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Ética em pesquisa animal é destaque no Núcleo de Animais de Laboratório da UFF

Universidade foi pioneira na implantação de biotérios de criação e experimentação com animais

Segunda universidade do país a ministrar uma disciplina sobre animais de laboratório, com o objetivo de formar médicos veterinários para a área, a UFF foi pioneira na implantação de biotérios de criação e experimentação e na introdução de camundongos isogênicos no Brasil. Atualmente, passadas três décadas após a constituição do Núcleo de Animais de Laboratório (NAL), em 1991, a universidade segue se destacando, com a produção de pesquisa na área com uma sólida base ética e humana, e se preparando para a futura instalação do novo biotério central, onde serão desenvolvidos medicamentos e vacinas.

De acordo com a médica veterinária e professora do Departamento de Imunobiologia Maria Lúcia Barreto, que atuou como coordenadora do NAL durante muitos anos, o Núcleo abrange uma ampla gama de funções além da produção de camundongos e ratos para fornecer aos pesquisadores da UFF. Essas atividades incluem consultoria, orientação e supervisão de pesquisadores e alunos sobre assuntos pertinentes a animais de laboratório, organização de cursos e eventos e desenvolvimento de projetos, relacionados a todos os cursos de pós-graduação e graduação da área médica e biológica que utilizam animais como modelo em seus projetos de pesquisa: Instituto de Biomédico, Instituto de Biologia, Faculdade de Nutrição, Faculdade de Odontologia, Instituto de Saúde de Nova Friburgo e Faculdade de Farmácia.

A equipe de médicos veterinários e de técnicos é a responsável pela orientação de alunos e pesquisadores sobre diversos aspectos que envolvem a criação de animais de laboratório, entre eles: “o manejo dos mesmos, dados zootécnicos, comportamento, enriquecimento ambiental e sinais de enfermidades. Além de técnicas de contenção, de sangria, analgesia, anestesia e métodos de diagnóstico”. O processo de capacitação ocorre através dos programas de estágios e bolsas da Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD), da Pró-reitoria de Extensão (PROEX), da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação (PROPPi) e da FAPERJ, ou ainda pelo trabalho de conclusão do curso (TCC) e disciplinas complementares aos cursos de graduação, com destaque para o de Medicina Veterinária.

Trabalhamos no sentido de implementar esses métodos e banir o uso de animais em experimentos nos quais eles possam ser substituídos”, Renato Abboud, médico veterinário e coordenador do NAL.

A professora da Faculdade e da Pós-graduação em Odontologia, Monica Diana Calasans Maia é uma das que participa de atividades no NAL com seus alunos, realizando pesquisas na área de biocompatibilidade de biomateriais assim como para o desenvolvimento de novos produtos para a indústria brasileira visando à sua posterior aplicação clínica. Segundo ela, “o NAL é muito importante e imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa, pois fornece todos os nossos animais, ração, bioteristas e a infraestrutura para o correto funcionamento do biotério dentro da legislação vigente, que informa que a utilização de bichos nas pesquisas experimentais deve estar baseada em três aspectos: científico, ético e legal. O apoio do NAL tem permitido a execução de projetos envolvendo modelos animais com mais qualidade, controle e segurança com foco em seu bem-estar e na qualidade dos resultados obtidos”.

A ex-coordenadora do NAL enfatiza que, no espaço, são mantidos e produzidos ratos e camundongos com diferentes padrões genéticos, utilizando metodologias específicas para preservar a integridade genética das linhagens. “Diariamente, é mantida uma rotina de cuidados com os animais, com o propósito de preservar a sua saúde e bem-estar e, consequentemente, os resultados experimentais das pesquisas realizadas na UFF. Nos últimos anos, o NAL implantou o manejo humanizado constituído de técnicas não aversivas para o manuseio dos ratos e camundongos de laboratório, e o enriquecimento ambiental. Dessa forma, respeitamos o princípio dos 3Rs (do inglês, Reduction, Refined and Replacement), e as cinco liberdades (livres de fome e de sede; livres de desconforto; livres de dores, lesões e doenças; livres de medo e sofrimento; e com liberdade para poderem expressar os comportamentos naturais da sua espécie)”.

Para a implementação de todo esse manejo humanizado descrito pela professora foi fundamental a instalação, em 2002, do Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA), que posteriormente recebeu uma nova denominação “Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA)”. A criação da CEUA foi indispensável para o licenciamento da UFF junto ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), órgão integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações que regula a utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica. Maria Lúcia explica que “cabe ao CEUA o exame prévio dos projetos de pesquisa e ensino a serem realizados na UFF, para determinar sua compatibilidade com a legislação e zelar para ocorrerem nos princípios éticos estabelecidos pelas normas em vigor”.

É também baseado nas diretrizes do CONCEA, que publicou recentemente duas resoluções normativas reconhecendo 24 métodos alternativos, que são realizadas adaptações e melhoramentos na estrutura de funcionamento do Núcleo, conforme sinaliza o atual coordenador do NAL, o médico veterinário Renato Abboud: “trabalhamos no sentido de implementar esses métodos e banir o uso de animais em experimentos nos quais eles possam ser substituídos. Contudo, é importante ressaltar que nenhum método alternativo sozinho ainda é capaz de substituir o uso de animais, pois existe uma complexa resposta fisiológica que só ocorre em um organismo vivo (in vivo)”, enfatiza.

Além disso, todos os projetos de que o NAL participa referentes à infraestrutura dos biotérios, entre os quais está o de instalação do novo biotério central, têm por finalidade fornecer roedores com padrão sanitário e genético definido, mantidos em condições adequadas, garantindo o seu bem-estar. De acordo com o coordenador do NAL, “o novo biotério central atenderá aos pesquisadores da UFF e de instituições de pesquisa de todo o estado do Rio de Janeiro, através do fornecimento de animais de laboratório de qualidade e salas de experimentação com estrutura de primeiro mundo”. Segundo Maria Lúcia, todos esses cuidados “contribuem para o desenvolvimento de uma pesquisa mais ética e humana, com garantia da reprodutibilidade dos dados obtidos nos experimentos, atribuindo qualidade e credibilidade às pesquisas realizadas na UFF”.

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