centro-Oeste), Florianópolis (SC – Sul), Belém (PA – Norte) e Recife (PE – Nordeste), conhecendo as regiões. O projeto realizou prospecções do cenário cultural e artístico e encontros locais, elaborando uma visão coletiva sobre o panorama da arte e da cultura de cada localidade.
Para o vice-reitor, Antonio Claudio da Nóbrega, as múltiplas inserções da UFF no ambiente cultural já são marca tradicional da instituição. “Agora, com o Territórios da Arte, avançamos para além de produzir e difundir arte e cultura, agregamos a competência e a missão da universidade de conhecer e fazer conhecer a arte dos diferentes territórios brasileiros”, destaca.
Na Região Sudeste, a UFF sedia o evento. “A Funarte, como nossa parceira, abarcou essa ideia de trazer o projeto para o coração da universidade, numa perspectiva intercampi. Estamos colocando o público das cidades e da própria universidade em contato com essa vitalidade. É um retrato 3 por 4 do país, com as suas várias caras. Um Brasil que está aí, vivo e diverso em suas múltiplas regionalidades”, afirma o gestor do projeto, Leonardo Guelman.
Guelman, que é professor do Instituto de Artes e Comunicação Social e superintendente do Centro de Artes UFF, conta que nos encontros realizados nas regiões foram elaborados os chamados mapas afetivos, um instrumento de fortalecimento dos agentes culturais criadores dos territórios, para a formação de uma nova articulação nas cidades, criando laços e trazendo as pessoas para o protagonismo.
“Na contemporaneidade, essas expressões estão ancoradas em lutas, com muita potência e resistência, e diversos agentes estão inseridos em um contexto de militância. As questões ligadas a direitos, negritude e ao genocídio da população negra, feminismo, classes, e à própria pauta da emancipação da cultura estão efervescentes nesses territórios. Essa é a dimensão política que estamos demonstrando. A cultura, por si só, não é capaz de mudar o mundo, mas é um ativo importantíssimo para a transformação”, acredita o coordenador.
Professor do curso de Produção Cultural em Niterói e curador da exposição que pode ser vista no campus da Reitoria da UFF de 2 a 28 de outubro, Pierre Crapez conta que o mapeamento cartográfico afetivo feito nos territórios sugere metáforas para cada cidade visitada: a cidade-árvore para Cuiabá, a cidade-rede em Florianópolis, a cidade-rio em Belém, a cidade-ponte para Recife e a cidade-paisagem para Niterói. Ao longo das vivências e rodas de conversas do projeto, emergiram tensões e angústias que hoje paralisam as ações culturais nestes respectivos lugares, mas também expressam desejos, indagações, sonhos e buscam recuperar o sentido imaginativo da alma dos lugares o que foi concebido como um dispositivo sensorial no qual o público percorre na exposição, seja pelas obras de artistas, fragmentos de textos ou fotografias colhidas.
“O Territórios da Arte dá voz aos representantes da cultura e da arte locais”, reforça a diretora do Centro de Programas Integrados da Funarte e coordenadora geral do projeto, Maristela Rangel, que acredita que “os resultados já se mostram concretamente depois do percurso pelas regiões”. Como conclusão, o projeto vai consolidar as ações, discussões e apresentações dos grupos culturais na página www.territoriosdaarte.com.br, bem como produzirá um livro impresso, a fim de gerar um repositório e manter a memória do Territórios da Arte.
Editais deram o tom da participação da comunidade nos eventos
Em Niterói, o Territórios da Arte se une ao Festival Interculturalidades, vinculado ao Centro de Artes UFF, que virou uma tradição anual no calendário da cidade, onde a universidade possui o maior número de cursos e de estudantes. No evento, a produção se mostra por meio de debates, oficinas, shows, exposições e apresentações de coletivos artísticos compostos por alunos da própria instituição. Há discussões sobre direitos da cultura, Amazônia, arte e tecnologias de emancipação, matrizes e ancestralidade.
Segundo Antonio Claudio, o objetivo da UFF, com esse projeto, é dar visibilidade e voz a toda a rede de pessoas e culturas que são parte integral da nossa identidade nacional. “A participação ativa da nossa comunidade, não somente de Niterói, mas também de Rio das Ostras e Campos dos Goytacazes, fortalece nossa característica como universidade multicampi e integrada a todo o Estado do Rio de Janeiro”, conclui o vice-reitor.
Para a participação no “Territórios da Arte” em Niterói, a produção do projeto abriu dois editais: um voltado especificamente para estudantes da UFF organizados em 30 coletivos e integrados à programação; outro para uma feira aberta a expositores de Niterói e municípios vizinhos que tenham como mote a produção artesanal ou colaborativa, em segmentos como artes gráficas, decoração, moda, produtos naturais e alimentação. Essas e outras atividades, com entrada franca, ficam abertas ao público conforme a programação disponível nas páginas do Facebook do projeto https://www.facebook.com/territoriosdaarte/ e Centro de Artes UFF https://www.facebook.com/centrodeartesuff/. De 3 a 6 de outubro, o Territórios da Arte estará no Campus do Gragoatá, já nos dias 2, 7 e 8 do mesmo mês, as atividades ocorrem no Centro de Artes UFF, na Reitoria.
Em Rio das Ostras, nos dias 9 e 10 de outubro, o Territórios se integra ao Encontro de Tambores, que reunirá grupos e coletivos que atuam na cena cultural local e nacional a partir de uma perspectiva afro-brasileira. Além das trocas de saberes, experiências culturais e vivências, ressalta-se o caráter de reafirmação de uma cultura dessa matriz, que tem nos territórios tradicionais seu lócus privilegiado de resistência. Em Rio das Ostras, a organização é feita por professores e alunos dos cursos de Serviço Social, Produção Cultural e Psicologia do Instituto de Humanidades e Saúde (IHS), pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros do Campus de Rio das Ostras (NEAB/UFF) e pela Fundação de Cultura da cidade.
No Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional de Campos dos Goytacazes, a articulação do projeto se dá com o coletivo Deu na Telha e os gestores do Galpão Cultural Goytacá, um espaço que era utilizado para armazenamento de açúcar da Estação do Saco. O galpão está sendo revitalizado e ressignificado pela própria comunidade acadêmica da UFF de Campos, como um espaço que integrará ações de ensino, pesquisa e extensão conjugando as dinâmicas coletivas da universidade e os movimentos sociais. Integrado ao Territórios da Arte, nos dias 11, 12 e 13 de outubro, o Festival Deu na Telha é um encontro de arte e cultura que contempla expressões em efervescência na região. O objetivo é fortalecer laços afetivos e a vivência cotidiana da cidade, movimentando a economia criativa da cidade e expressando a arte local.