Com o objetivo de monitorar a presença e a qualidade de vida das tartarugas marinhas existentes na Baía de Guanabara e adjacências, surgiu em 2009 o Projeto Aruanã. Sediado no Laboratório de Biologia do Nécton e Ecologia Pesqueira (Ecopesca), do Departamento de Biologia Marinha da UFF, em Niterói, procura não só trabalhar diretamente com as tartarugas, mas também conscientizar a população da cidade através da educação ambiental.
Quando começou, em 2003 apenas como um trabalho e em 2009 como um projeto já formado, restringia o seu trabalho à região de Itaipu, em Niterói, RJ. Com o passar dos anos e constatada regularmente a ocorrência de tartarugas marinhas em outras regiões da Baía de Guanabara, percebeu-se a necessidade de ampliação da área de atuação. Dessa forma, em 2012, com a licença do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBio), foi possível aumentar o alcance da operação e incluir todos os municípios da Baía, posteriormente abrangendo também o município de Maricá em 2014.
Em decorrência dessa expansão no direcionamento da atividade, em janeiro de 2012, o que costumava ser conhecido como Projeto de Monitoramento de Tartarugas Marinhas do Ecopesca foi batizado de Aruanã. O termo é de origem tupi-guarani e é outro nome que se dá à tartaruga-verde, comumente encontrada na região.
A equipe é formada por voluntários, biólogos e estudantes da área, e tem como metas principais realizar um levantamento da ocorrência de animais vivos e da sua mortalidade. Visa também conhecer melhor as interações deste animal com o meio ambiente marítimo, com a comunidade pesqueira local e sua atividade.
A partir do Projeto Aruanã, obteve-se o levantamento dos primeiros dados sobre a captura de tartarugas marinhas através da pesca de arrasto de fundo industrial no Brasil. A análise e identificação de todas as espécies capturadas, dos locais de ocorrência e da quantidade de animais envolvidos, coloca em evidência a relação desse animal com o lixo presente na Baía de Guanabara e as doenças que o afetam.
“Estamos pesquisando a interação das tartarugas com o lixo através da investigação do conteúdo gastrointestinal de animais encontrados mortos. Recentemente, começamos a fazer análises de sangue para verificar o estado de saúde e análises genéticas para identificar a quais populações as tartarugas pertencem. Esses e outros estudos são realizados no Ecopesca e em parceria com outros laboratórios da UFF e ONGs”, relata a bióloga marinha e assessora de imprensa do projeto, Larissa Araújo.
Através das exposições, ações e atividades em campo, transmitimos mensagens que despertam a necessidade de preservar o ambiente”, relata Larissa Araújo.
Segundo a bióloga, através do monitoramento a partir de capturas intencionais, o projeto detectou a existência de poucas tartarugas em Itaipu. Foi observado que no local estão presentes sempre os mesmos exemplares da espécie que lá residem e poucos novos animais chegam à região. De acordo com Larissa, este estudo está inserido em uma tese de doutorado e brevemente apresentará mais resultados.
A equipe do Aruanã é formada pelo coordenador geral e professor doutor Cassiano Monteiro-Neto, pela coordenadora técnica e científica e mestre em Biologia Marinha Suzana Machado Guimarães e pelas biólogas Msc Amanda Vidal (coordenadora de Educação Ambiental), Msc Alicia Bertoloto (gestora do banco de dados), Larissa Araújo (assessora de comunicação) e Anna Carolina Moraes (coordenadora de estágio). Sendo um projeto não remunerado e sem nenhum fim lucrativo, Larissa conta sobre o que a motiva a continuar. “Faço o que amo. Se não fosse pelo amor, não só meu, mas de todos do grupo, o trabalho não iria à frente. Encontramos muitas dificuldades no caminho, mas, mesmo assim, aprendemos sempre a seguir em frente e acreditar que uma hora conseguiremos atingir nossos objetivos”.
Apesar de não ter alunos bolsistas, Aruanã aceita estagiários voluntários de faculdades públicas e particulares, escolhidos através de seleções semestrais anunciadas em sua página do Facebook. Utiliza também parcerias com diversas entidades, como relata a assessora de comunicação. “Temos parceiros como o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói, a Secretaria de Meio Ambiente de Maricá, a Associação de Pescadores Tradicionais de Itaipu, a Itaipu Surf Hoe, a SGA Toyota, o Pro-oceano, a Comlurb, a Clin, alguns laboratórios que nos auxiliam e o Cras-Unesa, que recebe os animais que necessitam de reabilitação”.
O seu financiamento é todo feito através da venda de produtos (camisetas, bolsas e adesivos) produzidos pelo grupo e de doações feitas pela população, pelos parceiros e pela própria equipe. A UFF auxilia com o vínculo institucional e o espaço para a sede no laboratório. Além disso, a partir do projeto são desenvolvidas monografias, dissertações e teses no Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha e Ambientes Costeiros.
Outro propósito do Aruanã é a conscientização da população local. Larissa Araújo realça a importância do papel desempenhado pelos participantes. “Através das exposições, ações e atividades em campo que realizamos, as pessoas têm demonstrado interesse em nosso trabalho e, dessa forma, transmitimos mensagens que despertam a necessidade de preservar o ambiente”. O último evento realizado ocorreu no dia 16 de junho, no Campus do Valonguinho, na UFF, comemorando o Dia Internacional das Tartarugas Marinhas.
A temporada de captura intencional das tartarugas marinhas na Praia de Itaipu foi encerrada recentemente no último mês de junho. Para outras informações e divulgação de datas de novos eventos, basta acessar a página do Projeto Aruanã no Facebook.