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Pesquisa da UFF avalia a eficácia de jalecos cirúrgicos na proteção dos dentistas contra a COVID-19

Luvas, jalecos e outros Equipamentos de Proteção Individual (EPI) sempre fizeram parte da rotina de trabalho dos dentistas. Durante a pandemia de COVID-19 deflagrada no ano de 2020, no entanto, essa necessidade se tornou ainda mais urgente e passou a ser alvo de preocupações por parte da categoria.

Como forma de contribuir para essa discussão, a equipe liderada pela cirurgiã-dentista e professora titular de Periodontia da UFF Eliane dos Santos Barboza investigou a eficácia dos EPIs de TNT para os dentistas, estudo que foi divulgado em junho do ano passado. Agora, e como desdobramento desse primeiro momento do trabalho, a resistência dos jalecos cirúrgicos com diferentes materiais de fabricação passou a ser avaliada por parte dos pesquisadores.

Também participam do grupo outros seis pesquisadores da UFF. Entre eles, o diretor da Faculdade de Odontologia, professor Ésio Vieira, que, segundo Eliane, já adquiriu os EPIs de acordo com as especificações necessárias para a segurança dos profissionais e alunos do curso, possibilitando um retorno aos atendimentos clínicos. Além dele, fazem parte do trabalho o chefe do Departamento de Odontoclínica, professor Gustavo Oliveira, o docente do Departamento de Odontotécnica, Waldimir de Carvalho, as mestrandas Caroline Montez e Luiza Sendra e o pós-doutorando Vinicius Ferreira.

Nosso trabalho enfatiza que os profissionais de saúde devem estar cientes das especificações exatas dos tecidos de suas vestimentas cirúrgicas, principalmente quando estiverem expostos a aerossóis, para a sua segurança e proteção”, Eliane Barboza, cirurgiã-dentista e professora titular de Periodontia da UFF.

O diretor da Faculdade de Odontologia destaca que desde o início da pandemia as autoridades sanitárias têm apontado o fato de a odontologia ocupar o topo da cadeia de contaminação: “o coronavírus habita as vias aéreas superiores e nós, cirurgiões dentistas e auxiliares, trabalhamos com a cavidade oral. Além disso, uma especificidade da nossa profissão é a de produzir o chamado aerossol, que cria uma via de comunicação ainda mais íntima, aumentando o poder de invasividade do vírus em relação ao profissional. Fica clara, portanto, a importância do EPI utilizado por nós e de termos um material em que o isolamento seja total”, sublinha.

No primeiro estudo, os TNTs (tecido não tecido), que compõem o material dos jalecos cirúrgicos descartáveis, foram testados de forma simples e dobrada, em três diferentes gramaturas, para avaliar a resistência a cinco minutos de exposição ao aerossol produzido pela caneta de alta rotação utilizada pelos dentistas. Os resultados mostraram que o profissional, ao utilizar esse EPI, pode não estar sendo protegido contra a passagem de aerossóis. Segundo Eliane Porto, “o trabalho concluiu que há necessidade de uso de vestimenta impermeável pelos profissionais que necessitam utilizar tais ferramentas em tempos de pandemia pelo vírus SARS-Cov-2”, enfatiza.

Já no segundo estudo, os autores contataram seis empresas que fabricam ou representam tecidos para confecção de vestimentas cirúrgicas que estão à venda no mercado brasileiro. Utilizando a mesma metodologia do trabalho anterior, foram testados cinco TNTs, relatados como impermeáveis, um tecido à base de poliéster e um tecido à base de algodão (hidrorrepelentes e repelentes a microrganismos). Ésio Vieira destaca que a pesquisa envolveu a montagem de uma metodologia inédita, em um dos laboratórios da Odontologia, com o propósito de avaliar a efetividade dos EPIs por meio da simulação da produção de aerossol.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, os resultados evidenciaram que o têxtil SMS, composto de seis camadas (SSMMMS – Spunbond, Spunbond, Meltblown, Meltblown, Meltblown, Spunbond), mundialmente utilizado na fabricação de vestimentas cirúrgicas, e o tecido de algodão impregnado com nanopartículas não ofereceram proteção contra aerossóis. Curiosamente, aponta Eliane, ambos os tecidos são descritos como repelentes de água.

A pesquisadora acrescenta que os TNTs laminados com polietileno e o tecido de camada tripla (Trilayer) com membrana de poliuretano mostraram-se barreiras eficientes contra o procedimento de geração de aerossol no tempo de cinco minutos: “sugerimos que os profissionais de saúde, quando expostos a aerossóis, estejam atentos às especificações exatas do material de sua vestimenta cirúrgica para a sua segurança. Caso o profissional não tenha acesso a jalecos impermeáveis, é obrigatório o uso de vestimenta de plástico associado ao jaleco descartável, seguindo as normas da OMS (2014, 2020)”, destaca.

O trabalho foi dividido em etapas que consistiram na execução dos procedimentos com aerossóis nas 70 amostras (dez amostras dos diferentes sete tecidos), transferência e análise das imagens, análise estatística dos resultados, etapa de discussão e produção do artigo científico já submetido para a publicação “Frontiers in Dental Medicine”, um periódico de livre acesso.

A coordenadora salienta ainda que o material hidrorrepelente pode permitir a penetração de fluidos dependendo da quantidade de líquido e do tempo de exposição, conforme foi demonstrado na pesquisa. Além disso, vários estudos relataram que, quando um líquido contendo microrganismos penetra em um material, os microrganismos são transportados juntamente com o líquido, sendo a penetração possível sem que o líquido seja visível.

Eliane Barboza finaliza ressaltando a importância de tecidos com diferentes pesos e camadas de impermeabilização fornecerem ao produto final variadas possibilidades de uso, atendendo às necessidades dos profissionais de saúde. Por exemplo, ela explica, “o dentista deve usar vestimentas que forneçam barreiras contra microorganismos e aerossóis. Isso pode ser diferente para alguns médicos, que requerem apenas proteção de barreira microbiana. Em tempos de pandemia pelo vírus SARS-Cov-2, a utilização de um EPI eficiente se faz necessário. Temos perdido muitos profissionais de saúde para esse vírus. Nosso trabalho enfatiza que os profissionais de saúde devem estar cientes das especificações exatas dos tecidos de suas vestimentas cirúrgicas, principalmente quando estiverem expostos a aerossóis, para a sua segurança e proteção”, alerta.

Segue, abaixo, a lista dos jalecos examinados pela equipe de pesquisadores da UFF. Todos os autores da pesquisa declaram não ter conflitos de interesse com qualquer companhia que tenha enviado as amostras.

O SMS PP OE Phobic #N070AS40 é um TNT composto de seis camadas (SSMMMS – spunbond, spunbond, meltblown, meltblown, meltblown, spunbond), fabricado e enviado pela Fitesa® (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil). A Fitesa é mundialmente conhecida.
O Laminated Phobic #B5RHBBK50 é um TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno) fabricado e enviado pela Fitesa® (Porto Alegre, RS, Brasil).
O Medical Barrier #002 é um TNT da Fitesa (Porto Alegre, RS, Brazil), laminado com polietileno da Nova Embalagens e Filmes Técnicos (Rio de Janeiro, RJ, Brasil), distribuído pela Mewi (Rio de Janeiro, RJ, Brazil).
O Trilayer Fabric #21804 é um tecido composto de 3 camadas (poliéster, membrane de poliuretano e poliester) fabricado pela Alpex (Saint Chamond, Loire, France).
Jaleco impermeável #78631 é um TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno) fabricado pela Polymer Group Inc. (São José dos Pinhais, Paraná, Brasil)
Impermeável com fita seladora #000017 é um TNT (polipropileno) com filme (laminado) de polietileno) fabricado pela Cotebras (São Paulo, SP, Brasil).
Clean Wear #03 (100% algodão com nanopartículas) – Nanowear (Novo Hamburgo, RS, Brazil).

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