O turismo é visto por muitos como uma das possíveis saídas para a crise econômica do país. A atividade é capaz de injetar verba na economia, no setor de transportes e em diversas outras áreas. A cidade do Rio de Janeiro, conhecida como “cidade maravilhosa”, apesar de seus inúmeros atrativos, continua abaixo da sua potencialidade, o que se explica, segundo o professor do Departamento de Turismo e Hotelaria da UFF, Marcello de Barros Tomé Machado, pelos seus altos índices de violência. Pensando nisso, o Departamento de Turismo e Hotelaria da UFF em parceria com o Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (BPTur-PMERJ), criou o Curso Especial de Policiamento em Áreas Turísticas (Cepat), com o objetivo de conscientizar os policiais militares lotados no BPTur sobre o impacto do turismo para a cidade.
“Ninguém deseja viajar para um lugar que oferece risco à sua integridade física e daqueles que o acompanham. E não há como negar que o Rio é conhecido internacionalmente como uma cidade que oferece riscos significativos relativos à violência urbana. Por isso, ampliar a segurança é fundamental para o desenvolvimento do turismo, não só na nossa cidade, mas também em todo o Brasil. Evidentemente, a violência não é só uma questão policial. Existem diversos fatores envolvidos, mas uma polícia estruturada, com equipamentos adequados, treinamento, etc., realiza ações mais precisas e seguras”, afirma Tomé.
Embora o processo de seleção para o curso priorize inscrições dos policiais do BPTur, Marcello ressalta que todos os agentes de segurança que atuam no Rio de Janeiro podem se inscrever. “Nós já tivemos policiais do Bope, de UPPs, e de outros batalhões também. Além dos policiais militares, temos vagas para a Guarda Municipal, que sempre participou ativamente em todas edições, e temos vagas para a Polícia Civil também”.
“O contato com esses saberes gera uma transformação na interação desse policial com a sociedade”, Marcello Tomé.
Em 2011, o então Comandante do BPTur, o Tenente-Coronel Cláudio Costa de Oliveira, procurou a UFF em busca de contribuições para a criação do Cepat. Mesmo depois da troca de comando, o Tenente-Coronel Joseli Cândido da Silva deu prosseguimento às tratativas de criação do curso. “Quando finalmente conseguimos abrir a primeira turma em 2012, a UFF ficou responsável por algumas disciplinas como: Fundamentos do Turismo, Marketing Turístico, Hospitalidade, Negociação e Conflitos em Turismo, Geografia e História do Rio de Janeiro e Língua Estrangeira”, explica Marcello. Parte das disciplinas são ministradas por professores da Secretaria de Segurança Pública, principalmente da PMERJ. Os docentes civis são da Faculdade de Turismo e Hotelaria da UFF.
O professor afirma que as aulas são realizadas nos mais variados lugares: “Algumas edições foram no próprio BPTur, outras no Parque do Cantagalo, tivemos hotéis em Copacabana que cederam espaço para as atividades e já aconteceu aqui na universidade, no Campus Gragoatá”. Normalmente, a abertura do curso é feita com uma palestra inaugural, onde um especialista é convidado a falar sobre questões relacionadas ao tema Turismo e Segurança. Marcello destaca a troca de experiências proporcionada pela iniciativa. “Uma dessas palestras já aconteceu na UFF e é uma interação interessante. Muitos desses policiais são jovens e alguns até estão cursando faculdade. No entanto, uma parte significativa não tem proximidade com esse ambiente. Para muitos, foi o primeiro contato com essa atmosfera acadêmica, muito própria e diferente”.
Além de aulas e palestras, os alunos do Cepat também participam de trabalhos de campo, que já ocorreram no centro do Rio de Janeiro e em cidades do interior, como Petrópolis e Itatiaia, proporcionando maior conhecimento sobre a geografia e a história de diversos municípios do estado. Após a conclusão do curso, que dura dois meses com aulas todos os dias de manhã e de tarde, os policiais participam de uma espécie de estágio, que garante a efetividade da formação. A primeira turma teve como estágio a Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20, em 2012.
Para Marcello, é importante que o aluno esteja preparado para fornecer informações que propiciem uma fruição mais segura e de maior qualidade para o turista: “É natural que o agente de segurança represente a informação segura e precisa, por isso o policial precisa conhecer a história da cidade, a localização dos atrativos turísticos. E também é necessário que esteja consciente sobre a vulnerabilidade do turista, que desconhece as rotinas particulares da cidade e pode se submeter a riscos desnecessários”.
O curso também proporciona ao agente, enquanto indivíduo, uma formação diferenciada. “Ele adquire uma noção melhor de língua estrangeira, do fenômeno turístico e suas relações com a esfera econômica, social, ecológica, cultural e política. Também passa a conhecer mais da história e da geografia do Rio de Janeiro, a importância de se mostrar acolhedor através da hospitalidade. O contato com esses saberes gera uma transformação na interação desse policial com a sociedade, seja com os turistas ou não”, afirma o professor.
Esse contato também vem sendo positivo para a UFF: “No ambiente universitário, pode existir uma impressão negativa do policial militar. Essa convivência acaba desmontando preconceitos, o que gera uma quebra de paradigmas”, observa Marcello. O projeto contempla os três pilares da universidade – ensino, pesquisa, extensão: “Nós estamos, obviamente, auxiliando na formação desses agentes; alguns resultados do Cepat viabilizam pesquisas, seja na área da segurança ou hospitalidade; e a demanda para a criação do curso partiu da Polícia Militar, então temos a universidade ultrapassando os seus muros, atendendo os anseios da sociedade”, conclui.