Notícia

Pós-Graduação da UFF leva ciência da universidade às escolas de Niterói

O Programa de Pós-graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas do Instituto Biomédico (PPGMPA) da UFF desenvolve a linha de pesquisa sobre paleoparasitologia, uma ciência pouco conhecida pela população, mas que possui grande potencial de despertar vocações científicas, inclusive na infância. Com o intuito de levar esse e outros tópicos às escolas, a professora do Instituto Biomédico e coordenadora do projeto de extensão “Paleoparasitologia para todos”, Daniela Leles, propõe a integração de alunos da educação infantil e dos ensinos fundamental e médio através de oficinas de divulgação científica.

Segundo a professora, o objetivo dessa iniciativa é aproximar as escolas do que é produzido nas instituições de pesquisa, despertando vocações científicas. A primeira oficina foi oferecida no final de 2016 na Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Rosalda Paim. A pedagoga da unidade, Lilian Simões Garcia, e Daniela decidiram adequar as atividades para a faixa etária de cinco anos. Neste primeiro semestre de 2017, a oficina foi oferecida também para a Umei Maria Vitória Ayres Neves.

A expectativa é expandir a atividade a outras escolas da rede pública de Niterói. “Até o momento, 60 alunos participaram da oficina. Com o projeto de extensão aprovado e com a chegada de novos integrantes, pretendemos ampliar esse número. No segundo semestre de 2017, a oficina será oferecida para o ensino médio e para, pelo menos, três unidades de educação infantil já acordadas com a secretaria de educação de Niterói. Nossa perspectiva é atender uma escola por mês nos próximos anos”, explica Daniela.

O interesse de Daniela em divulgar a ciência para o público infantil surgiu quando ela conheceu a estudante de biologia, Fernanda Guimarães – coautora do livro – e se interessou pela paleoparasitologia e faz o seu trabalho de conclusão de curso sobre o tema. A irmã de Fernanda, Leila Guimarães, graduanda em arquitetura pela UFRJ, também colabora no projeto de extensão como voluntária. A docente escreveu uma história para apresentar a paleoparasitologia às crianças, que deu origem ao livro “A vida dos nossos tá-tá-tá… tataravós”, com coautoria de Fernanda e ilustrações de Leila. A obra está disponível para download gratuito no site do Repositório Institucional da UFF (Riuff). Uma cartilha com atividades e jogos utilizados nas oficinas também foi produzida pela equipe.

Atualmente, o projeto de extensão sobre paleoparasitologia conta com colaboradores da UFF e de fora da universidade, além de um aluno bolsista de ensino médio, Bruno César Bernardes. “Temos grande expectativa com a chegada do Bruno, porque, além da sua participação na oficina para as crianças, ele poderá nos trazer contribuições valiosas com o projeto que pretendemos realizar no ensino médio. Com o crescimento da ideia e oferecimento para outras faixas etárias, alunos que queiram participar do projeto serão bem-vindos também”, relata Daniela.

Abaixo, a professora fala um pouco mais sobre o projeto:

O que é estudado na linha de pesquisa sobre Paleoparasitologia do Programa de Pós-graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas da UFF (PPGMPA-UFF)?

O programa PPGMPA-UFF para o mestrado e doutorado conta hoje com cinco áreas de pesquisa principais: bacteriologia, virologia, micologia, parasitologia e paleoparasitologia. A paleoparasitologia estuda os parasitas em material antigo datado de milhares de anos ou de períodos mais recentes. Usamos como fonte de estudo materiais arqueológicos e paleontológicos, como, por exemplo, coprólitos, que são fezes antigas, múmias, ossos dos nossos ancestrais humanos e de animais, até mesmo aqueles extintos, como os dinossauros. Normalmente, esses materiais ficam depositados em coleções com as quais mantemos contato, como a parceria com os pesquisadores da Fiocruz, de onde surgiu essa linha de pesquisa em nosso país. Existem vários métodos diagnósticos capazes de identificar quais são as parasitoses que circulavam no passado, onde surgiram e como se dispersaram pelo mundo, sendo que grande parte dos parasitos e microorganismos já identificados ainda estão presentes nos dias atuais e ainda causam agravos à saúde humana e animal. Com pouco material já é possível fazer os estudos, minimizando os danos à peça ou às coleções.

Como e quando surgiu a ideia de integrar a linha de pesquisa sobre paleoparasitologia à oportunidade de desenvolver atividades com crianças?

Inicialmente, esse projeto começou como uma contrapartida de uma bolsa “Jovem Cientista” que possuo até o final de 2018 e é financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Assim, quando submeti o projeto para a Faperj em 2015, eu já vinha amadurecendo a ideia de oferecer oficinas para divulgação científica nas escolas, foi quando conheci a Fernanda Guimarães, que se interessou pela linha de pesquisa e pelas ideias prévias que eu tinha para a realização das atividades. Na época, eu havia escrito uma história infantil para ser usada como fio condutor para apresentar a paleoparasitologia às crianças, e, para minha surpresa, ela disse que sua irmã, Leila Guimarães, poderia ilustrar a história. Foi quando surgiu a ideia de, além de contar a história com as ilustrações que a Leila havia feito, escrever o livro e publicá-lo. Mas, para nós, era fundamental que o livro pudesse ser de acesso aberto, pois sabíamos que não teríamos livros suficientes para serem doados para todas as crianças. O projeto cresceu e, além do livro de história, fizemos também um livro “passatempo”, com atividades sobre a paleoparasitologia com a coautoria da Fernanda Guimarães, que funciona também como um elemento catalisador da imaginação das crianças, e que elas podem levar para fazer em casa, e trocar informações com os pais, amigos e familiares.

Conte-nos mais sobre a metodologia usada nas oficinas.

A oficina para as crianças tem início com a história “A vida dos nossos tá-tá-tá…tataravós”, onde trabalhamos os elementos para compreensão da paleoparasitologia. Contamos uma história que envolve o “cocô muito muito antigo”, que é o coprólito, o arqueólogo, o paleoparasitologista, o “paleoíndio”, um indiozinho criança, e os animais extintos. Depois disso, as crianças passam por um circuito de atividades, com jogo da memória e quebra-cabeça, que reforçam o que acabaram de ouvir. Como duas atividades principais, temos a miniescavação, em que as crianças têm a oportunidade de “descobrir” os coprólitos, os ossos e também a entrada em um ambiente escuro com uma lanterna. A ideia é mimetizar uma caverna, elas iluminam e vêem as pinturas rupestres nas paredes. No final, elas recebem dois livros, o da história contada no início da oficina e o de atividades, intitulado “Quem estuda as doenças dos nossos tá-tá-tá…tataravós?”.

A metodologia usada será a mesma em todos os segmentos da educação básica, como educação infantil, ensino fundamental e médio? Se não, explique a diferença.

A metodologia não será mesma para todos os segmentos. Para o ensino médio, faremos uma apresentação inicial com as principais descobertas na área e depois acontecerá um jogo interativo com a turma, o “PaleoQuiz”, que, em médio prazo, gostaríamos que se transformasse em um aplicativo para celular, também para ser baixado gratuitamente. Para a atividade para o Fundamental II, já elaboramos algumas ideias, em que pretendemos integrar melhor a parte da pesquisa com a divulgação desses resultados.

Como avalia os resultados obtidos nas oficinas?

Os resultados são avaliados tanto pelas conversas que temos com os profissionais das escolas, como entre nós que fomos até a escola oferecer a oficina. Mas, em uma delas, tivemos a oportunidade de pedir para as crianças fazerem desenhos sobre a oficina, onde foi possível perceber que ao menos naquele momento elas conseguiram expressar o que tinham acabado de vivenciar, foi muito recorrente o coprólito e a caverna, que faziam parte das atividades mais interativas, além dos personagens da história.

Como as crianças recebem a oficina? Qual a reação delas?

A primeira reação ao “cocô muito muito antigo” é o “eca!” mas depois que a história vai sendo contada, todos eles querem ser o arqueólogo e entram na imaginação da história. Se tem um assunto que desperta o interesse das crianças é o espaço ou os Dinossauros e eu logo digo “Olha, o dinossauro também fazia cocô, você sabia? Dá para saber o que ele comia, quais doenças tinha, e um montão de outras coisas que vocês nem imaginam!”. É divertido, porque as crianças são muito genuínas. Tenho a impressão de que algumas dessas crianças serão meus colegas de profissão, espero que eu esteja trabalhando na área até lá. Acho que temos vários arqueólogos, paleontólogos e paleoparasitologistas por aí. Nós, pesquisadores, que precisamos dedicar grande parte do nosso tempo lendo, escrevendo, trabalhando em experimentos e em uma vida tão corrida, percebemos que essas experiências fazem com que retomemos a aqueles momentos especiais da infância que nos fizeram optar por nossa profissão e reavivam aqueles bons sentimentos.

Caso alguma escola tenha interesse em receber a oficina, basta enviar e-mail para: dleles@id.uff.br.

Pular para o conteúdo