O Brasil celebra amanhã (27) o Dia Nacional de Combate ao Câncer Colorretal, data dedicada à conscientização sobre uma das doenças que mais afetam homens e mulheres no país. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer colorretal deve registrar aproximadamente 45 mil casos para cada ano do triênio de 2023 a 2025, consolidando-se como o segundo tipo de câncer mais comum entre a população brasileira.
O câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino, é um tumor maligno que se desenvolve no cólon ou no reto. A doença geralmente surge a partir de pólipos – lesões benignas que podem crescer na parede do intestino e, com o tempo, transformar-se em câncer. Por isso, a detecção precoce desses pólipos é crucial, ao permitir a remoção antes que se tornem malignos, aumentando significativamente as chances de cura.
Apesar de a maioria dos casos não ter uma causa específica identificada, especialistas apontam que o estilo de vida desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da doença. A prevenção, no entanto, é possível por meio da adoção der hábitos saudáveis, como a prática regular de atividade física, uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes e grãos, e a redução no consumo de carnes processadas e vermelhas.
Para nos aprofundarmos no tema, o UFF Responde convida o médico coloproctologista e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF), Alfredo Ricardo Tauil. Com vasta experiência na área, o especialista esclarece as principais causas, sintomas, métodos de prevenção e os avanços no tratamento dessa doença.
Confira a entrevista na íntegra:
O que é o câncer colorretal e por que ele é considerado um dos tipos de câncer mais comuns no Brasil?
É uma lesão tumoral causada por uma série de alterações genéticas acumulativas na mucosa (camada mais interna da parede intestinal) do cólon e reto. No Brasil, segundo o INCA, é o segundo câncer mais frequente em ambos os sexos. Existem vários fatores responsáveis por isso, entre os quais: alimentares (consumo de carne processada, alimentos ricos em gorduras e açúcar e pobres em fibras), sedentarismo, obesidade, idade, fatores genéticos e familiares, detecção tardia por dificuldade de acesso a uma unidade de saúde, além da demora exagerada para conseguir exames de diagnóstico, como a colonoscopia.
Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer colorretal?
A idade é um fator de risco, já que a maioria dos tumores colorretais é diagnosticada acima dos 65 anos. A causa ainda não está totalmente clara, mas é provável que haja uma relação entre fatores genéticos, estilos de vida e alimentação pouco saudáveis.
Quais são as principais medidas de prevenção que a população pode adotar para reduzir o risco de desenvolver câncer colorretal?
Manter uma dieta rica em fibras, com redução no consumo de carne processada, gorduras, açúcar e embutidos. Praticar atividade física regularmente, controlar o peso corporal, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. É muito importante realizar exames de rastreamento regulares, como o FIT (pesquisa de sangue oculto nas fezes) e a colonoscopia. Também é necessário buscar identificar fatores genéticos e familiares e informar-se sobre os sinais e sintomas da doença.
Quais são os principais sintomas que podem indicar a presença de câncer colorretal? Há uma idade ou frequência ideal para as pessoas começarem a realizar exames de rastreamento?
Os principais sintomas são: sangue nas fezes, sangramento durante a evacuação, alteração do hábito intestinal, dor abdominal em cólica, sensação de tenesmo retal (sensação de evacuação incompleta, mesmo quando completa), emagrecimento acompanhado desses sintomas, massa abdominal e anemia. O rastreamento deve começar por volta dos 45 anos, ou aos 40 anos para pessoas com histórico familiar de câncer de cólon e reto.
Como a detecção precoce impacta as chances de cura e a qualidade de vida dos pacientes?
A detecção precoce é extremamente importante porque, uma vez identificados os pólipos por meio da colonoscopia, é possível removê-los antes que evoluam para um câncer. Já os tumores propriamente ditos, em estágio 1 (inicial), podem ser operados com chance de 90% de cura. Por isso, é importante haver uma data nacional de conscientização que ajude a enfatizar a prevenção e o rastreamento da doença para o maior número de pessoas.
Quais são os principais avanços no tratamento do câncer colorretal nos últimos anos?
No tratamento operatório, destacam-se as cirurgias vídeo-laparoscópica e robótica, além da radioterapia, as novas drogas quimioterápicas e a terapia imunológica. Ressalta-se que a base fundamental do tratamento dos tumores colorretais é a cirurgia.
Como o histórico familiar influencia no risco de desenvolver a doença, e o que as pessoas com casos na família devem fazer para se prevenir?
O câncer colorretal hereditário é raro, representando cerca de 1% dos casos. Nas famílias em que há membros com o mesmo tipo de câncer, o rastreamento deve começar aos 40 anos.
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Alfredo Ricardo Tauil é mestre em Medicina (Cirurgia Gastroenterológica) pela Universidade Federal Fluminense (1994) e possui residência médica pelo Hospital de Ipanema (1975). Atualmente, é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense e médico coloproctologista do Hospital Orêncio de Freitas.