O fenômeno do assoreamento de rios e lagoas, que leva ao acúmulo de lixo, matéria orgânica e outros sedimentos em seu interior, vem se tornando cada vez mais frequente no Brasil e também no mundo em razão das contínuas ações humanas de degradação ambiental. Na contramão dessa tendência, a Universidade Federal Fluminense vem desenvolvendo uma série de tecnologias e iniciativas para conter e reverter o avanço progressivo desses danos. Um dos projetos mais bem estruturados nessa direção se chama Lagoa Viva, que, dentre muitas das suas atividades, elabora metodologias e identifica micro-organismos capazes de degradar microplásticos em corpos hídricos.
O projeto é uma parceria entre a UFF e a Companhia de Desenvolvimento de Maricá – CODEMAR por meio da Biotec (subsidiária da companhia), e consiste na instalação de bases para a aplicação de tecnologia ambiental com diversos laboratórios e soluções ambientais em Maricá, localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro. Dentre seus principais objetivos estão o desenvolvimento de métodos de baixo custo para a revitalização e saneamento ambiental, colocando o município na vanguarda da saúde ambiental. Além disso, cursos de aperfeiçoamento e difusão de informações vinculadas ao tema ambiental vêm sendo ministrados com o apoio de pesquisadores nacionais e internacionais, para a população local nos seus diversos grupos.
O reitor da UFF, professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, destaca que o Projeto Lagoa Viva é mais do que uma iniciativa ambiental, é um modelo de como a ciência, a tecnologia e a comunidade podem se unir para resolver desafios urgentes. “Com parcerias, como a que temos com a CODEMAR e a Biotec, estamos não apenas recuperando um ecossistema vital, mas também construindo uma base sólida para pesquisa interdisciplinar e educação ambiental. Este projeto é um catalisador para o desenvolvimento sustentável, e já estamos vendo impactos significativos, tanto na qualidade de vida da população local quanto na biodiversidade da região. O conhecimento gerado aqui tem o potencial de gerar políticas públicas e práticas ambientais em todo o Brasil e além. Agradeço mais uma vez aos nossos parceiros e aos pesquisadores de alto nível”.
Eduardo Britto, presidente da empresa Biotec, aponta que o projeto Lagoa Viva coloca Maricá no que se chama de ‘bioeconomia’. “Nós utilizaremos recursos naturais para construir produtos sustentáveis tanto na agricultura quanto na pesca, e em outros tipos de atividades que estão sendo desenvolvidas no município. O Lagoa Viva tem essa dupla função onde a primeira delas é revitalizar a lagoa e também reconstruir o uso da população, seja através da pesca, que ganhou um aumento maior de peixes por conta da utilização do Bio insumo, ou no bem-estar da vida das pessoas, já que voltaram a utilizar a lagoa como espaço para esportes, entre outros. Maricá se transforma numa cidade não só de oportunidades econômicas que giram em torno da Lagoa, mas de implicações para o turismo, por exemplo. O projeto está alinhado com esse objetivo em reposicionar Maricá em relação ao desenvolvimento de atividades econômicas ambientalmente sustentáveis, mas também como cidade que por meio de seus projetos promove o bem-estar da sua população e daqueles que vem visitá-la”, celebra Britto.
Créditos: Arquivos do projeto
Dentre os sub-projetos que compõem o Lagoa Viva, estão: o Programa de Aperfeiçoamento Técnico e Científico (PATEC), que oferece cursos de aperfeiçoamento voltados para funcionários da rede pública, pescadores, entre outros; o Lagoa Viva, subprograma que busca revitalizar a Lagoa de Araçatiba, em Maricá, através de métodos de biorremediação (técnica utilizada para minimizar os impactos ambientais causados pela poluição por meio de agentes biológicos degradadores) já utilizados com sucesso em diversos ambientes do mundo; Água pura, subprograma que monitora a qualidade da água fornecida por poços em Maricá; o Projeto de Desenvolvimento do Centro de Inovação em Aquicultura de Maricá (CIAMAR), que busca atrair uma nova atividade econômica e social no município através de pesquisas e do estabelecimento da cadeia produtiva do pescado; e a ECOBASES, Plataforma de Educação Ambiental com repositório de conteúdos sobre o tema, o patrimônio natural de Maricá e cursos de formação, atuando com tecnologia de inteligência artificial para identificação de perfis de comportamento ambiental.
De acordo com o coordenador do projeto, o professor da Pós-graduação de Administração da UFF Eduardo Camilo, a iniciativa possui diversos aspectos inovadores e vem contribuindo para o desenvolvimento da região: “por meio do projeto, foi construída a Biofábrica, local onde se concentra a maior parte da pesquisa e ativação dos micro-organismos aplicados na Lagoa, o que antes não existia no município. No mesmo sentido, também foi criado o Biocentro, local de análises complementares à avaliação da qualidade de água da Lagoa e capaz de formar profissionais e instruir toda a comunidade de forma lúdica. Paralelamente, está sendo estruturado o CIAMAR, que será capaz de produzir peixes, camarões, vegetais, rações e desenvolver pesquisas aplicadas à aquicultura e à microbiologia, principalmente. Todos esses pontos possibilitam novas informações ao município, capazes de subsidiar as tomadas de decisão do poder executivo, bem como novos produtos e serviços, contribuindo para o desenvolvimento local”, comemora.
Ainda de acordo com Eduardo Camilo, o projeto Lagoa Viva demonstrou uma série de impactos significativos, tanto para a sociedade em geral, quanto para a universidade envolvida. O professor destaca que a revitalização ambiental da localidade, dentro e no entorno da lagoa, levou a uma melhoria direta na qualidade de vida dos moradores locais: “áreas verdes e ambientes aquáticos saudáveis passaram a oferecer espaços de lazer, relaxamento e atividades ao ar livre para a população. Além disso, lagoas saudáveis contribuem para a redução de doenças transmitidas pela água”. Outro aspecto apontado foi a recuperação da biodiversidade local, incluindo plantas aquáticas, peixes, aves e outras formas de vida aquática, enriquecendo o ecossistema e contribuindo para a educação ambiental da comunidade.
E não para por aí. Segundo o professor, a universidade ganhou uma oportunidade única para realizar pesquisas interdisciplinares, envolvendo biologia, química, engenharia ambiental e outras disciplinas, o que vem resultando em publicações acadêmicas, apresentações em conferências e avanços científicos. “E os estudantes têm a chance de se envolver diretamente no projeto, adquirindo experiência prática em pesquisa, coleta de dados, análise e implementação de soluções. Isso enriquece a formação acadêmica e prepara os alunos para desafios do mundo real”. Outro destaque é o desenvolvimento de tecnologias e métodos inovadores para a revitalização ambiental da lagoa, gerando novas patentes e transferência de tecnologia. “Em resumo, o Projeto Lagoa Viva não apenas impacta positivamente a qualidade de vida e o meio ambiente local, mas também proporciona oportunidades valiosas para a universidade crescer academicamente, fortalecer laços com a comunidade e contribuir para soluções sustentáveis de longo prazo”, finaliza.
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Eduardo Camilo da Silva é doutor em Administração pelo Instituto COPPEAD da UFRJ e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense, onde vem pesquisando nas áreas de Microestrutura de Mercado e Finanças Comportamentais. Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Militar de Engenharia (1987). Possui experiência como executivo na área financeira de grandes empresas e leciona nas áreas de Finanças, Varejo e Informática em diversas instituições. Também é autor do livro Finanças Comportamentais – Pessoas Inteligentes Também Perdem Dinheiro na Bolsa de Valores, publicado pela editora Atlas em 2008.