A Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a coordenação dos professores do Instituto de Geociências Rosemary Vieira e Arthur Ayres Neto, integra a Expedição Internacional de Circunavegação Costeira Antártica (ICCE) que será realizada entre 22 de novembro de 2024 e 25 de janeiro de 2025 e percorrerá a costa do continente antártico para chegar o mais perto possível das frentes das geleiras. Os principais objetivos da expedição são estudar o impacto das mudanças climáticas nas geleiras e ecossistemas costeiros da Antártica, mapear a biodiversidade marinha e coletar dados sobre microplásticos e contaminantes emergentes.
“Ao atravessar um percurso de mais de 20 mil quilômetros, um dos principais objetivos é analisar a estabilidade do manto de gelo. Serão coletadas amostras biológicas, de água e sedimentos, além de mensurações da temperatura e da salinidade da água. Observações do comportamento das geleiras que fluem para o mar também serão efetuadas, principalmente na Península Antártica e partes do manto de gelo da Antártica Ocidental. Ou seja, todos esses dados nos darão informações de como o manto de gelo está respondendo às mudanças no clima”, conta Vieira.
A expedição é liderada pelo pesquisador e explorador polar Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e contará com cientistas de sete países — Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. No total serão 61 cientistas, incluindo 27 brasileiros vinculados a instituições associadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e a projetos vigentes de pesquisa do Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq). “Por ser uma navegação próxima à costa, os principais desafios são as condições meteorológicas e a extensão do gelo marinho, que vão influenciar na maior ou menor aproximação das zonas costeiras. Mas a navegação será realizada em um navio quebra-gelo russo, que tem condições de avançar em direção à costa”, explica a docente.
A equipe embarcada da UFF será representada pelas pesquisadoras Tainá Napoleão Caram, do Instituto de Geociências (IGeo/UFF), e Alyne Cristine Corrêa Martins, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM/UFF), que atuarão na coleta e interpretação de amostras geológicas sedimentares e de levantamento geofísico do fundo marinho e glaciomarinho, para analisar as interações entre o comportamento das geleiras diante das variações climáticas, e os processos de sedimentação resultantes e seus impactos nos sistemas glaciomarinhos envolvendo geomorfologia, geofísica e biogeoquímica.
Outro ponto, segundo a professora da UFF, é que estudos recentes têm indicado a presença de microplásticos e poluentes em amostras de neve na Antártica. “As fontes emissoras são inferidas pela trajetória das massas de ar e das correntes marinhas e também pela presença de estações científicas que também podem ser emissoras, além da circulação de navios turísticos. O importante dos dados a serem obtidos é comprovar e alertar sobre a presença dessas partículas em praticamente todas as partes, em escala global. É claro que a quantidade registrada na Antártica é inferior comparada às áreas urbanas e industriais, mas a conexão do continente com outras áreas do planeta deve ser considerada pelos tomadores de decisão em escalas regionais e globais”.
As coletas de sedimentos que a UFF realizará também serão analisadas em conjunto com outros laboratórios de outras universidades. Além disso, uma vez obtidas as amostras, parte delas serão compartilhadas com outras universidades do Brasil e do exterior.
Sobre a ICCE
A ICCE é uma expedição multidisciplinar de circunavegação científica da Antártica com amostragem do ambiente biológico, químico e físico, levantamentos geofísicos e coleta de dados glaciológicos, oceanográficos e atmosféricos. O objetivo é coletar amostragens ao longo da costa, envolvendo estudos biológicos, químicos e físicos, focando dados atmosféricos, geofísicos, glaciológicos e oceanográficos do manto de gelo antártico e seu entorno.
A expedição também inclui um levantamento aéreo inédito das massas de gelo, monitorando o comportamento das geleiras diante das mudanças climáticas. A tecnologia avançada do satélite Starlink permitirá a troca de informações via texto, áudio e vídeo, com acesso ilimitado à internet durante todo o percurso antártico, facilitando a comunicação e a transmissão de dados em tempo real.
Para percorrer toda a costa e acessar o continente antártico será usado o navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica (São Petersburgo, Rússia). A expedição é 97% financiada pela fundação suíça Albédo Pour la Cryosphère, dedicada ao estudo e à preservação da massa de neve e do gelo planetário. E conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
Além da UFF, entre os pesquisadores brasileiros estão representantes das seguintes universidades brasileiras: UFRGS, Universidade de Brasília (UNB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV)
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Rosemary Vieira é formada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (1987), mestrado em Geografia – Universidade do Chile (2002), doutorada em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006 – Capes 7) e Estágio de Doutoramento – Universidade do Chile (2005). Pós-Doutorado no Centro Polar e Climático, IGEO-UFRGS. Atualmente é Professora Associada IV da Universidade Federal Fluminense (UFF) – Departamento de Geografia/Instituto de Geociências, sendo credenciada para orientação nos programas de pós-graduação em Geografia. É Pesquisadora do Programa Antártico Brasileiro. Coordenadora do Laboratório do Processos Sedimentares e Ambientais (LAPSA), integrado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera. Bolsista de Produtividade do CNPq Nível 2 (2021-2023).
Por Fernanda Nunes