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UFF assume protagonismo em ações de acessibilidade com o Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão

Data de 11 de maio de 2016 a Portaria Normativa do Ministério da Educação que destinou algumas vagas nos programas de pós-graduação do país para pessoas com deficiência. Antes disso, em 2013, a UFF já inaugurava seu Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão (CMPDI), com uma proposta de vanguarda: fazer ciência não somente para a pessoa com deficiência, mas junto com ela. Em outros termos, “fazer com que a pessoa com deficiência não fosse vista simplesmente como ‘objeto de estudo’, mas como pesquisadora”, explica a professora Ediclea Mascarenhas. Hoje, com pouco mais de cinco anos, o programa é reconhecido dentro e fora do país e acaba de alcançar um marco importante, com a conclusão de sua 170ª dissertação.

Desde o momento em que o CMPDI foi inaugurado, estudantes com deficiência ocupam as salas de aula do mestrado, como surdos, deficientes físicos, autistas e cegos. “Há algum tempo atrás só tínhamos em nosso estado uma pessoa surda com mestrado”, destaca a professora. Hoje, segundo ela, o CMPDI já formou aproximadamente trinta mestres surdos: “temos estudantes egressos trabalhando em universidades públicas do Rio de Janeiro, na Amazônia e no Recôncavo Baiano. Alunos com autismo que passaram pelo CMPDI e já concluíram doutorado, alunos com deficiência visual e também física”.

(…) É necessário continuar acreditando que apenas o conhecimento é capaz de neutralizar esse medo do diferente”, Diana Cavalcanti.

Agora o programa se prepara para mais uma conquista. Segundo Ediclea, “é chegada a hora de receber os primeiros jovens com deficiência intelectual. Essa tem sido uma tendência mundial: pessoas com deficiência cada vez chegam mais ao ensino superior, são microempreendedores. Na Espanha, temos uma vereadora com Síndrome de Down. No Brasil e em outros países, já temos pessoas com Síndrome de Down que concluíram o ensino superior”.

Um exemplo é Flávia Carvalho, recém-graduada em Pedagogia – a primeira pessoa com Síndrome de Down a concluir o ensino superior no estado do Rio de Janeiro. A pedagoga, que já pensa em participar da seleção de mestrado do CMPDI, teve seu primeiro contato com o programa há alguns anos, através de Ediclea: “conheci sua história quando, em 2016, participei como palestrante do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, na Universidade de Barra Mansa. Neste dia, soube que uma aluna com Síndrome de Down cursava Licenciatura em Pedagogia, o que me deixou muito feliz”, comemora.

O encontro foi tão mobilizador que, em 2017, na ocasião do I Simpósio de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento Humano do CMPDI, a professora chamou Flávia para participar de uma mesa redonda. Segundo a docente, o evento foi um sucesso absoluto: “neste dia, a convidei para ingressar no meu grupo de pesquisa e se preparar para o mestrado assim que terminasse a faculdade, o que a deixou extremamente entusiasmada”, ressalta Ediclea.

“Recebi o convite e fiquei muito contente. Falei pra todo mundo. Em minha opinião, é muito importante dar oportunidade a pessoas com Síndrome de Down como eu e também a outros com deficiência, e também para dar continuidade aos estudos”, enfatiza Flávia. Segundo ela, os planos agora são de continuar a estudar, fazer mestrado e “não parar”. Além disso, ela quer investir no trabalho com educação infantil, seu sonho desde pequena.

Às portas do mestrado, a pedagoga tem hoje muitos motivos para comemorar, mas chegar até aí demandou um grande esforço de sua parte e também de sua família, que sempre esbarrou nas limitações do sistema educacional no acolhimento de pessoas com Síndrome de Down. O primeiro desafio, de acordo com ela, foi entrar na faculdade: “se não fosse a minha mãe ir lá e conversar, eu não teria entrado”, destaca.

Além disso, segundo ela, “foi difícil a aceitação por parte de alguns professores. Penso que nunca tiveram uma aluna com a síndrome e não sabiam como trabalhar. Era diferente e isso assusta, eu acho. Mas felizmente eram poucos. No começo, fiquei muito ansiosa, porque era tudo novo, mas fui me adaptando, estudando muito e cheguei ao último período que, para mim, foi o mais marcante. Gabaritei a prova de Estatística sem ela ser adaptada. A professora acreditou que eu era capaz de realizá-la igual a todos os meus colegas. Essa foi uma grande conquista para mim. Sou muito capaz”.

Pioneiro no Brasil e com uma proposta ousada, fazendo jus ao protagonismo alcançado pela UFF no que diz respeito à acessibilidade, o CMPDI foi concebido também como uma resposta à problemática apresentada por Flávia. De acordo com a coordenadora do mestrado, Diana Cavalcanti, “no curso, propomos um embasamento teórico-prático para que recursos humanos sejam capacitados para atuar na área. Além de buscar soluções para garantir igualdade de condições para o acesso e permanência dos profissionais que tenham interesse em se aprimorar em suas respectivas formações”.

“Nos tempos atuais, em que episódios de intolerância e preconceito têm sido frequentes, é necessário continuar acreditando que apenas o conhecimento é capaz de neutralizar esse medo do diferente. Ao ter que conviver com alguém com deficiência, por exemplo, a reação das pessoas é o medo de não saber o que fazer. A busca de conhecimento é a vacina contra isso”, enfatiza Diana.

Na contramão de toda a sorte de preconceitos, e de braços dados com o ideal de sociedade que a universidade pública deseja poder construir, Flávia, com postura firme e esbanjando alegria, brada a quem quiser ouvir: “quero ser exemplo para todos aqueles que achavam impossível uma pessoa com Síndrome de Down estar na faculdade. Tudo bem ter medo, porque todo esse processo é difícil, mas é também possível. Se eu consegui, muitos outros também podem conseguir”.

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