Faltando dois meses para o fim do ano, a UFF, através da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Inovação (Proppi) anunciou a abertura de mais quatro novos programas de doutorado na universidade. Trata-se dos cursos de Sociologia, Mídia e Cotidiano, Filosofia e Ciências, Tecnologias e Inclusão. A notícia foi divulgada após a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) avaliar os respectivos programas de mestrado com nota 4, condição necessária para a solicitação de abertura para doutorado.
De acordo com a coordenadora da Pós-Graduação, Andrea Latge, os programas demonstraram um grau de amadurecimento e fortalecimento para alcançar essa nota, que pode chegar até 7. Os critérios de avaliação da Capes, segundo ela, levam em conta a necessidade de os docentes provarem estar formando mestres competitivos, de gerarem boas dissertações e trabalhos publicados e assumirem a responsabilidade de conferir títulos de doutor.
Muitos são os fatores que, segundo o coordenador da Pós-Graduação em Sociologia da UFF, Cristiano Monteiro, foram decisivos na aprovação do curso, que foi um dos contemplados com o doutorado, apesar dos cortes públicos em educação e pesquisa nos últimos anos. Este projeto, destacou ele, “se beneficiou muito dos grandes investimentos feitos em anos anteriores na universidade pública, com financiamento à pesquisa e bolsas de graduação e pós-graduação, que permitiram a consolidação de um corpo docente bastante produtivo e a formação de discentes com perfil diversificado sob todos os pontos de vista, o que consideramos um dos nossos maiores ativos”.
Para o professor, “os investimentos foram muito bem aproveitados, proporcionando infraestrutura excelente para o trabalho desenvolvido”. Cristiano também apontou outros fatores que culminaram nessas conquistas por parte do programa que coordena, como, por exemplo, “o investimento de professores, alunos e equipe técnica na construção de um projeto coletivo em que se busca a excelência acadêmica aliada ao compromisso com inclusão, respeito à diversidade e à promoção do desenvolvimento socioeconômico do estado do Rio de Janeiro e do Brasil”.
Ponto em comum entre os coordenadores das pós-graduações em destaque, o engajamento de todos foi destacado como essencial na construção desse cenário, como assinalado também pela coordenadora da Pós-graduação em Mídia e Cotidiano, Denise Tavares. Para ela, “a especificidade dessa pós-graduação na área de Comunicação foi, de fato, assumida e valorizada por todo o corpo docente e discente desde a primeira turma e sempre em um processo crescente”.
A ciência foi um dos eixos de mudança e de reconquista do espírito livre que nos move”, Denise Tavares.
Denise mencionou outros fatores responsáveis pelas conquistas de seu programa, como a participação na Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, a Compós, espaço onde pôde compartilhar e discutir com colegas os caminhos fundamentais para a qualificação do curso. Por fim, ela ressaltou o apoio e trabalho da Proppi ao longo de todo esse processo, aspecto também apontado por Cristiano.
Apesar do entusiasmo com que a notícia foi recebida, no último mês, por alunos e professores das pós-graduações e pelas pessoas ligadas à pesquisa na universidade, para Cristiano, “essa conquista é, na verdade, um desafio sob vários pontos de vista”. Até o momento, destaca ele, “fomos bem-sucedidos em mostrar nossa especificidade, em um contexto em que a sinalização tem sido no sentido de limitar a expansão da universidade pública e dos investimentos em pesquisa. Aliado a isso, temos um clima de desconfiança em relação às instituições de ensino superior e aos valores que ela representa, de diversidade de ideias e opções políticas, sendo esta uma das suas marcas distintivas”.
O coordenador explica que “a Sociologia se dedica justamente a interpretar esta diversidade de valores e visões de mundo, inclusive o que torna ela possível, cumprindo um importante papel na construção de uma sociedade democrática”. Nesse sentido, enxerga “a oportunidade de transformar este contexto em um rico laboratório para colocar em prática nossas ferramentas de trabalho, no que a criação do doutorado em Sociologia será um enorme incentivo”.
Segundo Denise Tavares, o cenário não é muito diferente: “eu adoraria só comemorar porque conquistar um doutorado logo após a primeira avaliação não é algo simples, mas o momento atual é imprevisível no que diz respeito às pós-graduações de universidades públicas brasileiras”. Independentemente disso, destaca ela, “gosto de olhar a história da ciência brasileira e lembrar como conseguimos, tantas vezes, superar as montanhas gigantes colocadas à nossa frente”.
Para a UFF, emenda a coordenadora, “poder contar com mais um doutorado em uma área estruturante da sociedade atual, como a Comunicação, só confirma a vocação da instituição como uma universidade que alia ensino de qualidade à produção de conhecimento científico, algo que é essencial para a sobrevivência humana neste planeta que já destruímos tanto. Enfim, se o contexto não é animador neste momento, como cientista da área das humanas sei que as ‘invenções’ do homem nunca são definitivas. Tenho certeza de que, assim como em outros períodos, a ciência foi um dos eixos de mudança e de reconquista do espírito livre que nos move. O tempo e a luta da comunidade científica farão a história girar novamente”.