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Huap cria Caixa de Memórias para familiares de pacientes que faleceram por coronavírus

A ideia é entregar os pertences de forma mais afetiva àqueles que perderam parentes

A Covid-19 já tirou a vida de muitas pessoas. Pensando na dor dos familiares, a Ação de Humanização para Enfrentamento da Pandemia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap) criou um projeto para fazer com que a entrega dos pertences de pacientes que faleceram pela doença seja um pouco mais afetiva e humanizada. A partir desta semana, os parentes irão receber a Caixa de Memórias, acompanhada de flores e um cartão com mensagem de apoio e contatos para ajuda psicológica neste momento tão difícil.

– A Caixa de Memórias surgiu com o intuito de transformarmos a experiência dos familiares de pegar os pertences “contaminados” dos pacientes que faleceram em algo mais carinhoso e de cuidado. As boas lembranças permanecerão para sempre, a morte não encerra esse vínculo. Essa é uma forma de ajudá-lo a começar a elaborar seu luto, um processo tão singular a cada um. Assim, pretendemos também mitigar o impacto à saúde mental das pessoas por conta da pandemia -, explica Thábata Luiz, psiquiatra do Huap e uma das idealizadoras.

Antes, os familiares levavam os pertences em um saco, que ficava por três dias de quarentena, devido ao risco de contaminação. Agora, a entrega é feita na Caixa de Memórias, lembrando ao parente que a vida daquele paciente foi compartilhada, e ele esteve presente em vários momentos dela. É importante não se reduzir ao momento da morte, mas sim pensar em toda a história e biografia. As caixas são confeccionadas por Thábata e pelas psicólogas Tânia Ventura e Virgínia Dresch. O projeto conta com a colaboração da ACHUAP (Associação dos Colaboradores do Hospital Universitário Antônio Pedro).

A ideia surgiu depois que a psiquiatra ouviu do chefe do CTI de Covid-19, Túlio Possati de Souza, que ele havia ficado muito comovido após o falecimento de uma paciente, quando seus pertences foram entregues à família em um saco plástico. Agora, com a Caixa de Memórias, fica mais afetuoso. Lembrando que a caixa não estará contaminada, pois não entra no CTI, nem tem contato com pacientes infectados por coronavírus. Para Túlio, a pandemia interfere diretamente na relação médico-paciente, tornando ainda mais importante a ação humanizada:

– A pandemia por Covid-19 está sendo desafiadora em diversos aspectos. O momento da entrega dos pertences dos pacientes que evoluem para óbito tem sido tenso e difícil. Os objetos eram entregues nos sacos e os familiares orientados a respeitarem um tempo de quarentena específico (três dias) em domicílio, antes de ter acesso ao conteúdo. A iniciativa de confecção da Caixa de Memórias ajuda a ressignificar esse momento que tem sido tão complicado não somente para os familiares, mas também para os profissionais (e o sistema de saúde).

Visitas virtuais a pacientes no CTI também serão iniciadas esta semana no Huap

Um outro projeto que também saiu do papel e começará a ser aplicado esta semana é a visita virtual a pacientes do CTI do Huap internados com coronavírus. A ideia é que, através de um tablet, eles possam entrar em contato com os familiares, já que o ambiente de Covid-19 é de alta contaminação, inviabilizando presença física. Segundo Thábata, o objetivo é minimizar estressores adicionais, como afastamento familiar e impossibilidade de despedida. Assim, contribui-se para a prevenção de transtornos mentais, como luto complicado e estresse pós traumático:

– A média de permanência das internações de pacientes com coronavírus varia bastante, e envolve isolamento deles e seus familiares. Muitos ficarão sem contato e em solidão, já que mantê-los com seus celulares nem sempre é uma opção viável. Por outro lado, os familiares também vivenciam a angústia pela não interação com seu ente querido. A criação de um fluxo de comunicação voltado a esses pacientes e sua rede de apoio social, através de visitas virtuais, mostra-se como importante recurso para humanização do atendimento e redução do sofrimento.

O médico Túlio acrescenta que a inexistência das visitas prejudica, principalmente, pacientes idosos com potencial de desenvolvimento de delírio e síndrome do confinamento. Além disso, o contato olho no olho e a proximidade física facilitam, inclusive, a comunicação de notícias difíceis e a percepção de entendimento do que está sendo dito. “Ou seja, a elaboração das visitas virtuais através de tablets surge como uma boa alternativa para contornar esse isolamento social imposto pela doença”, ressalta o chefe do CTI.

PsiCOVIDa ajuda profissionais de saúde do Huap

Outro trabalho que já vem sendo realizado no hospital desde abril é o PsiCOVIDa, acolhimento aos profissionais de saúde do Huap na linha de frente do combate à pandemia e que necessitam de suporte psíquico ou emocional. A escuta é oferecida de forma presencial ou online, e, conforme demanda avaliada pela equipe assistente, também aos pacientes internados e seus familiares. O objetivo é levar aos acolhidos a mensagem de que eles não estão sozinhos neste momento. O número de contato com a equipe é (21) 96973-2977. Para mais informações, clique aqui.

– Nós da saúde mental estamos presentes em todos os momentos dessa pandemia com intuito de cuidarmos do sofrimento das pessoas, tanto dos profissionais de saúde, quanto dos familiares e pacientes que vivenciam essas situações tão dolorosas. Com isso, estamos fazendo estas ações para que eles tenham a melhor experiência de dignidade possível dentre deste cenário. O apoio psicológico e psiquiátrico aos profissionais (PsiCOVIDa), a visita virtual dos pacientes em isolamento e a Caixa de Memórias são algumas destas ações -, finaliza a psiquiatra.

Informações da Unidade de Comunicação Social (UCS)

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