Quando se pensa em impressão no dia a dia, uma das que primeiramente vêm à mente é a multifuncional, bastante comum no mercado, que realiza a xerox de documentos usuais em papel. Entretanto, há um tipo que vem sendo popularizado e que, apesar de ainda pouco conhecido, tem se tornado cada vez mais relevante no meio científico: a impressão 3D. Utilizando filamentos de plástico, que são aquecidos e depois resfriados durante a criação de estruturas pré-renderizadas em um computador, ela pode ser usada para criar partes de objetos e até estruturas inteiras, a exemplo de maquetes.
Avanços tecnológicos como esses têm revolucionado a forma como aprendemos e ensinamos em diversas áreas do conhecimento, e a Medicina Veterinária não fica de fora dessa transformação. Uma pesquisa, liderada pelo professor de Medicina Veterinária na Universidade Federal Fluminense (UFF) Yuri Karaccas de Carvalho (exercício provisório), tem como objetivo modernizar os métodos de ensino para futuros médicos veterinários. Há doze anos, o professor iniciou essa jornada de inovação na Universidade Federal do Acre (UFAC) e, há menos de dois anos, tem continuado seu trabalho na UFF.
O foco é a utilização de modelos tridimensionais, criados por impressoras 3D, de órgãos e estruturas do corpo animal. Com eles, o docente visa proporcionar uma experiência diferenciada, unindo a aprendizagem visual e tátil. Yuri destaca a importância dessa abordagem: “Existem várias formas de aprendizagem. Pode ser com o aluno ouvindo, lendo, escrevendo… E uma maneira de estudar que me marca bastante é a sinestésica, na qual você toca o objeto. O fato de você poder tocar e visualizar, integrar os sentidos, faz com que a junção dessas experiências melhore seu aprendizado”, afirma.
Com isso, o professor identificou a necessidade de proporcionar uma experiência mais rica e interativa para seus alunos. Ele explica que “tinha que fornecer algo diferente da aula expositiva e dialogada, e o material que tinha em mãos não atendeu à demanda da sala. Com a impressora 3D, comecei fazendo modelos de coração, rins e depois objetos mais complexas”. Atualmente, ele supervisiona alunos de doutorado e mestrado, todos envolvidos em projetos que exploram o potencial da impressão 3D na aprendizagem, através da qual os estudantes podem avaliar o ensino e são avaliados através de testes de conhecimento. Segundo Yuri, aplicar esse novo método foi “uma quebra de paradigma muito grande, no sentido de poder demonstrar que esse tipo de tecnologia não é restrita à área de exatas, e poderia ajudar na educação da Medicina Veterinária”.
Modelo 3D de anestesia / Professor Yuri Karaccas
As pesquisas orientadas pelo professor acerca da validade do uso de modelos 3D na área pedagógica já apresentam resultados. Há uma pesquisa, realizada em 2019, sobre treinamento da técnica de anestesia epidural em cães. Os estudantes foram divididos em dois grupos: um que apenas assistiu a uma videoaula e usou sem conhecimentos adquiridos ao longo da disciplina e outro que treinou com o modelo 3D, além dos conhecimentos adquiridos em sala de aula. Posteriormente, os alunos realizaram a anestesia em cães sob supervisão. Quando os cães não responderam a estímulos dolorosos, o bloqueio local foi considerado bem-sucedido. Em seguida, todos os discentes responderam a um questionário sobre as dificuldades que enfrentaram na técnica, e os resultados mostraram que o grupo que usou o modelo 3D teve menos dificuldade em realizar o procedimento em comparação com o grupo que apenas assistiu ao vídeo. O modelo ajudou os estudantes a entenderem a anatomia da região lombosacra dos cães, a compreenderem a profundidade ideal de posicionamento da agulha durante o procedimento.
As pesquisas são diversas, e todas apontam para um resultado em comum: a aula sinestésica, na qual o aluno tem a possibilidade de lidar tridimensionalmente com réplicas de modelos, é mais proveitosa para o aprendizado. Vale lembrar que o projeto, em fase de implantação e aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) este ano, não tem o objetivo de substituir a vivência com animais reais. No curso, a prática clínica é fundamental, e os modelos complementam o treinamento prático, principalmente pela maior facilidade no manuseio e aquisição. “A vivência e o treinamento são intrínsecos a essa profissão. Sem a prática, esse profissional é formado com um déficit, o que impacta diretamente na aquisição de competências e habilidades inerentes à futura profissão”, finaliza.
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Yuri Karaccas de Carvalho é docente da graduação da Universidade Federal Fluminense (Exercício Provisório) e pós-graduação da Universidade Federal do Acre. Coordenador do Comitê de Ética no Uso de Animais (2012-2014). Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999-2003) e licenciatura em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Claretiano (2009-2011), residência em Anestesiologia Veterinária UNESP/Botucatu (2004-2006), especialização em Anestesiologia Veterinária (2005-2006), mestrado em Anestesiologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu (2006-2008), doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP (2008-2012) e pós-doutorado em Ensino de Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Ohio (Estados Unidos).